Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

quinta-feira, dezembro 11, 2008

A solidão e sua porta




















Quando mais nada resistir que valha
a pena de viver e a dor de amar
e quando nada mais interessar
(nem o torpor do sono que se espalha),

quando, pelo desuso da navalha
a barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha

a arquitetar na sombra a despedida
do mundo que te foi contraditório,
lembra-te que afinal te resta a vida

com tudo o que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída:
entrar no acaso e amar o transitório.

***

Dedico esse soneto do Carlos Pena Filho
ao meu filhão Maurício
e ao compadre e poeta Diógenes Afonso.



***

Fonte da imagem:
http://www.treklens.com/gallery/South_America/Brazil/Northeast/Alagoas/photo400329.htm


***

15 comentários:

Paula Barros disse...

Muito bonita a mensagem contida nesse soneto. As vezes a vida nos desafia, e a única saída, é vivê-la. E sei bem como é isso.

Gosto sempre de dizer que no fundo do poço tem uma mola que nos impulsiona para ver a luz.

abraços

Cecília disse...

Nossa... Passei para avisar que já 'invadi' o Sítio d'Olinda e me deparo com esta bela mensagem...
Faço minhas as palavras da Paula!

Ah, espero que goste da postagem lá no Sítio...

Beijos

Jacinta Dantas disse...

Nossa, Eurico. Esse mexe comigo, com minhas emoções. A Vida é maior que a dor de viver - e quando se mergulha na escuridão, a escolha é sempre vir à tona, onde se recebe de novo, A LUZ.
É lindo demais o que você escreve.
Beijos

lula eurico disse...

Jaci, o poema é do Carlos Pena Filho, saudoso poeta recifense. Autor de A Mesma Rosa Amarela, canção que fez sucesso na voz de Maísa.

Rosemeri Sirnes disse...

Gente, vocês me emocionam sinceramente; adoro as passagens por aqui, a poesia correndo solta. Eurico, não importa se de sua autoria ou não, você consegue captar a beleza das palavras. Companheiro poeta, bom ter você por aqui.


Beijos

dácio jaegger disse...

Eurico, acredito que um poeta sabe mais do que ninguém captar a essência da essência lavrada num texto poético. É próprio da irmandade. Naturalmente que o filhão e o compadre estão envaidecidos. Eu estaria. Bom final de semana.Abraços

Vivian disse...

...'entrar no acaso
e amar o transitório'.

taí uma receita para
se viver feliz.

muahhhh, poeta!

Jacinta Dantas disse...

Eurico,
fiquei tão envolvida na sua sensibilidade em postar esses versos...
acabei nem olhando a autoria do poema. Mas, o que importa mesmo é ter um poema tão bonito, que enxerga a alma, escolhido por você. Então, o mérito é seu.
Beijos

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá querido Eurico, maravilhoso Soneto... A mensagem nele contida, tocou o meu coração... Boa Noite,
Beijinhos de carinho e ternura,
Fernandinha

Sueli Maia (Mai) disse...

Amigo, o nosso conterrâneo, Lenine, compôs um música que eu amo.
VIVO

Precário, provisório, perecível;
Falível, transitório, transitivo;
Efêmero, fugaz e passageiro
Eis aqui um vivo, eis aqui um vivo!

Impuro, imperfeito, impermanente;
Incerto, incompleto, inconstante;
Instável, variável, defectivo
Eis aqui um vivo, eis aqui...

E apesar...
Do tráfico, do tráfego equívoco;
Do tóxico, do trânsito nocivo;
Da droga, do indigesto digestivo;
Do cancer vil, do servo e do servil;
Da mente o mal doente coletivo;
Do sangue o mal do soro positivo;
E apesar dessas e outras...
O vivo afirma firme afirmativo
O que mais vale a pena é estar vivo!
E estar vivo
VIVO
E estar vivo

Sabe, apesar dessas e de outras, amigo Eurico, para mim, o que interessa é estar Viva.

Carinho, sempre.

Cadinho RoCo disse...

Há sempre uma saída.
Cadinho RoCo

Izinha disse...

Belo poema, parabéns pela sensibilidade.

bjos e ótima noite prá vc!

Dauri Batisti disse...

Entrar no acaso e amar o transitório é bonito demais... mas, também triste. Todavia a vida é este intervalo, como diria Italo Calvino, entre o berço e o túmulo. Afinal, o que tenho é a vida. Agora. Isso é bom.

Abraço.

Beti Timm disse...

Eurico,
vim aqui consertar um deslize meu, o de ter demorado tanto a te visitar, mas como nunca é tarde para nada, aqui estou. E então concluo de que me abstive de tanta beleza pousada no teu cantinho. L´no blog, pareces um menino sapeca, e aqui a tua seriedade e sensibilidade aflora com muita intensidade.
Voltarei!

Beijinhos

Zeca disse...

Eurico,

parabéns pela escolha do poema, cujos versos nos trazem lindas e líricas imagens, mesmo que, muitas vezes, indesejadas. Afinal, nos resta a vida!

Grande abraço.