Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

sábado, dezembro 20, 2008

Apontamentos de aprendiz-bibliodidata...



Foi o compadre Carlinhos do Amparo, filodoxo d’Olinda, quem cunhou o neologismo “bibliodidata”. Diz ele ser impossível existir autodidata, já que é nos livros que alguém aprende “sozinho”, ou seja, com os autores dos mesmos. Aliás, devo também ao Compadre Carlinhos, a questão que motivou essa postagem. Perguntava-me ele, à sombra de frondosa mangueira no Sítio d'Olinda:

Compadre Eurico, você que costuma exclamar: Ave, Palavra!
Me diga: Mátria e Palavra são a mesma coisa?
Ou seja, a série Mátria enseja uma saudação à Palavra ou à Língua?

Tentarei responder com a audácia e o risco
de quem trata
de assunto muito acima do seu nível de conhecimento,
e, com isso, inicio essas mal-traçadas notas d’aprendiz:

Como se viu, a série Mátria foi um périplo pela Língua Portuguesa, através de alguns instantâneos, pinçados da minha memória. Em fragmentos de poesia e prosa fiz uma breve loa da lusofonia.
Portanto, da louvação do idioma, é disso que cuida a série Mátrias.
Sendo a Mátria, a nossa língua-pátria: a
Língua Portuguesa.
Vide Caetano Veloso, em Língua:

"A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria..."

***

E a Palavra?
A Palavra é a mãe das mátrias e a todas contém.

Já explico:
O que chamo de Palavra não é o léxico, o vocabulário: os verbetes, os fonemas, os objetos verbais.
A Palavra prescinde inclusive das palavras.
Calma!
Não há negar que a Palavra também está expressa nas... palavras.
Mas no encontro com o novo, com a coisa inominada, adâmica, já existia a Palavra.
A Palavra é Mythu antes de ser Logus.
A Palavra antecede o próprio pensamento conceitual.
Nas sensações, na percepção da consciência mítica e na emoção lírica,
antes, pois, de qualquer verbalização,
já habita a Palavra,
a mãe dos idiomas.


A Palavra é, pois, perspectiva, possibilidade, latência.
A Palavra é eflorescência.
Physis grega antes de natura romana.
A Palavra é Poíesis.
A Palavra é, enfim, Protopoesia.








(Nota do Aprendiz: antes que a moçada blogueira me tome por pretensioso, digo-lhes que, mutatis mutandis, as idéias acima foram inspiradas pelo livro que ando relendo do G. M. Kujawski, Fernando Pessoa, O Outro, um ensaio de hermenêutica cultural.)






*********************************

25 comentários:

Pernambucanos Arretados disse...

bibliodidata... gostei.

Paula Barros disse...

rsrsr preciso conversar embaixo de uma frondosa mangueira....

Oi, Eurico, lendo e aprendendo a cada dia um pouquinho mais.


abraços, bom domingo.

lula eurico disse...

Paulinha, o aprendiz sou eu. Aprendo a ser generoso com vc. A ser humilde e gentil como vc, em suas palavras.
Apareça, sempre. E seja sempre bem vinda.

Germano Viana Xavier disse...

Rico blog.

Abraços.

Zeca disse...

Eurico,

não pude deixr de voltar aos dias anteriores e ler toda a série "Mátria". Tanta riqueza me deixou mudo... um pouco tonto, talvez sem palavras.
E você ainda tem coragem de autodenominar-se aprendiz?!
Aprendiz sou eu!
E agradeço por tudo.

Abraços,

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Querido Eurico, Gostei muito do que li... Como diz a Paulinha "lendo e aprendendo"... Obrigada pelo texto... Um grande abraço de amizade,
Fernandinha

- Moisés Correia - disse...

Para vós amigos… de reflexão,
uma natividade de prosperarão
e um ano novo também,
de rostos risonhos,
com realizações de vossos sonhos…
Num vislumbrar de um novo mundo
poetizar a paz e harmonia
cantando todos de mãos dadas
na sintonia da alegria.

Um Bom Natal.

Pernambucanos Arretados disse...

Veleu. Na minha missão de futura profissional da informação (faço biblioteconomia), tento preservar e disseminar nossa cultura do jeito que for possível.
Acatei sua idéia. Também vou te linkar por aqui.

Abraço.

Jacinta Dantas disse...

O compadre Carlinhos sabe bem o que diz. Gostei da definição de bibliodidata para o saber em via direta com o livro, mas que também passa pelas pessoas - na observação, no sentir, no escutar, no conviver, no coexistir... - aonde se dá o aprendizado para quem, como você, tem essa generosidade de partilhar o seu saber. Isso é lindo.
Confesso-me "entontecida" com a leitura que faço aqui. Fui lendo a série Mátria e me encantando. Adorei encontrar Dauri, (outro grande nessa arte) tendo sua poesia como exemplo? enriquecendo seu jeito manso de falar, dando-me uma verdadeira aula.
Beijos

Cecília disse...

Sempre aprendendo com você...

Querido Amigo, não te preocupes por não ter respondido o MSN, eu entendo, às vezes também faço isso!

Beijão!!!

Carla disse...

...é sim ...a palavra é tudo isso e se queres saber adorei o termo bibliodidata
beijos e votos de FESTAS FELIZES

Inês disse...

Que a magia do Natal chegue aos corações de todos!

A ti em especial desejo-te um Natal sem limites, repleto de tudo aquilo que mereces!

Beijocas Intemporais!

lula eurico disse...

Concordo com vc Jacintamiga, qdo diz que a aprendizagem "também passa pelas pessoas - na observação, no sentir, no escutar, no conviver, no coexistir..."
Foi Paulo Freire, em a Importancia do Ato de Ler, que indicou essa via de leitura do mundo que nos está mais próximo. Lembro qdo ele fala de suas leituras, ainda menino, no Recife, do cheiro das frutas no quintal, das cores das mangas, as verdes, as maduras; do céu cinzento, a anunciar a chuva... pois é disso que falo quando digo que a Palavra prescinde das palavras.
A apreensão do mundão de Deus em que vivemos nos vem pelos cinco (ou seis?) sentidos...
Embora, essa postagem trate do conhecimento que temos da Mátria, e do questionamento do meu compadre, que, por ser complexo, me levou, forçosamente, ao livro citado.
Abraço afetuoso.

lula eurico disse...

Retribuo todos os votos de saúde e paz aqui deixados pelo amigos blogueiros.
Muuuuita paz pra todos!!!

Fernando Rocha disse...

dentro do monte de coisas sem uma boa qualidade que circulam na internet, o seu blog me deu esperança de que há a possibilidade d se fazer algo de valor utilizando a linguagem dos blogs.
Obtive seu endereço por meio do blog da Ester, certamente voltarei a visitá-lo.
Discordo da questão levantada por ti de que a plavra antecede o pensamento, pois é a palavra que possibilita a organização das idéias e assim por consequência do pensamento, não digo á plavra escrita, mas sim o signo liingüístico, e este é domindao pelas crianças antes da alfabetização.
Há cerca de uns dois meses, revolvi criar um blog, o endereço é www.neuroticoautonomo.zip.net, se lhe interessar poderemos trocar informações.

lula eurico disse...

Ave Maria, Fernando, responder a isso que vc questiona dá um tratado. Sei sim que é inata na criança a linguagem, aprendi e concordo com Chomsky que há uma gramática gerativa, ou geratriz, mas creio q nós estamos do mesmo lado. O que chamo de Palavra, com P maiúsculo é esse algo que, como vc bem coloca em seu comentário, "possibilita a organização das idéias e assim por consequência do pensamento",
ou seja, é possibilidade, é mãe, é eflorescência. Abraçamigo e fraterno. Visitarei sim o teu blogue. Aguarde-me.

Vivian disse...

...a palavra é apenas
símbolo do que diz a alma.

Eurico meu lindo poeta,


Natal é renascimento,
é confraternização,
é solidariedade,
é sensibilidade
diante do Mestre Jesus,
esta luz que nos guia
para as realizações
de todos nossos desejos
e sonhos.

Que assim seja!!!

Tenha um Feliz Natal!

Izinha disse...

Q a magia do Natal te traga
somente momentos de paz, alegria
e união.

FELIZ NATAL!

bjos!

Beti Timm disse...

E eis, que um dia tive a ousadia de te dizer que tinha um lado moleque. Mas apesar da ousadia, repito o que disse e acrescentando que te admiro mais ainda por juntar esse lado moleque e descontraído com toda essa cultura e sabedoria. Vou juntar-me ao Zequinha na tontice dele e tb babar um pouco!

Beijos de aprendiz,(eu, não vc)

* hemisfério norte disse...

a palavra
é

a construção
a comunicaSOM

bj e um bom natal
a.

lula eurico disse...

Betti, amigona, tb estou contigo na idéia de nos vermos pessoalmente. Bem, quanto ao moleque descontraído...rsrsrs vc acertou em cheio. Perco o amigo mas não perco a piada. Sou amigo de todos, do gari ao intelectual. Sei entrar e sei sair, como dizia minha avó. rsrsrs E esse negócio de cultura, sei não...acho que andei devorando um dicionário, kkkk sou não, Betti, não sou intelectual, mesmo. Sou um bom de prosa e nada mais. Leio muito e converso com quem sabe e vou aprendendo.
Abraço fraterno e muita paz.

lula eurico disse...

Ah, Betti, não consegui comentar no teu blogue. Beijo.

Loba disse...

Eita! Fazia tanto tempo que não andava pelos blogs que ando me surpreendendo com esta caminhada rápida que tou fazendo!
Menino, tu mudou! E quemudança ótima esta de não deixar paradas estas páginas!
Li um tanto. Dificil comentar tudo. Fico com este post e com a Palavra. Comecei discordando de vc. Mas eu sabia que no final encontraríamos convergência. Vc é muito bom com as palavras, viu? as escritas e as apenas intencionais, estas que ficam nas entrelinhas.
Mas minha vinda é tb pra te desejar Boas Festas! E desejar mais: que em 2009 seus caminhos estejam iluminados por todos os bons sentimentos e pela Poesia, claro!
Grande beijo, compadre dois! rs...

Dauri Batisti disse...

Aqui a gente junta poesia e sabedoria, prazer e aprendizado. Muito bom ter este conhecimento que você vai nos propondo em suas postagens. Muito bom.

Obrigado,

Boas festas!

Paula Barros disse...

Oi, Eurico
Adorei estar com vocês. Não esqueço o espírito iluminado de Alana.

Que o verdadeiro espírito de Natal esteja em nossos corações, hoje e sempre.
Desejo, paz, saúde, amor, serenidade, discernimento, harmonia....o resto corremos atrás.

Abraços fraternos