Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

quinta-feira, dezembro 25, 2008

Natividade 2 ( luzes: o despertar )

















Ali não havia eletricidade.

Por isso foi à luz de uma vela mortiça
Que li, inserto na cama,
O que estava à mão para ler —
A Bíblia, em português (coisa curiosa), feita para protestantes.

E reli a "Primeira Epístola aos Coríntios".

Em torno de mim o sossego excessivo de noite de província
Fazia um grande barulho ao contrário,
Dava-me uma tendência do choro para a desolação.

A "Primeira Epístola aos Coríntios" ...

Relia-a à luz de uma vela subitamente antiqüíssima,
E um grande mar de emoção ouvia-se dentro de mim...

Sou nada...

Sou uma ficção...

Que ando eu a querer de mim ou de tudo neste mundo?
"Se eu não tivesse a caridade."
E a soberana luz manda, e do alto dos séculos,
A grande mensagem com que a alma é livre...

"Se eu não tivesse a caridade..."
Meu Deus, e eu que não tenho a caridade! ...





Poema de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

Em tempo: o título é da postagem e não do poema!

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Um comentário:

Zeca disse...

Eurico,

depois dos versos de um dos meus poetas prediletos, o que mais posso dizer?

Abraços.