Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

domingo, janeiro 04, 2009

CUITELINHO: os arcaísmos de nossa língua-mátria!






















CUITELINHO



Cheguei na bera do porto
onde as onda se espaia.
As garças dá meia vorta
e senta na bera da praia.
E o cuitelinho não gosta
que o botão de rosa caia, ai, ai, ai...

Quando eu vim de minha terra,
despedi da parentaia.
Eu entrei no Mato Grosso,
dei em terras paraguaia.
Lá tinha revolução,
enfrentei fortes bataia.

A tua saudade corta
como aço de navaia.
O coração fica aflito,
bate uma, a outra faia.
E os óio se enche d'água
que até a vista se atrapaia, ai, ai, ai...





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Nota:Para júbilo de meu compadre Carlinhos do Amparo,
postarei alguns exemplos da preservação de vocábulos

pela nossa gente do interior do Brasil.

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Pós-escrito:os castelhanos chamam de “yeísmo” ao fenômeno em que o “LL” deles, nosso “LH”, é pronunciado como “i”, como em caballo (cavalo), que se diz “cabaio”, pelo povão espanhol, no Caribe e na América Central. Curiosamente, na França, o mesmo “LL” , como em bataille (batalha), abeille (abelha), se pronuncia “batáie” e “abéi”, respectivamente. Da mesma forma, o nosso falante do interior do Brasil, segue, por uma origem comum e remota, as mutações de pronúncia das línguas do mesmo tronco neolatino; como se vê nos exemplos de Cuitelinho: batáia (batalha), espáia (espalha), naváia (navalha).
(Mais sobre o assunto, in: BAGNO, Marcos, A Língua de Eulália, Ed. Contexto, 1997)

Nota:
Cuitelinho,
designação dada a certa espécie de beija-flor,
é uma modinha do folclore do Centro-oeste do Brasil,
adaptada por Paulo Vanzolini e Antônio Xandó,
que tornou-se um clássico da genuína música sertaneja.

Para ouvir Cuitelinho, cantado pela Nara Leão, clique aqui.

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4 comentários:

Sueli Maia (Mai) disse...

Oi, Eurico.

Adoro isto.
Eu li o universo 'roseano' de "cabo-a-rabo" e gosto mesmo.

Arcaísmos em Guimarães Rosa, tanto quanto os neologismos, são pérolas que tu fazes muito bem em preservar.

Abraços, amigo.
Em ti e em teu compadre...

Dauri Batisti disse...

Seu blog é diferente. Ele se presta, se empresta, se dá. Não segura, distribui cultura.

Um abraço.

lula eurico disse...

Oi, Mai.
Oi Dauri.
Fico sempre honrado com as visitas de vosmecês.rsrsrs
Ando meio "mergulhado", mas vcs me chamaram a atenção para a dor do mundo em Gaza.
Abraços nos dois.

Hosamis disse...

Tanto letra como melodia, ambas belas e nos envolvem e devolvem ao mundo da roça, por raiz nossa essência. Há o comentário aí acima, de Mai, que cita Guimarães Rosa. Há estudos que reconhecem a língua galega, chamada por nós "arcaísmo", no estilo de Guimarães Rosa.

Abraço, Hosamis.