Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

sábado, março 31, 2007

Zé-ninguém


mais um capítulo do meu romance esferista Bóstrix n'água









Capítulo LXIII - Zé-ninguém



Atentem para essas expressões:
cidadãos comuns, massa ignara, multidão anônima, populares, massa de manobra, e outras correlatas.
Falácias, bazófias, é o que são.
Arrancam do povo, do comum dos mortais, o direito à sua originalidade, à sua autenticidade enquanto indivíduos, e os jogam na vala comum dos zés-ninguém. Isso já é, em si, uma monstruosa manipulação urdida por certos ideólogos da cultura dominante, dos condutores das mentes videotas, dos sofistas da post-modernidade.
Infelizmente o povo não ouviu Nietzsche, quando anunciava a chegada de um certo monstro das botas envernizadas. Uns interpretam esse monstro nietzcheano como sendo o Estado, que se imiscui em nossas vidas, nos invade e nos priva de qualquer possibilidade de liberdade. Mas esse assombroso ser é bem mais do que Estado, é o Mass Media, veículo ideal do kitsch, o enformador de gostos e tendências caricatas, massificador dos subprodutos de culturas alheias e que considero, hoje em dia, o terrível pulverizador da reserva cultural e da espontaneidade dos homens genuínos que habitam em todas as partes desse lado ocidental de nosso planeta azul.

(discurso delírico de um interno do Hospital Ulysses Pernambucano)

Nota: a foto é Rendição de Canudos, de Euclydes da Cunha, o próprio.
Fonte: www.vidaslusófonas.com