Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

segunda-feira, novembro 19, 2007

PACIFISMO TUPINIQUIM



Há uma inteligência, tão pedante quanto autodestrutiva, que insiste em poluir a água e o ar do planeta Terra, em nome do crescimento industrial. Em nome dessa mesma ideologia do progresso suicida, destroem as florestas, eliminam a fauna e a flora, e, para poder continuar nutrindo a avidez de riqueza e poder, atacam os países que possuem jazidas de combustível fóssil, contrariando as recomendações da ONU, e dos países mais sensatos.

Justificando-se nessa falaciosa e maligna assertiva, tem aparecido na TV, e, em horário nobre, pago às expensas dos cidadãos brasileiros, um político, de caráter duvidoso, mas reverenciado como bom orador, a defender certas posições demagógicas e cínicas . Seria um novo sofista?.

Pois bem: argumenta o famoso orador, que o Brasil, para defender suas necessidades industriais e de consumo, deveria ter ido à guerra com os bolivianos. Chega a usar o exemplo da dupla Bush/Blair, que invadiu o Iraque, para “defender” as jazidas de petróleo, interesse vital dos seus povos na região.
A postura não beligerante do Lula é questionada, pelos sofismas desse abominável político.
E é contra essa argumentação neofascista, que quero realmente me posicionar. Pois, seguindo esse raciocínio "tão perfeito", esse mesmo argumento poderá ser usado contra nós, se, por exemplo, a Amazônia for encarada como algo vital ao First World. E por que não?
Além disso, acabamos de descobrir uma imensa jazida de petróleo no oceano, que pode ser, seguindo a falaciosa peroração daquele nefasto político, um pretexto para um ataque dos belicosos saxões do norte do hemisfério, .
Pois bem:
Todo dia, nós pregamos a paz. Fazemos passeatas, missas, cultos, e outras manifestações pela paz no nosso país e no planeta. Mas foi o Lula, o não-letrado Lula, quem nos deu um exemplo prático e raríssimo, de como um país poderoso em seu continente pode resolver uma ação intempestiva e imatura, como foi a dos cocaleros, nossos vizinhos, com a necessária sabedoria, evitando uma guerra que arrastaria todo o continente, e, quem sabe, todo o mundo, atraindo, para o nosso território, os olhos da máquina de guerra do Xerife do Mundo, o Sr. Bush Filho.
Saber conviver com os povos vizinhos, em paz e harmonia, usando a diplomacia antes, e a pressão econômica, depois, e só se for necessária, será o exemplo de tolerância que o Brasil dará, nesse início de milênio, aos avoengos e ranzinzas europeus e seus belicosos seguidores ianques.

Há muito tempo, espero que se cumpra a profecia do Chico Xavier, de que o Brasil será o “coração do mundo e a pátria do evangelho”. A fé, às vezes, se enfraquece em meu duvidoso e pragmático espírito. Mas esse gesto do mítico Lula, do nordestinado filho da lavadeira, que quase morre afogado em um açude paulista, sem o socorro do próprio genitor; o altruísmo geopolítico do torneiro sem um dedo na mão, e agora alçado a primeiro mandatário do maior país da América Latina; enfim, esse gesto de boa vontade e não violência do Lula me reanima a esperança. Quem sabe um novo milênio de intenções pacifistas e de preservação do planeta esteja sendo esboçado aqui, com nosso jeitinho tupiniquim.

Viva Deus! Pequeno sou eu! Alah hu acbar! Shalom! Axé! Paz e fraternidade!!!

Eurico
19.11.07

Pratique a cortesia no trânsito. A paz começa nas pequenas atitudes.

P. S. : cuidado com os belicosos sofismas do R. Jefferson, pois quem, afinal de contas, irá à frente de batalha, matar e morrer pelas suas idéias fascistas, serão nossos filhos e netos, e não ele et caterva.

sábado, novembro 03, 2007

SONATA AO LUAR

Ora, direis, ouvir estrelas? Certo perdeste o senso.
Pois, ampliem os sentidos da alma,
e ouçam a enluarada sonata de Beethoven ...
Eurico









"Quem de nós não teve um momento de extremada dor?
Quem nunca sentiu, em algum momento da vida, vontade de desistir?
Quem ainda não se sentiu só, extremamente só, e teve a sensação de ter perdido o endereço da esperança!
Nem mesmo as pessoas famosas, ricas, importantes, estão isentas de terem seus momentos de solidão e profunda amargura...
Foi o que ocorreu com um dos mais reconhecidos compositores de todos os tempos, chamado Ludwig Van Beethoven, que nasceu no ano de 1770 em Bonn, Alemanha, e faleceu em 1827, em Viena, na Áustria.




Beethoven vivia um desses dias tristes, sem brilho e sem luz. Estava muito abatido pelo falecimento de um príncipe da Alemanha, que era como um pai para ele.
O jovem compositor sofria de grande carência afetiva. O pai era um alcoólatra contumaz e o agredia fisicamente. Faleceu na rua, por causa do alcoolismo.
Sua mãe morreu muito jovem. Seu irmão biológico nunca o ajudou em nada, e, além disso, cobrava-lhe aluguel da casa onde morava.
A tudo isto soma-se o fato de sua doença agravar-se. Sintomas de surdez começavam a perturbá-lo, ao ponto de deixá-lo nervoso e irritado.
Beethoven somente podia escutar usando uma espécie de trombone acústico no ouvido, o que seria para nós, hoje, um tipo de aparelho auditivo.
Ele carregava sempre consigo uma tábua ou um caderno, para que as pessoas escrevessem suas idéias e pudessem se comunicar. Mas elas não tinham paciência para isto, nem para ler seus lábios.
Notando que ninguém o entendia nem o queria ajudar, Ludwig se retraiu e se isolou. Por isso conquistou a fama de misantropo.
Foi por todas essas razões que o compositor caiu em profunda depressão. Chegou a redigir um testamento dizendo que ia se suicidar.




Mas como nenhum filho de Deus está esquecido, vem a ajuda espiritual através de uma moça cega, que lhe interpela, quase gritando.
Ela morava na mesma pensão pobre, para onde Beethoven havia se mudado, e lhe confessa que daria tudo para enxergar uma noite de luar...
Ao ouvi-la Beethoven se emociona até as lágrimas...
Afinal, ele podia ver! Ele podia escrever sua arte nas pautas...
A vontade de viver volta-lhe renovada e ele compõe uma das músicas mais belas da humanidade: Sonata ao luar.





No seu tema, a melodia imita os passos vagarosos de algumas pessoas. Possivelmente os dele e os dos outros que levavam o caixão mortuário do príncipe, seu protetor.
Olhando para o céu prateado de luar, e lembrando da moça cega, como a perguntar o porquê da morte daquele mecenas tão querido, ele se deixa mergulhar num momento de profunda meditação transcendental...
Alguns estudiosos de música dizem que as três notas que se repetem insistentemente no tema principal do 1º movimento da Sonata, são as três sílabas da expressão por que, ou outra palavra sinônima, em alemão.
Anos depois de ter superado o sofrimento, viria o incomparável Hino à alegria, da 9ª sinfonia, que coroa a missão desse notável compositor, já totalmente surdo.
Hino à alegria expressa a sua gratidão à vida e a Deus por não haver se suicidado.
Tudo graças àquela moça cega que lhe inspirou o desejo de traduzir, em notas musicais, uma noite de luar...
Usando sua sensibilidade Beethoven retratou, através da melodia, a beleza de uma noite banhada pelas claridades da lua, para alguém que não podia ver, com os olhos físicos...

***

A música desperta na alma impressões de arte e de beleza que são o júbilo e a recompensa dos espíritos puros, uma participação na vida divina em seus deleites e seus êxtases.
A música, melhor do que a palavra representa o movimento, que é uma das leis da vida; por isso ela é a própria voz do mundo superior.
Porém, unida a palavras malsãs, a música não é mais do que um instrumento de perversão, um veículo de torpeza que precipita a alma nas baixas sensualidades, corrompendo os costumes.
Pense nisso, e busque alimentar sua alma com melodias que expressem arte e beleza, que falem do bom e do belo. "




Redação com base em história narrada pelo músico Enrique Baldovino e, em algumas frases do livro “O Espiritismo na Arte”, de Léon Denis.

Fonte do texto:

Sonata ao Luar

© Momento Espírita 2003

Role a barra lateral e ouça a Sonata ao Luar, em vídeo do Youtube, logo abaixo das postagens.

sexta-feira, novembro 02, 2007

A propósito do curta Cemitério da Memória

O homem da câmera
ou
não sorria, você não está sendo filmado
***
Marcos Pimentel, autor do documentário Cemitério da Memória, dedica o seu trabalho ao cineasta russo Dziga Vertov. Assistam ao curta, clicando no link da barra lateral. Em seguida, leiam o texto abaixo e descubram as semelhanças entre os dois:
***
DZIGA VERTOV
Denis Arkadievitch Kaufman
(Polônia - 1896 - União Soviética - 1954)


Muito jovem ainda, Vertov começa a escrever poemas e estuda música durante quatro anos. Com 19 anos, começa a estudar medicina, na mesma época em que cria o "laboratório do ouvido", onde registra e monta ruídos de todo o tipo, com um velho fonógrafo Pathéphone.
É também nesse período que muda seu nome para DZIGA - palavra ucraniana que significa roda que gira sem cessar e VERTOV - do russo vertet que significa rodar, girar. Também se declara futurista, muito influenciado por Maiakovski.

Após o discurso em que Lenin considera o cinema como o principal meio de divulgação da nova ordem social que se instala na União Soviética, Vertov se põe à disposição do Kino Komittet de Moscou (1918), tornando-se redator e montador do primeiro cine-jornal de atualidades do Estado Soviético - o KINONEDELIA (Cinema Semana).
Em 1922 cria, com sua mulher Svilova e seu irmão Mijail, o "Conselho dos Três", denominando-se kinoks - um composto das palavras russas kino (cine) e oko (olho). Começam a trabalhar no Kinopravda (Cinema verdade) e produzem 23 números dessas atualidades cinematográficas.
Em 1923, o grupo publica seu primeiro manifesto teórico com o título "A revolução dos kinoks"
Desse momento em diante Vertov desenvolve uma febril atividade, tanto prática, de realizações de documentários, quanto teóricas. Todos os seus experimentos com as imagens colhidas do real, são objeto de textos-manifestos, em que ele declara seus princípios das relações entre olho/câmera/realidade/montagem. Todos os seus experimentos cinematográficos baseiam-se no exercício exaustivo de construção da expressão, através da articulação desses quatro elementos.
Podemos resumir suas principais construções teóricas em três noções diferentes e complementares:
1. a montagem de registros (visuais e sonoros)
2. o cine - olho (kino-glaz)- um meio de registrar a vida, o movimento, os sons e organizá-los através da montagem.
3. a vida de improviso - rodada sem nenhum tipo de direção documental.

DZIGA VERTOV (fragmento de manifesto):

"Eu sou um cine-olho. Eu sou um construtor. Eu te coloquei num espaço extraordinário que não existia até este momento. Nesse espaço tem doze paredes que eu registrei em diversas partes do mundo. Justapondo a visão dessas paredes e alguns detalhes, consegui dispô-las numa ordem que te agrada e edifiquei, da forma adequada, sobre os intervalos, uma cine-frase que é, justamente, esse espaço. Eu, cine-olho, crio um homem muito mais perfeito que aquele que criou Adão, crio milhares de homens diferentes segundo desenhos distintos e esquemas pré-estabelecidos. Eu sou o cine-olho. Tomo os braços de um, mais fortes e hábeis, tomo as pernas de outro, melhor construídas e mais velozes, a cabeça de um terceiro, mais bonita e expressiva e, pela montagem, crio um homem novo, um homem perfeito."

Filmografia:

1918 - Kinonedelia -série
1919 - O aniversário da Revolução
1920 - A batalha de Tsaritsin
1922/25 - Kinopravda - série1926 - A sexta parte do mundo
1927/28 - O décimo primeiro ano
1929 - O homem da câmera
1934 - Três cânticos para Lenin (1)
1937 - Canção de ninar
1938 - Três heroinas
1941/44 - filmes reportagens rodados num refúgio na Ásia Central
1947 - O juramento dos jovens
1947/53 - noticiário de atualidades "Novidades do dia" - série

(1) Três cânticos para Lênin - toma como tema três canções populares inspiradas por Lênin. Mostra diversos aspectos da União Soviética, das regiões européias e asiáticas. É o filme em que Vertov pode por em prática com mais perfeição todas as teorias produzidas desde os anos 20, sobretudo acerca da montagem de imagens e sons. Vertov usa da melhor maneira, neste filme, materiais de arquivo, principalmente aqueles que registram as imagens e a voz de Lenin.

* Biofilmografia desenvolvida pela Profa. Dra. Marília Franco para a a disciplina DOCUMENTÁRIO (CTR 0662) ministrada na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.** As biofilmografias podem ser constantemente atualizadas pelos visitantes com indicações de pesquisa, publicações, sites e textos publicados sobre o autor enfocado.

Fonte:
http://www.mnemocine.com.br/aruanda/vertov.htm