Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

segunda-feira, janeiro 31, 2011

CARNAVALÍRICO (6)



Improviso à Clarineta
(Jazz Band lírica Op. 1)



sié
çarua
sié
çarua
fossimin-
nha

eumã
dava
eumã
davamo-
dularrr
co'notinhas
co'notinhasdissonantes
parumeuparumeuamormalhar

sié
çalua
sié
çalua
fossiminha
eumãdava
eumãdava
eh
lah
brilharrr
comluzinhasmiluzinhasdissonantes
pareleh
pareleh
fantespassar

serpentinasciciantes
silhuetasdecetim
rodopiammilinfantes
piruetasdeguri

obrincanterodopia

quatrocantosdeolinda
braçossoltosmãomolenga
passotortopernafina
cabriolaabailarina
melodiafescenina
clarinetasbombardinas
vaievémnamultidão

rammramm
rammramm
ramram

rammram!

taaa-taritari-tatá!




Eurico,
em dias de brincantes...rsrsrs

Fonte da imagem:
http://coretojs.blogspot.com/2009_11_01_archive.html

domingo, janeiro 30, 2011

MEMÓRIA AZUL (valsinha de carnaval)



imagem google



...toda memória é azul
um desbotado azul, indefinido...
entanto, não é o azul de cordilheiras,
azul longínquo,
mas um azul de tarde de domingo,
um azul de infância, com balões...

lembro-me ainda, sons azulados,
valsas, polcas, (blues?);
lembro de sons azuis,
cordões alegres, mesmo senis,
realejos, leques,
rítmica luz...

chorões aos bandos,
aos bandolins;
todo esse azul, dentro de mim:
marcha-regresso, ecos sutis;
uma lembrança, assim,
azulada, mas feliz...

sábado, janeiro 29, 2011

CARNAVALÍRICO (5)





Variações em Frevo-de-rua
(Jazz-band lírica Op. 2)



Criam clarões os clarins...

...e os tubas, vindo em seguida,
entre o bumbo e o bombardino
bois-bumbás, bumba-meu-boi
dividem o tempo e o espaço
em sincopados compassos
dois por dois,
binário, o baixo
du'a batucada maluca
Olinda carnavalinda
Recife carnavalúdica

A turba, atabalhoada,
pula-pula na fuzarca.
Invadem a vida e a praça,
mil passos altissonantes;
dançam bobos, mascarados,
dançam, em alegre dobrado.
Do frenesi faz-se música:
Olinda carnavalinda
Recife carnavalúdica

Logo, irrompe a clarineta em solos de fantasia,
modulações dionisíacas duma
linda melodia,
com imprevistos fraseados
e semi/breves volteios,
variações sobre um tema,
floreado de trombetas
da metaleira-motriz,
de oitava em oitava/oito e oitenta:
Olinda linda carnavalinda
Recifervente, pimenta.

Multidão dodecafônica
multidão doida sanfônica
a turba espremida em síncopes
a vida espalhada em blocos
a dança branda e violenta
da vibração que se inventa
a trombone
ou percutida,
Olinda carnavalinda
Recife carnavalúdica

Num rasgo, o saxofone,
varando a noite, o insone
musicista da retreta.
(quem dorme no carnaval? )
ninguém dorme
apenas brinca...
Olinda carnavalúdica
Recife carnavalírica



Eurico
19/09/2010

CARNAVALÍRICO (4)

Romero Amorim recebe flores das mãos de Samantha
(Evento: Movimenta Várzea/2010)


Tributo a Romero Amorim
(frevo-ciranda)

Um beija-flor beija a flor, suavemente,
num flamboyant debruçado sobre o rio...
E as pastorinhas passam cantando, alegremente,
sob um céu de anil.

A linda pastorinha
dos lábios de carmim
canta um frevo-ciranda
para o poeta Romero Amorim.

Vai, linda flor,
e leva flores pro bom compositor.
Graças a ele o nosso bloco vai
brincar na Aurora dos Carnavais...




Compositor: Lula Eurico/2010
(todos os direitos doados ao Bloco Lírico Flores do Capibaribe)

CARNAVALÍRICO (3)





Foto de 2ºaniversário, em 17 de Janeiro de 2011
   

Valores no Presente

(marcha de bloco)

 

...Quando eu escuto essas Flores cantando,
oh, meu Recife, fico renovado,
pois no bairro da Várzea há gente jovem preservando
valores no presente,
sem esquecer dos valores do passado.

Por isso as Flores do Capibaribe
vieram às ruas cantar com emoção,
louvando a resistência da nova geração,
que gosta do lirismo
que há nas canções desses blocos antigos:

Batutas nunca haverá de morrer,
Madeira que o cupim não rói,
O BondeSaudade,
Pierrot tem Ilusões,
das Flores, Quero Mais,
pois os valores no presente somos nós,
pois os valores no presente somos nós,
pois os valores no presente somos nós...



Compositor: Lula Eurico/2009
(direitos doados ao Bloco Lírico Flores do Capibaribe.)

CARNAVALÍRICO (2)





















Os brincantes riem do tempo, rio invisível, que insiste em passar...
Eles possuem um segredo que só as crianças conhecem:

Dão sentido à vida mergulhados nela, com alegria.
A vida agradece e o tempo se torna puro acontecer, pura duração!

Salve os brincantes do Bloco Lírico Flores do Capibaribe!
Com eles, este poeta vai atravessando o alegre rio da vida!

sexta-feira, janeiro 28, 2011

CARNAVALÍRICO (1)




















O frevo é solitário, gira sobre si mesmo,vertiginoso. No entanto, brinca sozinho, na mais frenética multidão.
Mas os blocos, ah... os blocos, os blocos líricos...
O bloco tem as pastoras, a suavidade das pastoras, o bloco é puro aconchego em meio à multidão das gentes. Um harmonioso coletivo de foliões.
Sereno, poético, ritmado, solidário. Eis o bloco.
O mais recifense dos brincantes, pelo lirismo, pela poesia, pela ternura.



Imagem:
Bloco Lírico Flores do Capibaribe - Pça da Várzea - Recife

P. S.: ontem, 28/01/2011, aconteceu o Encontro do Flabelos, no Clube Náutico Capibaribe.
Não pude ir, mas as Flores estiveram lá, para encher de lirismo aquela festa.

SAÔ (uma advinha)




Nas veneráveis folhas da Torah
oculta-se
esse gigante de África
:
Em seus cabelos uma águia se aninha;
no dorso de seus pés planta-se uma vinha
e um sensitivo hassid ad/vinha,
nessas mãos de auspiciosas

entrelinhas.

Se és iniciado em Burroughs,
saberás que aqui se fala
por senhas recortadas da cabala;
Se reconheces Pessoa,
e os rosa-cruzes,
saberás que aqui se evoca um Urvater, em luzes

Essa é u'a voz-águrio, voz de um vate;
na língua original de Adam, fold-in/cut-up,


Toda protopoesia há nessa Ursprache.





Fonte da imagem:Estudo para Crucificação

sábado, janeiro 22, 2011

ZIMBÓRIO























No céu há sinais pingentes,
há mortes e nascimentos.
E as datas são referentes
desses céus em movimento.
Nada além disso.
É ilusório
o que julgam os nossos olhos;
Tempo é apenas o reflexo
do lucilar do zimbório.

E, aos seres do transitório
volutear desses astros
sugiro serenidade,
paciência e amor fati;
Ver na fragilidade o mote
para cuidar do desgaste
de tudo o que é indefeso:
entes, coisas pequeninas, gentes...
Perseverar em ser, serenamente,
pacificar a alma,
que o tempo, essa sensação,
é simples abstração.

Já existes?
Te aquieta.
Ser é sempre eternidade...