Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

domingo, fevereiro 27, 2011

Reflexões sobre um certo Bloco Lírico







É o notável pesquisador João Montarroyos , em seu artigo "O Bloco Apôis Fum: O Lirismo e a Ousadia de Momo", quem melhor retrata o regresso dos blocos líricos, depois de cada noitada de carnaval. Diz ele, descrevendo o regresso do Apôis Fum, naqueles idos de 1923 :


"A apresentação à imprensa foi fantástica, como fantástico já se mostrava aquela danação do Apôis Fum, um bloco que viera para marcar, definitivamente, os carnavais recifenses. Às oito e meia, o povo já se exasperava no frevo, logo servido de farta mesa de bolinhos e “sandwichs, regalados à cerveja Antarctica e Teotonia”. Depois de muitos discursos, saudações e “mil vira-voltas”, o bloco voltou ao Elite, e lá permaneceu até a hora do regresso, que se deu às onze da noite."


Pois é essa mesma emoção e esse mesmo sentimento que sinto nesse 2011, ao rever essas imagens acima. Tenho a sensação de que o nosso bloco, em dois aninhos, já viveu intensamente toda essa descrição. Um bloco que encantou todos os grandes compositores da cidade, que recebeu elogios dos maestros mais atuantes em orquestras de bloco, veio para marcar, definitivamente, os carnavais recifenses. 

Teríamos, nesse 2011, consolidado a renovação dos blocos líricos, iniciada na década de 1970, pelo maravilhoso Bloco da Saudade?
Creio que sim. E já disse a alguns componentes daquela agremiação que somos o resultado da feliz iniciativa de resgate do lirismo dos antigos carnavais, empreendida por eles, sob os auspícios do saudoso maestro Edgard Morais.
E mais:
Ao abdicarmos, consciente e criticamente, do uso de penas e plumas, por serem ecologicamente incorretas; ao prescindirmos do excessivo brilho dos paetês e lantejoulas, optando pela simplicidade da chita vermelha; ao submetermos toda a possibilidade de nosso sucesso apenas à qualidade das vozes de nosso coral feminino; e ao levarmos ao palco somente músicas inéditas e surgidas no seio da nossa comunidade, quebramos , sim, com a mesmice que se ia cristalizando nos velhos grupos de frevo-de-bloco.
Ao mesmo tempo em que retomamos a tradição dos "blocos das famílias de um bairro", trouxemos de volta o entusiasmo e a alegria, que fez um dia um cronista denominar aquelas antigas agremiações como sendo os alegres bandos.

Agora, ao rever as fotos do regresso do nosso Bloco Lírico Flores do Capibaribe, depois daquela magistral apresentação no Aurora dos Carnavais, sinto o renascer da telúrica força criadora de nossa gente. E fico mesmo renovado, pois no bairro da Várzea há gente jovem preservando os valores de nossa cultura.

Não por acaso, acabamos de compor a Marcha-regresso de nosso bloco, que apresentaremos em breve, num próximo acerto-de-marcha, pelas ruas de nossa Várzea querida!

Avante, Flores do Capibaribe!
Agora voltaremos pra casa. A próxima festa será na nossa praça central. E ali poderemos cantar todas as nossas canções e exibir toda a nossa criatividade!


Próxima apresentação:
Dia o6/02/2011. Pelas 19h, no palco da Pça da Várzea do Capibaribe - Recife- PE.

***

Fonte da citação:
 Montarroyos, João.* Bloco Apôis Fum: o lirismo e a ousadia de momo. Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. 2009.
Texto inédito em publicações sobre o bloco Apôis Fum e faz parte do livro Uma Década de Ouro no Carnaval do Recife, do mesmo autor, a ser lançado em AGO/2009. Direitos autorais reservados.

*Professor de História, escritor e pesquisador de História Social de Pernambuco.

quinta-feira, fevereiro 24, 2011

A FESTA!!! (Bloco Lírico Flores do Capibaribe entusiasma a Aurora dos Carnavais!)

Festa, movimento, alegria: todo o lirismo dos blocos líricos. E a energia vermelho-paixão, das Flores do Capibaribe. Aliás, ali era a nossa praia, pois a Rua da Aurora fica na margem esquerda do velho rio, cheia de flamboyants (vermelhos) e prédios imponentes (e vermelhos) como o Ginásio Pernambucano, um casario que lembra as evocações de Manuel Bandeira.


Mas o passado se rende ao presente, ao ver brotar na Aurora, o animado cortejo das Flores do Capibaribe, um bloco lírico que desfila pelo segundo ano, mas que já é o xodó dos poetas e compositores da cidade. Que me perdoem os macambúzios, mas nossa alegria é fundamental!!!


O coral se posiciona...


E o povo aplaude nossa entrada!

O movimento é gracioso e espontâneo...nada é ensaiado.


Mas eu tento dar uma de diretor de harmonia... rsrsrs




Harmonia? Elas passam isso naturalmente!

Os marmanjos são cinturas duras....kkk

De repente a coisa pega fogo, a imagem até tremeu... rsrsrs

Depois, só curtir os clics e mais clics!


Todo mundo quer sair na foto!

Criança tem direito a foto especial!


Essa é a regente do coral (Nino, de preto, e Derivaldo, são músicos)

E a nova geração curte o lirismo dos blocos.

A flabelista cuida da netinha, flor-do-futuro.

A flor-presidenta e sua filhota, num aconchego!



Maria e a flor Jacira confraternizam com Bloco das Artesãs

O compositor Nino Pop, sua Jacira e eu.



Eu, fingindo de sério.

A pequena florista, em belo clic.



Dois blocos, duas gerações e uma só alegria! 


Samantha, pra dizer tchauzinho. Até breve!

BATISMO DO FLABELO (Flores do Capibaribe no Aurora dos Carnavais 2011)

Essa postagem eu preparei com especial carinho para o amigo Jens, que está num camarote virtual, lá no Rio Grande do Sul, em plena recuperação de um susto, que passou, claro!
Jens, amigo, note bem no detalhe das cores rubras que predominam em nossas Flores. Creio que irás gostar! rsrsrs

A alegria começa no ônibus fretado


Minha inspiração eu levo de casa!


O compositor Chico Zoma leva sempre sua Lia



A festa é das famílias da Várzea!


Os casais estão felizes!




O alegre bando invade a Rua da Aurora!


O poeta Romero Amorim veio nos receber



E as Flores da Várzea, felizes, queriam clics!


E logo brotavam no meio do povão!

A Aurora fica mais bonita com nossas Florinhas!

Nosso flabelo dava as boas vindas aos brincantes!


Flabelista e floristas receberiam o batismo do nosso Bloco 

Roberto e Wenna Fantini, nossos padrinhos de flabelo. 

Era o dia de nosso batizado. O batismo do flabelo é uma cerimônia simples, mas muito cheia de energia e nossos padrinhos eram o casal Wenna Lúcia, do Bloco da Saudade e seu esposo, o compositor Roberto Fantini, do Bloco Confete e Serpentina. Estávamos em boas mãos!!!

Na próxima postagem, camarada Jens e amigos, trarei imagens da festança!!!

Nota:
Os clics são da equipe de apoio (familiares, rsrsrs) do Flores do Capibaribe.

terça-feira, fevereiro 22, 2011

FOLIA e CONAÇÃO (em resposta aos comentários dos amigos)

Eurico e Kelly em pose com componentes do Bloco da Saudade


Gente amiga,

o que me inspira não é propriamente o carnaval, mas, a con/vivência com o Bloco Lírico das Flores de Capibaribe...rs
Brinco entre poetas, músicos, cantores e cantoras que são filhos e netos de outros poetas e músicos, uma nova geração de foliões autênticos, que me renova!
Mergulhados na cultura, no legado familiar e ancestral, nesse nicho de poesia que é o bairro mais do que quatrocentão da Várzea do Capibaribe, os jovens se revelam artistas cheios de entusiasmo e me arrastam!
Além disso, comemoro a Vida. E vocês sabem o motivo...
E, como dizia o sábio polidor de lunetas, Baruch Spinoza, "o ser quer perseverar em ser"...rsrsrs
Eu perseverei e persevero, com alegria.
Sou e estou em a mais genuína conação...

Beijos e Flores!

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

AURORA DOS CARNAVAIS 2011


Palco do Aurora - foto JC ONLINE


O povo gosta de cultura
O povo gosta de arte
O povo gosta de frevo
O povo é lirismo puro

E quando se dá ao povo uma arte
ligada às suas origens, às suas emoções ancestrais,
o povo fica embevecido...

Salve a folia da Aurora!
Salve o frevo dos blocos líricos!
Salve a gente do Recife!
Viva o povo brasileiro!!!





Fonte da img.:


Eurico
(a frevança foi na tarde/noite do domingo, 20/02/2011)

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

FREVO DE ORFEU


Frevinho de Tom e Vinícius























Vem, vamos dançar ao sol
Vem, que a banda vai passar
Vem, ouvir o toque dos clarins
Anunciando o carnaval
E vão brilhando os seus metais
Por entre cores mil
Verde mar, céu de anil
Nunca se viu tanta beleza
Ah, meu Deus
Que lindo é o meu Brasil!


Esse frevo-convite, ou frevo-exclamação, faz uma alusão poética aos blocos líricos do Recife, tanto pelo ritmo cadenciado das marchinhas, quanto pelo lirismo simples de quem vive e descreve o momento, cantarolando.
Estendo o convite do frevo aos foliões de todo o mundo. Venham brincar com os blocos líricos na Aurora dos Carnavais, domingo, 20/02/2011, pelas 16h, na Rua da Aurora, no Recife!

Frevo de Orfeu - por Vânia Bastos

quarta-feira, fevereiro 16, 2011

O FREVO E O PASSO (dança, luta, sexualidade, religiosidade)

Passista em salto acrobático

 (Três excertos de Valdemar de Oliveira, datados de 1945*)

“A vibração paroxística do frevo é realmente uma coisa assombrosa. É, enfim, um verdadeiro allegro num presto nacional. É, sem dúvida, o entusiasmo, a ardência orgíaca, mais dionisíaca de nossa música nacional. E aquele rapaz que dançou! Mas será possível que uma coreografia, assim, ainda se conserve ignorada dos nossos teatros e bailarinos? Que beleza! Que leveza admirável! É uma fonte riquíssima. É um verdadeiro título de glória, que o país ignora, simplesmente porque entre nós ainda são muito raros os que têm verdadeira convicção de cultura”.   (MÁRIO DE ANDRADE)

1
(...) Duas coisas não descubro no passo: nem sexualidade nem religiosidade.(...) Há de haver oportunidades bem aproveitadas, amor é coisa sempre presente, mas, o passista não está pensando nisso. (...) Parece que a paixão pela dança é tão grande, no passista, que não dá lugar a nenhuma outra. Ele se entrega de corpo e alma aos seus espasmos musculares, se interioriza, de olhar pregado no chão, nos pés. É uma dança egocên­trica, no meio de uma multidão de egocêntricos. O sexo não influi nela. Os recalques libertados são de outra natureza.

Outra coisa é a religiosidade. Não vejo nenhuma. Não tem pinta de misticismo. Nada que revele crença, obediência, fé, respeito a poderes sobrenaturais. Nenhum vestígio de mitos, lendas, superstições. Mesmo em certas atitudes de êxtase, de renúncia, de abandono, não descubro ascensão espiritual, integração no ideal ou no absoluto. Simplesmente cansaço, fadiga, um estado de repleção física. De orgasmo trabalhoso.

“Realizada no ambiente livre das ruas, fora de qualquer artifício, com os recursos exclusivos do instinto e do sentimento”, só uma coisa eu vejo os passistas respeitarem, ainda nos momentos de maior exaltação: a fanfarra que caminha no meio da “onda”. Parece um tabu. Núcleo bem delimitado de um imenso corpo celular em cuja intimidade se processam as mais complexas reações. Lembra um andor no meio do formigueiro de uma procissão: ninguém toca nele, ninguém o empurra.(...)


(...)A introdução do frevo é sumamente violenta. A criatura cai fundo no passo. Sob o excitante metal, o passista dá o que tem. Mas, os primeiros compassos da segunda parte reduzem, de muito, a intensidade do estímulo. A multidão se entrega a um repouso relativo. Mobiliza novas energias. Do 8° ao 13° compassos, porém, os metais pegam de novo, com vontade, e o passista retoma o passo, se esbandalha, para logo descansar no restante da parte. Como esta sempre se repete, o passista goza novas oportunidades de descanso até que volta à introdução, que o desorienta sem mercê. É um fim de mundo: choques brutais, acotovelamentos, pisadelas, empurrões — sem um protesto, sem uma queixa, sem um insulto. Depois de uns dez minutos, o acorde final é recebido com um oh! de decepção e tristeza.(...)



Antigos passistas do Recife 
 2

(...) O passo que melhor se dança é no bairro de seu berço: São José. E melhor ainda naquelas ruas antigas, mal calçadas e mal iluminadas. O piso uniforme do calçamento moderno rouba, ao passista, uma das forças de sua invenção — a irregularidade das pedras. Depois, onde a multidão se torna menos densa, mais fluida, o passo amortece.

Ainda outra observação: há um misterioso estímulo visual nos archotes ou lampiões que alumiam a multidão, indo com ela, conduzidos por dois ou quatro moleques. À luz deles, reluzem os metais da charanga como chispas de fogo no fundo negro da rua. A obscuridade é um convite ao frevo. Não há passista bom que prefira a rua Nova bem iluminada e bem calçada às ruas de São José, que têm, para ele, encantos de terra natal. Aí e que ele experimenta a sensação de “totalidade”, com que se entrega ao passo, como um místico à adoração de seu deus.

Agora: o que se não deve esperar é que toda a gente que compõe as multidões dos clubes pedestres do Recife, saiba fazer, ou esteja fazendo, o verdadeiro passo. Muitos acompanham o povaréu, tentando, ensaiando, aprendendo. Por isso, muito frevo se poderá ver sem se ter visto o passo. Os bons passistas, de corpo de mola, elásticos, se destacam logo como técnicos, e é nestes que se deve pôr a atenção, porque eles merecem. São os únicos que apreenderam os ritmos essenciais do frevo.(...)

Grupo de passistas
 3

(...) Música de 2/4 é coisa que não falta a qualquer Carnaval. Gente dançando com ela, arrastada naturalmente, fazendo “cobra” e gatimônias, também não falta. Eu creio, porém, que não há, no mundo inteiro, um binário tão sacudido, tão pessoal, tão típico, como o do frevo nem dança tão estranha e tão expressiva, pelos modos de sua criação, como o passo. Jorge de Lima escreveu, certa vez, que “todas as outras danças, por exemplo, o maracatu, podem ser estilizadas em suas figurações pelos eruditos, menos o frevo, justa­mente pelo cunho irredutivelmente selvagem que há nos menores movimentos e atitudes dos dançarinos”. A verdade é que o passo, apesar de arbitrário e versátil, possui fundamentos técnicos e não exclui, antes convida, ao virtuosismo coreográfico. Se um Lifar visse o passo feito por um passista autêntico, estou certo que imaginaria qualquer coisa de extraordinariamente bela e viva, lá na sua coreografia. E sua estilização ficaria para sempre na memória do mundo.

Valdemar de Oliveira
Recife, dezembro de 1945
*(Extraído de Boletin Latino Americano de Música. Rio de Janeiro; Montevidéu, Instituto Interamericano de Musicologia, 1946, ano 6, v.6, p.157-192)


Fonte do texto:
http://www.jangadabrasil.com.br/realejo/artigos/frevo.asp

Todas as imagens foram recolhidas do Google.

terça-feira, fevereiro 15, 2011

CORDÃO DA SAIDEIRA (o lirismo está preservado)

Edu Lobo



Estudiosos divergem quanto a origem da palavra CARNAVAL. Para uns, a palavra CARNAVAL vem de CARRUM NAVALIS, os carros navais que faziam a abertura das Dionisías Gregas nos séculos VII e VI a.C., para outros, a palavra CARNAVAL surgiu quando Gregório I, o Grande, em 590 d.C. transferiu o início da Quaresma para quarta-feira, antes do sexto domingo que precede a Páscoa. Ao sétimo domingo, denominado de "qüinquagésima" deu o título de "dominica ad carne levandas", expressão que teria sucessivamente se abreviado para "carne levandas", "carne levale", "carne levamen", "carneval" e "carnaval", todas variantes de dialetos italianos (milanês, siciliano, calabrês, etc..) e que significam ação de tirar , quer dizer:
"tirar a carne" A terça-feira. (mardi-grass), seria legitimamente a noite do carnaval. Seria, em última análise, a permissão de se comer carne antes dos 40 dias de jejum (Quaresma).
                                                                                     (In: http://www.brasilfolclore.hpg.ig.com.br/carnaval.htm)


O frenesi do carnaval vem da proibição litúrgica, que o catolicismo, em seus áureos tempos, impunha aos seus adeptos. Os fiéis deveriam abster-se da carne, 40 dias antes da Páscoa. Sabendo que se iria entrar em um longo período de abstinência, não só da carne, mas dos prazeres que dela emanam, os antigos foliões se esbaldavam na festa do entrudo. Todos os excessos, até a quarta-feira! Hoje já não é necessário tanto desadouro. Os prazeres são permitidos durante o ano todo. Inclusive os da carne, que, sugiro, sejam desfrutados de forma segura e responsável, em todos os sentidos.


É por isso que brinco nos blocos líricos. O clima do carnaval dos blocos é apolíneo. Destoa da explosão dionisíaca dos outros folguedos de Momo. Os blocos são serenatas carnavalescas, com seus cortejos animados, mas cheios de poesia e de paz. O canto, sustentado por vozes femininas, o acompanhamento a pau e corda, as palhetas sussurando melodias dolentes. Eis os blocos líricos. Neles, ainda se usam  as batalhas de confetes, os jatos perfumados, as serpentinas e até mesmo as flores, que são, amavelmente, atiradas sobre os foliões.


Há quem prefira os Clubes de Máscaras, com seus frevos rasgados, que arrastam a multidão. Eu fico com o lirismo dos blocos, cuja força já está consolidada na sociedade recifense, pela presença vibrante dos poetas, dos maestros e músicos, pela afluência feliz de jovens, crianças e adultos, que neles encontram o seu melhor divertimento.


Os blocos líricos, cruzando as pontes da cidade antiga, sob a luz da lua e das estrelas, são a mais bonita expressão do carnaval pernambucano.  Graças aos Blocos, hoje ainda tem dança, tem frevo, meninas de tranças e cheiro de flores no ar. Os blocos líricos, cada dia mais numerosos e belos, garantem esse nicho de carnaval sentimental, resgatando e preservando o clima bucólico, como esse evocado por Edu Lobo, em seu Cordão da Saideira:




Hoje não tem dança
Não tem mais menina de trança
Nem cheiro de lança no ar
Hoje não tem frevo
Tem gente que passa com medo
E na praça ninguém pra cantar
Me lembro tanto
E é tão grande a saudade
Que até parece verdade
Que o tempo inda pode voltar


Tempo da praia de Ponta de Pedra
Das noites de lua, dos blocos de rua
Do susto e a carreira na caramboleira
Do bumba-meu-boi
Que tempo que foi
Agulha frita, munguzá, cravo e canela
Serenata eu fiz pra ela
Cada noite de luar


Tempo do corso, na Rua da Aurora
É moço no passo,
menino e senhora;
Do bonde de Olinda
Pra baixo e pra cima
Do carramanchão
Esqueço mais não
E frevo ainda apesar da quarta-feira
No cordão da saideira
Vendo a vida se enfeitar



Cordão da Saideira - Edu Lôbo


Fonte da imagem:
http://mpb4cavaleirosdampb.blogspot.com/2011/02/no-cordao-da-saideira-1967.html

quinta-feira, fevereiro 10, 2011

O LIRISMO DAS FLORES DO CAPIBARIBE

Flamboyants sobre a Rua da Aurora - Recife
(imagem recolhida do google)



 Não é por acaso que o nosso bloco discorda da denominação “bloco carnavalesco misto”. O fato é que essa palavra, ‘misto’, aponta para um tempo em que as mulheres mal saíam às ruas e nem podiam trabalhar fora, estudar ou votar. Carnaval de rua, nem pensar!
Esse tempo passou. Nosso bloco foi criado por mulheres modernas, cultas, trabalhadoras, mulheres do século 21. O tempo de um bloco se chamar de misto, pelo fato de ter mulheres e homens em seu cortejo, está obsoleto, como tantas outras excrescências do carnaval (machista) de um tempo que passou.
E falo em nome de um Bloco Lírico que se entende como um bloco “do presente, sem esquecer dos valores do passado”.

Porém, o que não está ultrapassado é o lirismo dos blocos.

Não falo do lirismo dos gregos, que cantavam a poesia ao som da lira. (Embora os blocos, por serem musicais, tragam algo desse jeito grego de fazer arte). Nem tampouco me refiro ao lirismo do canto ou da poesia lírica, enquanto gênero musical ou literário. Falo do lirismo atemporal. Do lirismo enquanto expressão artística de qualquer humano. Do lirismo de quem assobia, distraidamente, enquanto caminha, ou de qualquer um que, amorosamente, canta para embalar o filhinho insone. O lirismo que não é apenas do poeta, do bardo, mas o lirismo de qualquer, do homem e da mulher, da criança e do adulto. O lirismo entranhado na vida cotidiana do povo.

Importa então definir lirismo enquanto uma das formas de apreensão da natureza e das coisas em derredor. Eu diria ainda que a primeira impressão que temos do mundo é lírica. Quando a criança diz aos pais: vejam que lindo cachorrinho! Ou quando um de nós passa de ônibus à beira mar e espicha os olhos e a alma até a linha do horizonte... é lírico, esse eu que se enternece, que vê o belo, que apreende as nuanças da vida em torno: um rosto, uma praça, um sorriso de criança, os cabelos grisalhos de um saudoso avô. Por isso, é que o lirismo está na categoria do atemporal. Enquanto houver um ser humano que se enterneça, que se ocupe subjetivamente da emoção com o belo das coisas em derredor, aí estará o lirismo. E quando falo das coisas em derredor, não trato apenas das visíveis, mas das que não se podem ver, com os olhos da face. O que me dizem da emoção com a bondade, com a fraternidade, com o bem? Não é lírica a emoção de ver a união entre as pessoas, a solidária convivência entre os que se amam com desinteressado amor?. Dentre as coisas em derredor, o lirismo também alcança as invisíveis, as essenciais, as que ficam para sempre. É esse lirismo que ostenta o nosso lindo flabelo:

“Bloco Lírico Flores do Capibaribe”

Um bloco lírico: essa foi a melhor denominação que poderia ter sido dada a esse grupo das Flores do bairro da Várzea do Capibaribe. Pois o lirismo é coisa eternamente jovem. O lirismo é um "valor do presente". E a preservação do lirismo é também a preservação da emoção humana voltada para o belo, para o bom e para o bem.

Guardem isso na alma, queridas Flores do Capibaribe. E, nesse momento em que a juventude começa a se achegar ao grupo, não deixemos de refletir que somos líricos, sentimentais, mas não somos um bloco de passadistas. Flores existem, desde o começo das eras. Todavia, elas não representam o passado, e, sim, simbolizam a renovação, a primavera, o recomeço dos ciclos sazonais. Que sejam bem-vindos os jovens com suas idéias e com sua energia. E longa vida ao Bloco Lírico Flores do Capibaribe.

Cito aqui, para concluir essa postagem, um trecho do frevo-de-bloco que dediquei às Flores da Várzea, em 2009:

“Por isso, as Flores do Capibaribe
vieram às ruas cantar com emoção,
louvando a resistência da nova geração
que gosta do lirismo
que há nas canções desses blocos antigos.”


Beijos e e/ternas flores!

Lula Eurico
(componente da ala dos compositores do Bloco Lírico Flores do Capibaribe, com muita honra!)


Fonte do texto original:
Sítio d'Olinda

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

FREVO! (Jazz Band Lírica Op. 3)



















Requintas em mi bemol;
cinco clarinetas em si bemol;
dois saxofones-altos em mi bemol;
dois saxofones-tenor em si bemol;
sete trompetes em si bemol;
dez trompetes em dó;
dois tubas em mi bemol;
tuba em si bemol;
bombardino em dó;
caixa-clara;
caixa-surda,
pandeiro;
reco-reco,
ganzá...

Tudo isso em movimento,
dedos ágeis em colcheias, semicolcheias,
em fusas e semifusas,
vida-que-pulsa,
pulsa-que-pulsa
:
Frevo!
:
Frevo-de-rua, ou, rasgado,
gente que dança-que-dança,
que se empurra, que se lança, volta e avança.

Frevo-de-abafo (chamado frevo-de-encontro)
notas longas e pesadas, tocadas pelos metais,
para abafar os rivais;

Frevo-coqueiro,
variante do primeiro,
em notas curtas e agudas, bem no alto do pentagrama;

Lindo, o frevo-ventania!
palhetas sopram mil sons,
entre o grave e o agudo;

Frevo-de-bloco...
Ah, Saudade,
Batutas de São José,
Madeiras e Pirilampos...
O banjo-tenor do Narciso,
do mestre Lula da Várzea,
as flautas, violões, clarinetas da Escola João Pernambuco.

A marcha dos blocos líricos:

Um flamboyant debruçado sobre o rio
e as pastorinhas, felizes, sob um céu de anil...


E eu... lírico:

Eu... e você, minha flor,
Flor do meu Capibaribe,

"sem você, meu amor,
não há carnaval"


Vamos cair no passo e na vida!





Pesquisa sobre orquestras de frevo:
Carnaval do Recife - Leonardo Dantas Silva


Fonte da imagem:
Orquestra Popular da Bomba do Hemetério

terça-feira, fevereiro 08, 2011

GETÚLIO CAVALCANTI recebe FLORES DO CAPIBARIBE, na ESTAÇÃO DO FREVO

Restaurante Casa Grande será point do frevo com Getúlio Cavalcanti.
 

A iniciativa do nosso maior compositor de frevos de bloco chega em boa hora. Ladeado pela sua talentosa filha Alessandra Cavalcanti, Getúlio canta frevo o ano todo, no Restaurante Casa Grande, Av. Bernardo Vieira de Melo, 1300, em Piedade. Ali acontece a Estação do Frevo. É frevo da melhor qualidade, todos os sábados, às 20h. O turismo da nossa terra agradece e se engrandece!




 Bloco Lírico Flores do Capibaribe,
na Estação do Frevo.

A novíssima geração do Bloco Lírico Flores do Capibaribe, nascido há 2 anos na Várzea do Capibaribe, um dos bairros mais cult do Recife, foi convidada pela Alessandra Cavalcanti e fez bonito na Estação do Frevo. Renova-se o lirismo dos antigos blocos, com essa entusiasmada juventude varzeana!





Samantha, a linda florista do Flores do Capibaribe, em clic com Getúlio.


  



O poeta Lula Eurico, ao lado de sua florinha Kelly, caiu no passo.
  


As Flores foram recebidas em mesa especial, no belo Restaurante Casa Grande
 

Fátima Fusca, nossa flabelista, deu show.




















Os clics foram da nossa animada flabelista, Fátima Fusca, que recebeu elogios do mestre Getúlio. A festança aconteceu no dia 05/02/2011 e as Flores da Várzea já foram convidadas a voltar no próximo sábado, dia 12 de fevereiro. Estaremos lá, com a permissão de Deus!

Leiam mais aqui.