Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

quinta-feira, janeiro 31, 2013

DOS BRINCANTES (notas para uma analítica da folia 4)

BURRINHA
Emanuel  Bezerra de Brito




















Quem há de botar rédeas
ao coração que trota numa primeira emoção?
Quem há de lhe proibir esse júbilo,
mesmo que ilusório?

Os petizes guardam luzes
que brincam nos olhos;
E, nos ouvidos, levam a voz
do que é passageiro e provisório;

A alegria é o trotar duma alimária tosca
Que, lúdica, balouça
no entorno de nós.
Que tem cor, brilho, ruídos
Que traz guizos, cincerros, sinetes.
Feita disso
que enfeita os sentidos;
e, por isso, ó ginetes, 
quem há de botar rédeas à emoção infantil?




Eurico,
carnavalírico rsrsrs


Fonte da imagem:


segunda-feira, janeiro 28, 2013

DOS CORTEJOS (notas para uma analítica da folia 3)

STANDART
E. B. Brito


Os lumes no firmamento 
Os numes d’alma, bem dentro 
E as luzes pisca-piscando, nessas noites olindenses... 

O sonido das buzinas, 
Das maracás, castanholas. 
Mil badalos dos lanceiros, 
Nessa fuzarca louçã! 

 Aonde vai toda essa gente? 
O que os leva nesse afã? 

Dentre eles eu me vejo, 
Um dos muitos de um cortejo 
De flaneurs e bon vivants

A que vem toda essa gente? 

Vem celebrar o sentido 
Que a vida tem nesses dias. 
Que a vida é essa alegria! 
Essa efêmera alegria, 
livre,  profana, pagã.

E o bom da vida é viver
É o lema dos standarts
Das flâmulas, dos flabelos,
Que avisam por toda a parte: 

Tristeza, passe amanhã!



Fonte da imagem do Standart:



Fonte desta img: www.luizberto.com

sábado, janeiro 12, 2013

BONECO DE ENGONÇOS (notas para uma analítica da folia 2)

O PALHAÇO
E. B. Brito



























Vem, todo engonçado,
nessa fatiota,
liforme listado,
nariz de bolota.

Quem te pôs engonços?
Foi Deus?
Foi o Acaso?

Bem,
não vem ao caso,
se girar nos gonzos é o teu destino.
Glosa o inesperado, mercê do fortuito,
Poeta dos saltos soltos e dos sustos,
Pândego das troças, do riso gratuito.
Eis a tua sina:

Rir, todo engonçado,
nessa fatiota,
nesses suspensórios;
corpo articulado,
nas calçolas frouxas,
nas imensas botas,
liforme listado,
nariz de bolota.




Fonte da imagem:
AbARCA

segunda-feira, janeiro 07, 2013

DA FANTASIA - notas para uma analítica da folia

CARNAVÁLIA
E. B. Brito





















Untar de fantasia o corpo pela rua
Esse mesmo corpo que sustenta, nua,
a realidade.
Untar-se, pois, e besuntar –se
de toda a fantasia
possível e imaginável.

E dessa fantasia estão surgindo sempre
os monstros e os mantras.
Brincantes são crianças,
grotescos e risíveis,
gigantes claudicantes, feios, deselegantes:
O Calunga,
O Mão-molenga,
Os Diabretes e os Bufões...

Olé! Olá! A fantasia está
na rua!
Essa rua que serpeia com os dragões
dos átrios de Beijing, aos antros da Bonfim.
Aqui dançam-se troças, farsantes e gracejos.
E o que vejo?
Ladeiras, suor e beijos
e a obscenidade boa e livre dos cortejos.

É a fantasia, essa que passa
em blocos (de palavras),
os tropos sobre antropos.
É a fantasia, aquela que faz graça, faz metáforas
e banha os corpos de alegria
(apesar dessa dor nossa de cada dia)

Essa alegria fescenina,
é a fantasia,
ridícula,
delírica,
de riso, gozo, festa e pirueta
de treta, de mutreta.
É a fantasia,
ao som contagiante das retretas.

Quem vai buscar sentido ao pueril?





Eurico
07/01/2013


Fonte da imagem:
AbARCA

sexta-feira, janeiro 04, 2013

MARINA nº 2






















Vir emergindo, bem lá do fundo,
do abismo escuro, de um oceano,
com toneladas de um eu-profundo,
que vem subindo, bem lentamente,
do inconsciente à flor das águas azuis, marinhas,
Vir com a profunda necessidade,
imperiosa necessidade,
de esguichar-me nessas palavras.


















Ou,


Vir emergindo,
em álacres bandos,
súbitos saltos, vôos sem asas,
singrando os mares,
um imenso aquário
do imaginário,
(telas de aquático LCD);
Cantando em odes ou para-odes,
coral submerso, sons guturais,
salmodiando com alegria
gregoriana, simples, vital:
palavras-peixes,
mar virtual...






Fonte da imagem:
1- recolhida do PicasaWeb
2- http://contanatura.weblog.com.pt/arquivo/5%20dolphins.jpg



Eurico 04/01/2013
(para saudar o novo ano!)

terça-feira, janeiro 01, 2013

MARINA

Imagem Google
















Entre o céu e o mar, a infinda linha...
O verdazul, a branca praia...
a água morna e uma sutil brisa marinha,

Um pasmo é inevitável:

...quem diria que, um dia, nesse mar de calmaria,
uma nau se fez infame
e tornou homens em galinhas...


Eurico
01/01/2013