Pirilampos (in Firefly Flashing) |
Chegaríamos na noite,
noite profunda,
noite ignara e hermética,
depois duma escuridão de léguas...
O sereno, no entanto,
molhava as c'roas e as palmas
e nos breus, de instante a instante
flutuavam
dois fonemas oscilantes
Uauá
lume aceso que se apaga,
que outra vez lucila e apaga,
lume que vaga, e não vaga
pelas barrancas do arroio
Uauá
(borbulhar luminescente...)
E eu que tinha algo a dizer,
Calei-me.
Na noite densa,
gelada, feito a orla do deserto,
deu-me um calafrio de tragédia.
Naquela chã, ainda ecoa o genocídio
:
As estrelas eram os olhinhos
das menininhas tapuias que as gentes viam na noite.
Apagaram-se as estrelas.
As indiazinhas, também.
Restaram os vagalumes, soluços de luz,
Uauás (so)lucilantes.
Rio-abaixo,
mais adiante
era Canudos, Bello Monte,
à jusante
do velho Vaza-barris...
Era Canudos, num é mais.
Nosso Senhor assim quis...
Lá, meus irmãos, no entanto,
já não brilham pirilampos, como brilham por aqui
:
Furaram os olhos dos santos
e inundaram a Matriz...
Eurico
"em viagem, metonímica e sinestésica, pelos sertões"
Fonte da imagem:
Pirilampos
6 comentários:
Eurico, um abaquar.
Rejane, que essa nossa amizade virtual seja sempre dialógica e dialética, como hoje está. Saiba que tuas impressões de leitura me são surpreendentes e instigantes, por perspicazes e poéticas. Dão-me, tuas leituras, gana de escrever...
Grato.
Rejane, fui ao google pelo abaquar.
Lindo verbête! Linda a força da língua tupy-guarany!
Mas eu sou mais rasteiro. Eu diria um carcará... rsrsrs
Fico grato e lisongeado em lidar com pessoas tão profundas como vc, que conhece os abismos. Vc sim, é uma "abaquara".
Abraço fra/terno.
Um abraço a este vaga-lume de fonemas, de letras, de significantes.
Boa semana.
Carmen.
ouvi certa vez dizer que Uauá é lugar onde cachorro late ao contrário, mas agora sei que não só o avesso dos fonemas se percebe, há um alfabeto de candura, ornado de reminiscencia que faz estrada e corta o coração, lateja em ais a madrugada ubíqua em que se foram os repentes de Conselheiro, mais duas dobras na curva do rio e a noite encobre tudo de sem fim,
abraço
Assis, amigo, rsrsrs essa é boa. Tou aqui rindo do pobre do cão... latir ao contrário deve ser difícil pra caramba...kkk
Homem, só tu pra me saíres com um dessas.rrsrsrs
Um grande abraço, Poeta!
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