Quando tiverem conseguido um corpo sem órgãos, então o terão libertado dos seus automatismos
e devolvido sua verdadeira liberdade. Então poderão ensiná-lo a dançar às avessas, como no delírio dos bailes populares e esse avesso será, seu verdadeiro lugar. (Antonin Artaud)
Convoquem-se os doutorandos pra dançar,
enquanto é dia...
Dancem-se as danças circulares...
Que falem as crianças, os doidos e os poetas,
num intraduzível canto sem métrica,
à claridade, aqui, ali, à claridade,
enquanto se pode achá-la!
Dias virão em que fugiremos pros montes
com pavor de nossos filhos e filhas.
Eles já não nos ouvem e falam um dialeto de autistas,
um poderoso discurso para iniciados.
Salvem-se os jovens dessa seita academicista,
em que se untam de poder e de verdades.
Quando criança eu falava com as gramíneas,
com as formigas, com os insetos do quintal.
Estávamos entrelaçados, minhas raízes e eu.
Meus pais riam disso.
Doidices de crianças, diziam.
Loucura e poíesis, digo eu.
As crianças dessa nova era
estão tomadas por estranha terminologia,
e já não brincam como dantes.
Antes, fabricam-se modos de ver, de pensar, de existir.
O imaginário foi engarrafado.
Envazadas as enunciações poéticas
e as artes, em um discurso de infalíveis.
Urge que se convoquem os jovens doutorandos pra dançar,
sem corpos e sem órgãos,
Dançar deliricamente...
Em transe, com gritos primais.
Urge que cantem as crianças, os doidos e os poetas,
num intraduzível canto sem métrica,
à claridade,
Aqui, à claridade,
enquanto se pode achá-la!
Imagem:
Pastoril na Várzea - Recife
Dezembro/2009
3 comentários:
A imagem parece um tela, e não sendo poderia dar uma bela tela.
E as crianças realmente vivem diferente da nossa época de criança.
Um forte abraço.
Eurico
Realmente "urge que dancem as crianças, os doidos e os poetas"!
Urgências das mais absolutas...
Lindos os seus versos!
Demais.
Abraço, amigo!
Urge que cantem as crianças, os doidos e os poetas... urge que cantem nossos desejos de amor... urge que em círculos vivamos.
Um beijo
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