Uma Epígrafe
"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]
sábado, dezembro 11, 2010
UAUÁ (linossignos oscilantes)
Chegaríamos na noite,
noite profunda,
noite ignara e hermética,
depois duma escuridão de léguas...
O sereno, no entanto,
molhava as c'roas e as palmas
e nos breus, de instante a instante
flutuavam
dois fonemas oscilantes
Uauá
lume aceso que se apaga,
que outra vez lucila e apaga,
lume que vaga, e não vaga
pelas barrancas do arroio
Uauá
(borbulhar luminescente...)
E eu que tinha algo a dizer,
Calei-me.
Na noite densa,
gelada, feito a orla do deserto,
deu-me um calafrio de tragédia.
Naquela chã, ainda ecoa o genocídio
:
As estrelas eram os olhinhos
das menininhas tapuias que as gentes viam na noite.
Apagaram-se as estrelas.
As indiazinhas, tambem.
Restaram os vagalumes, Uauás lucilantes.
Rio-abaixo,
mais adiante
era Canudos, Bello Monte,
à jusante
do velho Vaza-barris...
Era Canudos, num é mais.
Nosso Senhor assim quis...
Lá, meus irmãos, no entanto,
já não brilham pirilampos, como brilham por aqui
:
Furaram os olhos dos santos
e inundaram a Matriz...
Eurico
"em viagem interior ao sertão de Canudos"
Fonte da imagem:
Pirilampos
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