Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

terça-feira, dezembro 07, 2010

BELÉM (o milagre das águas)



















Quando vem a invernada e a ventania,
o milagre e a poíesis se confundem no sertão.
Dos poros da areia estéril
emergem filetes d’água
que, descendo dos barrancos,
soprados pela espinhara,
vão tornando as enxurradas
em multidão de afluentes:

Riachos
da Conceição,
dos Serrotes Brancos, Quixaba,
do Meio, da Santa Fé, de Baixo,
do Paraguá, Vaca Morta, do Sebo,
do Pau-Ferro, Pequeno, Ouricuri,
do Juazeiro, da Porta, do Umbuzeiro,
das Caraíbas, da Malhada Grande, Pocinhos, Tigre,
do Mateus, Caroá, Arapuá, Ipueira, Fechado, Traíras, Jequi,

Arroios
dos Brandões,
da Pedra, Fundo, Grande, Talhado, do Saguim,
de Baixo, da Serra, da Boa Esperança, Saco dos Cavalos,
da Macambira, do Logradouro, do Mocó,
do Retiro, da Simpatia, do Moleque, da Cachoeira,
da Pedra, da Estiveira, do Simões,
do Capim, do Cachorro, do Mulungu,
da Ingazeira, do Serrote, S. José,
da Várzea, do Iço, do Capim Grosso, Bom Viver,
da Tocaia, das Ipueiras, do Moselo, do Caldeirão, Água Ruim,
do Mari, das Pintadinhas e das Cabaças.

Brotam do chão seco as Lagoas
da Jurema, de Dentro,
do Campo Comprido, do Pajeú, da Areia, Grande,
do Tapuio, dos Algodões, da Espadilha, do Pombo,
dos Pregos, da Vassoura, da Malhada Vermelha, de Santana,
da Pedra Vermelha e das Pintadinhas,

E os abençoados Açudes
Riacho Pequeno e o Poço da Caatinga.

Tudo isso é pura poíesis!
Milagrosa hidrologia!

E pensar que há um imenso lençol de águas claras
sob a sedenta e semi-árida Cabrobó,
que se estende, subterrâneo, até a nossa Belém,
do São Francisco.
Os geólogos, incréus, afirmam que
a permeabilidade do solo sertanejo
foram o ensejo
para que esse imenso aquífero
escapasse da evaporação do Sol causticante.

Eu prefiro o milagre e a poesia!
Eu prefiro poetizar forças aórgicas, milenárias,
guardando, demiúrgicas, as águas,
contendo a inclemência do Sol,
e abrindo caudais, sob o solo esturricado.

Eu creio no milagre em Belém...



Fonte da imagem:
Imbu Brasil

Dados hidrográficos:
recolhidos do Google.


Eurico
Ainda o mergulho (natalino) no Sertão profundo de mim.
Há milagres e Deus, na natureza como ela é...

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