Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

domingo, dezembro 05, 2010

O FATO (ou, esvaziamento do discurso acadêmico)


























Ao Mestre Vasconcellos Sobrinho


O sol é exato, é fato.
A ciência apura: quantas, fótons.
E eu, cá embaixo,
Um fato?

Dado concreto, objeto dissecado.
No entanto, assistemático.
Quem mensura não me explica.
Que morra toda a estatística
E que a ciência estertore
Como fato de cabrita
Pendurada no curtume.

Sob o sol, nesses ardores,
Não calculem minhas dores.

Quero p(r)o(f)etas,
Não, doutores.


O sol deveras é exato, lá no alto.
E eu,
o objeto, o fato,
ressecado no arame.

Rejeito o método.
Rejeito o número.
Rejeito o nome.

Só me consumo.
E o sol me consome.

Eis um homem!



Fonte da imagem:
Estamira - o filme

5 comentários:

Paula Barros disse...

Hora gosto do exato, do concreto, do fato, do palpável...hora não me enquadro, fujo do quadro, do esquadro...do certo e do errado...

beijo

Anônimo disse...

Você é grande.

Lembrei de um poema do Drummond ao ler este aqui.

lula eurico disse...

Paula,
somos isso ou aquilo, fótons ou ondas?

Abç fraterno.

lula eurico disse...

Marcio,
vc é generoso demais.
O Drummond é o Pelé da poesia, e eu nunca aprendi direito a chutar a pelota...rsrsrs

Fico grato pela tua generosidade.
Grande mesmo é o teu coração de amigo.

Rejane Martins disse...

Eis a espécie humana, eis um homem-feito.