Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

quinta-feira, abril 16, 2009

Divertimento (ainda, o elefante)





Que ridículo, que nada!

Como é bom dar cambalhotas,
iludindo a gravidade!
E o que dizer da zoeira
que é plantar bananeiras?
Como se diz na minha terra,
permissa venia, é arretado!

Bom também é fazer guerra.
Guerra?
Isso mesmo. Guerra:
Lançar mísseis travesseiros;
Arremessar almofadas;
Petecas de longo alcance.

E brincar de esconde-esconde,
tantas repetidas vezes?
Achei! Agora sou eu!
Achei , também!
É bom!
Isso é bom demais!

Que ridículo, que nada!
Nunca brincastes na chuva?
Nem sapateastes nas poças?
Ih! Nunca fostes ao circo?
Meu Deus! Nem à confeitaria?
(Que diabetes, que nada.
Nem temos tempo pra isso!)
Ah, vos direi da delícia
das frutas cristalizadas,
dos bombons, pipocas doces;
dos chocolates nas trufas,
nos inigualáveis mousses.

Que ridículo, que nada!
Lúdico, eu diria, lúdico:
Girar no trenzinho do parque.
Subir-descer na burrica.
Deslizar nos pedalinhos...
Ridículo?
Ridículo, nada!
Já sei:
Não tendes netinhos!




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10 comentários:

Gerusa Leal disse...

Que fantástico poema, Eurico. Senti-me num parque de diversões, na roda gigante, montanha russa, tobogã. Ridículos, como diria Pessoa, só os que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículos. Ou, como diria Eurico, os que não têm netinhos...rs
Abraço

lula eurico disse...

Grato, Gerusa. Bondade demais da tua parte. Já vi que tens um grande coração.

Unknown disse...

Por aqui ainda temos um requinte de busca pela perfeição: a música combina com o texto.
A maior chatice dos ultimos tempos é o medo do ridículo, do temido pagar mico!
Esqueço de tudo isto com o neto, que por sinal, do alto de seus nove anos, já está ficando maduro demais para as minhas brincadeiras,rsrsrsrsrs...
Beijos

lula eurico disse...

Jeanne,
eu ainda não os tenho, mas meu eu-lírico, que deve ter uns milênios de vida, rs, foi buscar isso longe.
Eu-lírico velho é assim!rsrsrs
Abraço fraterno.

Jacinta Dantas disse...

Meu amado amigo declarado,
Que gostoso brincar com a felicidade que transborda através da sua palavra. Velho ou criança está no seu Eu-lírico. Sei lá, rapaz!
Penso que os dois, o velho e a criança estão aí, brincando em você, no EURICO e, fazendo-me brincar também. Que bom!
Beijos

Bia disse...

Sermos crianças SEMPRE !!!
Amei...viajei...
Parabéns por este teu blog também....estarei sempre aqui, e agora , como sua seguidora!

Um beijo no coração!

Bia Maia

http://olhardentrodosolhos.blogspot.com

lula eurico disse...

Isso mesmo, Jacinta, ainda não tnho netinhos, mas sonho com eles e... sonho com Allana (tento adotá-la), minha filhota do coração.
Parace que o menino do poema sou eu mesmo rsrsrs vc tem razão.

Abraço fraterno.

lula eurico disse...

Bia, esses teus olhos brilham como olhinhos de menina sonhadora e travêssa. Por isso é muito bom ir lá no "Olhar dentro dos olhos".

Ah, mas tenho tb minhas horas difíceis. Até as crianças têm momentos tristes, né? Principalmente quendo não entendo as coisas aqui nesse planetinha azul. rsrsrs Viro um menino amuado. kkk

Abraço fraterno.

Jacinta Dantas disse...

Então você se decidiu por tentar adotar Allan? Nossa, que legal. Eu já falei que ela se parece com minha sobrinha, Ana Clara? Nos olhos expressivos, na morenice, nos cabelos...
Por aqui, fico na torcida. Tomara que dê tudo certo para ela e para você.
Beijos, de novo.

Shi disse...

Ridícula é a vida, e é pouca gente que desiste dela... Mas rir, meu Deus! é maravilhoso! :-D Bjo, queridão, bom finde!