Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

domingo, julho 03, 2011

CEIA
























Assentados à mesa
repartem o peixe mitológico
(mil anos os espreitam das escamas carcomidas)
Mil olhos
Mil’entes
Ante a mesa posta, verbofágicos,
os comedores de palavras
― ceiam ázimos
― bebem verbo
― gestam lácteas estrelas.
Vejam-me d’entre eles,
meus múltiplos eus e eu,
afiando essa faca ineffabille,
repartindo, nesse médium volátil,
Esse pães guturais...



Eurico
Pina (Recife-PE)
06/11 /1995

poemeto dedicado ao amigo artista-plástico Eugênio Paxelly
e a todos os amigos do antigo Grupo Arrecifes.



Fonte da imagem:

http://betebrito.com/wp-content/fgallery/figurativo/fossil.jpg


Deguste, ouvindo Reverie, de Claude Debussy

4 comentários:

Marcantonio disse...

Que poema fascinante! Uma verbal companhia. Vivemos imersos, e não nos damos conta, nesse processo de transubstanciação pela palavra.

Permita-me trazer aqui um poeminha meu, por natural evocação:


COMUNHÃO

Vinde palavras,
Vinde
Para esta ceia.

Comei deste pão,
Minha razão.

Bebei deste vinho,
Meu inconsciente.

Assim saciadas,
Alguma dentre vós
Ainda
Há de me trair?

Grande abraço.

carmen silvia presotto disse...

Te leio, e colho bons espantos, sempre inovas, sempre surpreendes e por isso estou sempre por aqui...

Um beijo grande e desejo de boa semana.

Carmen.

Unknown disse...

Caro poeta!

Embora não convidada, participo de todas as ceias mitológicas.

Bom mesmo é vê-la descrita nessa beleza lírica!

Beijos

Mirze

Rejane Martins disse...

Ah...
esta Ceia com Reverie alcança uma particularidade especial,
os preciosos espaços brancos quando a noite dorme para ocultar-se.
Eu leio, ouço, leio, silencio, ouço, leio ...e agradeço.