Uma Epígrafe
"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]
sexta-feira, julho 22, 2011
SÉRIE: OS SENTIDOS (O SENTIDO) Nº 4
CANÇÃO DE TUDO (poema nº 4)
Há uma melodia em tudo o que se move.
Uma música browniana,
eu diria,
que há mesmo um timbre subreptício
no fluxo do ser das coisas, ab initio.
Uma música no carreiro das formigas e das galáxias.
Uma música de tudo...
Desde o movimento imenso, o belo Sete-estrêlo ,
até o humilde arroio, em seu áspero leito.
Esse silêncio.
a débil vibração das asas de uma vespa.
e uma oitava acima, o luminoso som da aurora boreal,
Os entretons da voz sonora
das carambolas
que ora penduleiam
entre as galhas
que farfalham
que espalham uma melodia
Os sons.
A impressão dos sons...
esse ranger de dentes
um interno trote,
um galope, o coração..
A voz presa na glote,
o fagote,
a úvula, a uva e o euritmo da chuva.
O cravo temperado
o som das mangas verdes
em diáfanos vestidos (não vedes?)
Gravetos percutidos pelos pés.
Mil setas que sibilam.
E o pipilar das aves, dentro e fora.
A música do agora
brilhante e bela música
de uma eterna estação
Ecoa consoante
desde antes,
muito antes,
na música desse instante.
Fonte das imagens:
http://ini.topotesia.net/node/1079
Mangas na safra.
Nota do blogueiro:
(canção a ser musicada ao violão)
Os sons das coisas: (chuva sobre piano)
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divertimento,
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Série: Os Sentidos (O Sentido)
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7 comentários:
Encantam-me esses versos e o som da manga verde!
Preciso vir mais vezes aqui. Gosto. Gosto muito.
Beijo,
EURICO!
Você hoje arrasou. Também penso assim. Em tudo há som, música. Lamento que o Criador não tenha escolhido Debussi ou outro para colocar nos lugares por onde passamos. A sinfonia dos pássaros ao raiar de um dia tem uma partitura impossível a qualquer maestro acompanhar ou ler. Cor, frutos, flores... em tudo a música BOA predomina.
Eis aqui sua genialidade!
Beijos
Mirze
essa série d'Os sentidos está fabulosa, os ecos desses sons reverberam na magia dos seres e das coisas, um existir em delicada sinfonia,
abraço
...no carreiro das formigas e das galáxias, ...e do silêncio, ...a vibração da vespa e uma oitava acima, o som da aurora boreal - é de-mais de lindo! Todo o detalhe, citar alguma coisa chega a ser injusto.
Um olhar especial e o som de um fagote a sustentar uma parte de tudo. Sete-estrelo a brilhar-te a alma, num momento destes, Eurico, eu nunca vou esquecer disso - está gravado n'alma - eu nunca vou esquecer desse teu olhar sobre as coisas! E agradeço imensamente.
Rejane,
grato por ter vindo.
Fiz a mudança nos créditos.
E as mangas do vestido verde, ganharam uma surreal textura e agora esvoaçam, sonorizando o pomar desse poema.
Abraço fraterníssimo.
E grato pelas palavras que devo à frondosa generosidade que está sempre na safra de teu coração.
E quanta música há nessa frutas!
Grato, amiga-escrita.
Os sons das coisas, na chuva sobre piano... ecoa consoante desde antes, muito antes, na música desse instante.
Nada é capaz de acrescentar alguma coisa a não ser a escuta atenta e o silêncio que se impõe diante da escolha da belíssima trilha.
Rejan,
Fiz uma mudança na trilha sonora. Afinal, bom é reconhecer um equívoco, rsrsrs
e sempre se pode aprender e melhorar algo...rsrsrsrs
Grato, amiga.
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