Uma Epígrafe
"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]
sábado, julho 23, 2011
SÉRIE: OS SENTIDOS (O SENTIDO) Nº 5
KINO-GLAZ ÁRIDO - movie lírico (poema nº 5)
a Dziga Vertov
Pra beber água?
Imita o gado.
É coisa simples:
Basta colar a boca na beira do barreiro
E sorver de vez o líquido quente, assim;
Com os dentes prender
os grãos de areia e
deixar descer pela goela a água tépida
a decantar-se em argila na traquéia.
Se como ratos?
Lagartixas?
Gafanhotos, feito São João Batista?
Por esse sol que me alumia, já comi, sim,
faz tempo...
e, sem ser profeta..
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E essa máquina que filma minha neta,
Assim franzina
(sai, menina!)
brincando nessa terra ressecada,
(sai, Dolores!)
zanzando ainda, comigo pelo mundo, Deus é pai!
Grave um recado pros homens que governam essa terra...
Ah, nojentos!
Insetos no solado da alpercata!
Diga a eles que de fome se morre,
Mas que de fome se mata!
QUE AS GENTES NÃO TÊM SANGUE DE BARATA!
Fontes das imagens:
Fatos e Fotos da Caatinga
Música p/ BG: Recuerdos de la Alhambra (Tárrega) - Andres Segovia
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4 comentários:
AH! EURICO!
Tão natural que as palavras saltaram e cheguei a ver sua neta. Poeta, você é um fenômeno!
Cuidado!
Beijos
Mirze
Mirze, amiga,
vc exagera na atenção a minha pessoa.
Eu sou tão comum que vc nem imagina.
Mas te fico grato pela tua generosa presença em meu blog.
Mas, não esqueça que o poeta é um fingidor e que quase tudo daquilo que aqui produzo é fingere ou ficção.
Abraço fraterno e agradecido.
Um cine-olho escrito direto da caatinga - sempre na respiração dos sentidos - e um jeito de gravar um recado destinado a ir além, num poema com a sonoridade do grito.
Francisco Tárrega, aqui, nos entrega a sensação de um caixeiro viajante a vender histórias vivas. Ficou muito bom, Eurico.
Grato, Rejane,
e é sim, um cine-olho vertoviano.
Tentei girar com uma filmadora imaginária, em um remoto lugar imaginário, girando nele e em mim mesmo, sem a preocupação de fazer poema, mas de compor algo mais "visual", mais cenográfico, sei lá eu...rsrsrs
Abraço fra/terno
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