Às vezes, nós fugimos, eu e Alice,
E, faz-se um grande rebuliço, aqui em casa.
Que tolice!
Nesse mundo só se imagina desgraça.
Nem se pode dar um pulinho na via-láctea!
Gente grande não entende mesmo nada.
Gente grande não entende uma escapulida!
Fica matematizando o azul dos fatos.
Desse jeito acha equações,
Mas nunca, a vida.
Quando Alice me ensinou essa fugida,
Disse que há várias maneiras de fazê-la,
Uns apelam aos portais que há nos sonhos
Mas é em vão,
Pois sempre surge o inesperado
E eles despertam em meio à fuga, aos sobressaltos.
Outros exercitam as posições da yoga,
parece que acreditam no nirvana,
E se ocupam em metafísicos deleites.
Tudo isso é até muito bem aceite,
Mas a solução melhor, já bem testada,
É a éxupèryana, a fuga alada:
Agarremo-nos à cauda de um cometa
Ou de pássaros que emigram desse tempo.
Não há fuga mais tranqüila,
E não é exílio,
nem seremos abduzidos, nada disso.
É uma sensação de plena liberdade,
Uma dimensão de gozo, um grande alívio.
Voar com pássaros que emigram é facílimo.
Basta cuidar pra não chocar-se
em alguma estrela,
que navegue, velozmente, a via-láctea
sem consultas à devida carta náutica.
Essas tontas são um pouco irresponsáveis
e transitam pelo céu, desgovernadas.
Fazem estragos, sobretudo, aos poetas
que praticam a arte mística de escutá-las.
Fora disso, tudo ocorre calmamente,
E, como Alice já conhece os (des)caminhos,
Evitamos sempre as infusões das cinco,
Pois o chá desses lugares lembra o rum.
Os gatos bebem e ficam rindo à toa,
E as lebres, já velozes, correm loucas.
Pior:
Surgem, feito promoções de shopping center,
Uns estranhos gêmeos chatos, dois em um,
Quando não aparece o Tweedle-Dee,
o outro chato logo surge, o Tweedle-Dum...
Por isso, Alice já me aconselhou:
Quando for à via-láctea evite o chá.
E para o vôo imaginário não te embriagar,
Beba só água do pote ou guaraná.
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Para ouvir Debussy, enquanto lê este poema, clique:
Fonte da imagem:Alice e eu (rsrsrs)
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20 comentários:
Amigo
O amor é lindo, e nem precia ser entendido, é lindo, e isso basta.
Um abraço
Eurico, geralmente não gosto muito de dizer esse foi o que mais gostei, mas é incontrolável não dizer.
Foi uma sensação boa de quem voo, de quem passou juntos as estrelas tontas, quem rodopiou....muito, muito gostoso de ler, de imaginar, de apreciar a beleza da escrita.
O mundo está realmente muito violento e uma viagens assim faz muito bem.
abraços e uma ótima semana.
Eurico,
Antes de comentar sobre seus poemas debussycados, quero responder ao seu comentário no Re-novidade.
Fiquei contente ao saber da nomeação de Dom Fernando Saburido, embora não o conheça, minha alegria está em você tê-lo citado como de alguma maneira (ou proporçao) continuador de Dom Helder. Pois embora eu nao seja exatamente Católico Apostólico Romano, sou católico, e tenho amor demais por esta Igreja. Quanto à figura de Dom helder nao é necessário comentar, mas resumo: Um grande homem, um grande Arcebispo.
E eu repito: Bem vindo, Dom Fernando!
Outro abraço.
Sobre este poema, ele é muito especial. Honras a Debussye, Lewis Carrol e Saint-Exupéry, e a você. Por sinal, um dos meus pecados é nao ter lido o livro de Alice, mas isso se repara né. Quanto ao Pequeno Príncipe, este é de cabeceira.
Mas seu poema é uma viagem à parte. Adorei isto: "aos poetas
que praticam a arte mística de escutá-las", e tudo o mais.
Enfim, sempre estou aprendendo por aqui.
Abraço!
Eurico, sei que devo evitar o chá, mas ele é bem tentador! tras efeitos estranhos, mas que como tudo que é estranho atrai...
Beijos sem o chá...rs
Pelo jeito,
tenho muito o que aprender com a Alice!
Bjs e boa semana.
Que maravilha! Adorei; eis aí fonte para o êxtase, o encantamento, que apresenta-se enlamado e escondido na purpurina seca dita realidade, abs.
Bondblog, eu concordo contigo, e é bom amar, mesmo que seja a uma estrela tonta! rsrsrs
Abraço fraterno.
Paulinha Barros, saudades de passear com vc e de ser fotografado. rsrsrs
Foi realmente um vôo sem plano.
Creio que evito muito escrever coisas assim. Mas a Alice me instiga... rsrsrs
Everton 1:
que o Saburido nos traga mais saborosa convivencia. O Dom José foi dificil de digerir, mesmo usando de toda a tolerancia cristã. rsrsrs
Everton 2:
uma viagem com minha amiga Alice. Eu, cheio de dedos e de pernas, pois sou a centopéia, ou lagarta, que se vê sobre o cogumelo.
Mas é preciso, como alerta a Paulinha, de coisas assim em nossa alma. Um cantinho pra nossa criança brincar, pois o mundo anda muito sem graça.
Abraçamigo e fraterno.
Beti, querida. Pode beber do chá. Aliás, eu já havia bebido dele antes de escrever o poema. Por isso a Alice me repreende ao fim do mesmo. rsrsrs
Ela detesta que eu me embriague; fico muito chato no outro dia e ela se agasta com isso. Gosta de me ver de bom humor.
Abraço fraterno.
Oi, Fatima. Grato pela homenagem lá no "Viver". A Alice e todas as crianças são as melhores professoras do mundo. Afinal é delas o reino dos céus. Imagine só como são poderosas e sábias! E se a gente não se tornar como uma delas, nem chega perto de São Pedro. Só apelando para a Compadecida! rsrsrs
Malu, vc tem um blog?
Que bom te encontrar aqui. Saiba que esse é um cantinho especial e que nem todo mundo sabe que cometo esses poemas. Desde pequeno percebi que não se dá muito valor aos poetas. O próprio Platão não os aceitou na sua República, né mesmo?
Fiz tortuosos caminhos para me assumir poeta. Quase que viro astrofísico, empresário de eletronica, e outras coisas do ramo. Graças a Deus, a Alice me soprou essa verdade, que vc acaba de confirmar, com sua intuição de poeta: a realidade é muito seca e esconde o encantamento.
Estou contigo e com a Alice. Ah, e com Jesus. Ele disse que deveríamos, devemos, digo melhor, ser como crianças para adentrar ao Seu Reino.
Pronto. Eu tou dentro. Sou um menino leso e quase pirado. kkkkk
Um cheiro carinhoso e fraterno.
Seja bem vinda, aqui e lá no trabalho.
Essa série dauriniana está me levando a viagens indescritíveis.
Não sei,
aqui, Alice e a personagem que a acompanha, se misturam, tornam um Eu único, que busca liberdade e se arriscam nos sonhos.
Um beijo
Oi Eurico.
Concordo: Gente grande não entende mesmo nada.
Alice é que sabe das coisas.
Um abraço e uma bela semana.
Eurico!
Que tão lindo esse!
Ah, que viagem você e Alice.
Nada como tornar-se menino outra vez.
"Gente grande não entende mesmo nada.
Gente grande não entende uma escapulida!
Fica matematizando o azul dos fatos.
Desse jeito acha equações,
Mas nunca, a vida."
Poeta, poetinha!
Beijo, com carinho
Hummmmmmmm!
agora estou com ciúme por não ver sua "resposta" ao meu comentário.
Volto depois.
Um beijo
Oh, Jaci, minhas apologias... rsrsrs
Nem a tua resposta, nem a do Jens, nem a da Ilaine.
Creio que eu estava postando um novo texto e...
Bem, respondo agora. Talvez eu não tnha respondido pq uma viagem dessas é perigosa, principalmente quando lida por psicólogas, hehehe
Será, Jaci, que Alice é , minha anima, minha porção mulher rsrsrs Virgem santa! Eu que sou um cabra da peste, devia ter como porção muler a cangaceira Maria Bonita, né não? kkkkk
Olha em que me meti! Esse fluxo de consciencia é um perigo. Posso ser analisado à distância.
Bem, Alice, creio eu, está em todo lugar, é onipresente, e foi esse o "achado" do Lewis Carroll, como também foi do Saint-Éxupèry, a intuição do Pequeno Príncipe.
Amigos invisíveis, os dois? Acho que sim. Enquanto eu escrevia ela se imiscuia no texto, ah, danadinha.
Bem, respondi.
Eu te deixo um beijo e Alice, um piparote.
Olá Eurico! Que sábio e singelo teu poema. Gente grande não sabe realmente nada, bom seria se soltássemos a criança que existe em nós, aí quem sabe conseguiríamos entender um pouquinho mais das coisas lindas e boas da vida.
Ah! Cheguei até aqui pelo blog Re-Novidade e adorei!
Beijos carinhosos para ti...
Seja bem vinda Andreia! Amigas do Éverton são minhas tb. Pode se achegar, que aqui as portas ficam sempre abertas...
Abraço fra/terno.
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