Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

segunda-feira, julho 20, 2009

Arquitetura Volátil (sculptores lapidum liberorum)





























Gn. 28:12,13




Essas paredes ascendem
por verticais monolíticas;
Saem do chão abruptas
Fundadas na pedra bruta.
Sete carreiras, na rocha
Lapidada em cantaria.

Erguer degraus é poesia?

Alvenaria abstrata,
Frases de argamassa e cal.
Essa peleja não é vã:
Tirar arestas à pedra;
Erigir versos de arrimo
E por a prumo as vertentes
Du'a volátil escadaria.



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Fonte da imagem:
O Sonho de Jacob

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P. S.:
Retomando uma parceria antiga, com o Carlinhos do Amparo, desde os tempos do Eu-lírico impresso, em que ele fazia um breve comentário aos meus poemas , a partir deste Arquitetura Volátil, o leitor poderá, se quiser, clicar em Resenha Poética, para ir ao blogue Sítio d'Olinda. Lá estarão as inusitadas "explicações poéticas" do meu compadre Carlos Pequeno do Espírito Santo, filodóxo e hermenauta das Olindas. Divirtam-se!

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27 comentários:

Anônimo disse...

Olha Eurico,
o banquinho pode até ser modesto, de acordo com sua nota de blogueiro, mas seus poemas são maravilhosos.
Abrs.

lula eurico disse...

Fátima,
esse elogio é fruta da tua frondosa generosidade.

Agradeço muito e te desejo um bom dia, para ti para os teus.
Hoje ainda te visitarei.

Abraço fraterno.

DiAfonso disse...

Grande Cumpadi e Irmão!

O que de ti emana é um constante dizer poético infindo. Mesmo quando se vislumbre um veio da metalinguagem... ou metapoesia?!?!

Abração!

lula eurico disse...

Ora viva, amigo-irmão. Bondade tua, que és o poeta caos-agonico, agora não tão agonico com as novidades da gestação em curso por aí, que te dará, afinal uma menina, né isso?
Agora terás dores de cabeça. Com os três machinhos era muito bom.
Vamos ver agora! rsrsrsrs

Um abraço de frondosa e fecunda amizade.
Paz e bem!

Canto da Boca disse...

Eu não consigo alcançar a sua fluidez e o seu pensamento, ora deveras, diria tu:
- só quem comigo anda e voa, sou eu mesmo, meus pensamentos, meus verbos, versos e os transversos que sou.
Eu entabulo de cá:
- ora pois sim, quem tem essa agilidade a não ser a sua própria pessoa? Que arremesa um dardo daí e chega aqui cheia das suas referências, querências, aderências, inferências e interferências? Vou tentar o primeiro degrau de vossa escada, Compadre Eurico, um cheiro para ti e tua Orquídea.

lula eurico disse...

Boca,
deixe-me exclamar ao modo de nosso povo: "Mái, minina! Que é isso? Um poemeto assim tão curtim."
Há quem me tome por esotérico rsrsrs Mas se tudo é símbolo. E eu apenas me aproprio dos símbolos de certas "correntes de pensamento", e os "perverto". Sejam símbolos d'África, símbolos Romanos, Hebreus; símbolos místicos em geral. rsrsrs Aproprio-me deles e ergo minha escadaria onírica. E só.

Ando inclusive preocupado. Estarei me isolando em uma torre de marfim? O mundo caindo lá fora? E eu cá a pintar meus chinelos,meu cachimbo, minha velha cama, meu quarto... Voltado para mim mesmo.
Aproveito o ensejo, posto que sou fã do C. G. Jung, pra dizer, que quando aquele sábio mergulhava na alquimia, por exemplo, não estava alienado coisa nenhuma. Só buscava compreender pela via dos símbolos, origens profundas e remotas do comportamento humano. Claro que não sou besta de me comparar a ele. Não amarro as sandálias nem da Dra. Nise da Silveira, quanto mais dele... porém insisto em uma temática que mergulha no mito, no símbolo, na alquimia, e tenta fazer emergir disso, esse texto estranho, desconexo, cujas raízes procedem da efabulação, "usando tintas e cores do imaginário", como faz o Bajado, com o bicho maluco beleza, cá nas ladeiras da velha Olinda.

Falei demais.
Mas é que estou na defensiva.
Estão me lendo como esotérico, vê se pode, Boca amiga? Só rindo... rsrsrs kkkkkk

Dora disse...

Amigo Eurico. Andei longe dessa nossa convivência...
E agora, chego para um abraço saudoso, e já leio um poema curto e belo, belo!
Não o percebi hermético. Ou ele se "abriu" para mim? rs
Pois se a definição de poesia é essa, essa mesma: "erguer degraus", criar uma "alvenaria abstrata"? E é "peleja", é luta, com arrimo no sonho e na utopia...
Jacó sonhou com a escadaria e os anjos.
Você não só sonha, como "atualiza" sua capacidade onírica em fraseados personalíssimos!
Viva cem anos seu banquinho de dizer poemas!
Abraço grande, então!
Dora

Canto da Boca disse...

Quem dera eu, esse menino! Aderindo à moda palavratória do nosso povo. Que fosse um poema assim tão curtim, é que meus pensamentos, pensaram, pensaram e não alcançaram o vosso vôo, aí abri a Boca e deixei escorrer a preocupação e as amarrações dos neurônios quando eu me passei a ler vossuncê, li, reli, treli e senti um mundão de cousas, menos que meu Compadre Eurico tinha uns desvãos de miticismo, embora tendo, "marnun é", o vosso estirão maior nessa pisada que conta o peso e a leveza dos passos, dependendo do que vai por dentro da alma, a sua e de quem com vossuncê caminha.
Mas quem quer se isolar numa torre de marfim, não cabe nesse pedaço "piquenim" de mundo, repare bem, tem limtes de carateres, como pode ser grande, mas é grande, porque tem palavra que vale por tudim, não é mesmo?
O seu Carl Jung é homem sabido, pegar os desenhos, as estátuas totenlizadas, ou esses espirais ecalafobéticos, cheios de incompreensões e hermetismo que nem mesmo o cabra ou a cabra que os fizeram, tomam tento de tal feitura; que esse bicho-homem cria, copia e recria, e vai decodificando o que passa nos entremeios mais escurecidos do nosso lado de dentro... A Dona Nise também tem a minha admiração, "desna" de muito tempo, e ainda acresceu quando de quando em vez, nas potocas trocadas com o mestre Joao Câmara, ele me enveredava pelo mundo dela... Pra ver como o imaginário é povoado de tanta coisa, que só as tintas e as cores, não chegam nem perto do tamanho e do tanto que tem nesse lugar que não ocupa lugar nenhum... Ixi, será que o café estava com o prazo de validade vencido?? Nem eu me achei nos caminhos que tracei... Inté mais ver, Compadre Eurico.

lula eurico disse...

Doritaaa! Minha amiga e mestra. Como é bom te ver. Logo em meio a uma "crise de identidade literária", se isso lá existe. Andei lendo os premiados do Jabuti, da APCA de Sampa e outros que tais e enfiei a viola no saco rsrsrs Tou por fora de tudo. Os cabras estão chamando tanto do palavrão que meu Deus tenha dó! E ganham prêmio literário. Danou-se.

Mas ainda hoje te devolvo a visita.

Inté!

lula eurico disse...

Boca, querida,
vc sabe, e lembro da torre de Babel que colhi de um teu comentário, o quanto colho da simbologia, das crenças, do imaginário. Sou um naïf como o Bajado. SEi ler, mas não sou acadêmico. Isso é ser naïf. Nem popular, nem erudito, saca?

Sou Eurico.

rsrsrsrs

Mais tarde vou te ver lá no Canto.

Canto da Boca disse...

Saco, saco sim, eu idem e idem outra vez... Aliás, depois de ter encontrado tanta gente grande e com motivos de sobra para esbanjarem o academicismo, e não o fazem, a minha admiração por essa gente fica cada vez maior. Porque os que se comportam ao contrário, é porque nem sabem, no fundo, o que falam, esbanjam, defendem... O meu 1º encantamento com a iconografia em telas, se deu com a "escola flamenga", o 2º deslumbramento com a "escola naïf", e alguns figurativistas, ando a mergulhar em outras águas e trampolins, com relaçao ao cubismo, e tou gostando do nado que faço, mas vamos convergindo o que nos forma e firma, o resto é conversa pra boi dormir... Um dia eu escrevo sobre o "babelismo", e deixo lá no Canto, porque é uma temática que me encanta, por enquanto, está apenas no âmbito do academicismo, é que eu não curto muito misturar as estações "bucais", sacou? Hihihihihihihi!

O Canto tem uma reflexão, a partir do desenCanto de duas senhouras portuguesas, que foram às vias de fato, em plena artéria movimentada, o que causou em mim uma espécie de retiro de mim mesma, como um protesto sobre a (des)humanidade... Quando queiras, o Canto é seu, e de quem quiser...

Cheiro, vou pegar mais um café...

Dora disse...

Eurico!!!!!!!!!!! Pois se eu falei ainda hoje sobre isso!!!!Rapaz! Transmissão de pensamento...rs
Eu estive na Festa Literária de Paraty. Já ouviu falar, né? Só autores premiados, "jabutizados"...rs E os textos? Eu fiquei achando que não sei mais o que é literatura.
Vim ler você, prá me certificar de que ainda existe alguma coisa boa, legível e prazerosa, nessa área! Sério!
Beijos!
Dora

lula eurico disse...

Dorita! Não faça isso que eu num sou de ferro. Um frêmito de vaidade me perpassa com um elogio dessa magnitude. Olhe que eu acredito e fico cheio de pra quê isso. kkkkkk
Dora, querida, de cuja obra já fiz aqui uma postagem. Eu não quero dizer o nome de um contista que li, marqueteiro que só (nisso eu o admiro) que larga a lenha na pornografia de um diálogo entre um assaltante e uma uma velhinha. Meu Deus! Já fui assaltado dentro de um ònibus. E a coisa acontece de uma forma bem mais dramática, bem mais trágica, e quase sem palavrões. Será que os meus assaltantes eram mais educados.

Bem, creio que tem o dedo da indústria do livro nessa coisa. E olhe que os meus gurus todos já foram laureados: Osman Lins, Rosa, Carrero. E olhe que o Carrero usa o palavrão com precisão cirúrgica. O excesso vulgariza.

Ando meio assim, mas ouvindo vc, melhoro. Também tenho ego e não sou santo. kkkkkk
Meu ego agradece e te devolve o elogio.

Abraçamigo.

Paraty? Como vai o Zeca?

Dauri Batisti disse...

Pois eu sempre digo e repito, este blog é um serviço à arte. Até os comentários devem ser lidos devagar. Bom aprender assim, com gente que sabe porque sabe. E sabem sem perder a humildade.

O poema é um dos mais lindos.

Um abraço.

lula eurico disse...

Grato, Dauri. Depois do elogio da Dorita, poeta cuja palavra tem um peso enorme pra mim, lá vem vc, outro de quem sou fã. Eta, confraria boa essa nossa! E olhe que há excelentes pintoras, também. E uma pianista e cantora, muito quietinha, mas que deve estar deleitando a Paula Barros, que está hospedada em sua casa, em Nova Friburgo: a pernambucana/carioca Mai.

Só essa rede para nos unir. Abençoada rede!

Estive lá no Essa Palavra, e não comentei. Te vi do alto da montanha admirando a feiúra da frase. Olhe que voltarei pra comentar. É que hj fiz uma biópsia e ando meio desconcentrado. Aquele poema é típico do não-poeta. E eu estou a observá-lo. rsrsrs Breve te digo algo sobre ele. Que São Octávio Paz me ajude.

Abraço fraterno, Poeta não-poeta.

Anônimo disse...

Eurico,
olha que mundo pequeno:
minha sogra é de Manhuaçu e acha que conhece sua irmã. Pode uma coisa destas?
Bjs.

lula eurico disse...

Fátima, pode sim. E dá uma abraço na tua sogra.

Lembro do Chico Buarque que diz numa canção que o avô era paulista, o bisavô pernambucano, e vai por aí. Creio que o Chico quer dizer que somos todos Brasileiros, e como doeu pra sermos nós mesmos. Como nos insurgimos, como fomos inconfidentes, num é, mestra? Mas hj somos uma nação. Sem embargo de sermos uma Humanidade, pois afinal a única raça que existe no planeta é a raça humana, com uma belíssima diversidade. Mas, tergiverso. De que falava eu?
Ah... tua sogra conhece minha irmã. Que bom. Minha irmã é um orgulho pra nós. Andava quase légua, num frio danado, pra dar aulas. E ensinou gerações de mineirinhos que a adoram.
Só lembro dela aqui, a dançar nas festas que fazíamos, ouvindo os Beatles, Renato e seus Blues Caps, garota sonhadora e romantica. Quem diria que aquela menina iria se tornar uma educadora tão dedicada. São os caminhos da vida.

Mas deixo pra vc e família um abraço fraterno.

Dora disse...

Eurico. Você perguntou do amigo Zeca...Pois eu e ele nos encontramos e foi uma rapidez de encontro! Ficamos frustrados. Ele estava de mudança para uma galeria nova, sem telefone ainda, sem computador, um monte de gente da FLIP entrando e saindo...Prá não deixar o Zequinha numa saia-justa...rs saí logo da galeria. E depois a FLIP me envolveu, não pude vê-lo mais.
Mas, volto a Paraty, um dia...Sabia que moro perto dessa cidade? (90 km de distância).
Pena que moro longe de Pernambuco...rs
Beijos.
Dora

lula eurico disse...

Dora,
pena mesmo. Mas de avião é rapidinho. Aqui tem a FLIPorto, que eu nunca fui, mas dizem que é muito boa.
Sou meio casmurro pra esses festivais. Sou tímido, gaguejo quando tenho de falar sobre poesia. O blogue vai ser minha única forma de publicação. Simples, bonita, barata e socializa a minha obra.
O que eu quero mais da vida.
E ainda faço amigas, como você.

Mas dá um abraço no Zeca. Quando puderes, claro.

Um dia eu chego pra visitar vcs.

Abraço fra/terno.

Carlinhos do Amparo disse...

Sobre o tal esoterismo euriquiano, eu devo discordar. Não de quem pensa isso, mas de vc, do meu compadre. Como é que vc me faz uma postagem ilustrada pela Escada de Jacó, símbolo esotérico dos pedreiros-livres, e ainda cita o Octavio Paz, dizendo ser a escada símbolo da "humilhação da pedra", ali na barra lateral. Põe um título meio maçon, com um subtítulo totalmente maçon, e não quer que o rotulem de esotérico. Ora, meu compadre, isso é puro esoterismo. Não me venha enganar com esse tag junguiano da individuação, pois isso é só pra despistar o leitor, que eu bem te conheço! A Escada de Jacó remete à evolução espiritual e isso o compadre não vai querer esconder, né? Tá bom, há um metapoema escondido aí, mas... sei não. Estás meio esotérico, compadre velho! rsrsrs
(Desculpa, compadre, mas, o senhor me pediu pra comentar, eu comentei! Eu num sei mentir!) rsrsrs

Dora disse...

Amigo Eurico. Estive no sítio do seu compadre, Carlinhos do Amaparo.
Foi bom. Ele, o Carlinhos, me forneceu subsídios bem preciosos prá eu ler as entrelinhas do Eu-lírico aqui! rs
Sou fã dele, sabia? Homem ilustrado, sem ser pedante, erudito, sem pose...
Beijos aos dois amigos, então! rs
Dora

Ilaine disse...

Eurico, querido amigo!

Olha o que você apronta... Isto aqui está virado numa conferência literária! Muito bonito de se ver, muito bom de ler. Parabéns!

Arquitetura volátil - Poema maravilhoso, poetinha.

Abraço daqui

Paula disse...

Amigo Eurico, estou de volta! Saudade de suas palavras também! Abraço!

lula eurico disse...

Ilaine, sempre bom ter vc por "perto". E dou graças a Deus por essa rede que nos aproxima.

Abraço fra/terno.

lula eurico disse...

P.,
eu também estava com saudade e vou já no teu blogue cor-de-rosa.

Abraço fra/terno.

Elcio Tuiribepi disse...

Eurico, confesso que seu poema é dos melhores, mas a prosa com os amigos acabou me prendendo, pois é nela que minha aprendizagem fica aqui sorrindo, querendo absorver tantas informações...rsrs
Faz o seguinte, sempre que tiver papos por aqui assim, me avisa...rsrs
DORA: Eu fiquei achando que não sei mais o que é literatura.
Vim ler você, prá me certificar de que ainda existe alguma coisa boa, legível e prazerosa, nessa área! Sério!
Sabe que certas coisas que a gente lê nos dá exatamente esta sensação...pode acreditar...rsrs...Um abraço na alma

lula eurico disse...

Élcio,
deixe disso... vc também, homem?
Com tanto afago eu vou ter uma tremenda inflação de ego. rs

Olha que estou em meio a uma "angústia de expressão". Creio até que o meu compadre Carlos tem razão. Estou martelando a pedra, quebrando as suas arestas, buscando a pedra cúbica, a perfeita pedra, a pedra ideal. Só que nesse momento o cansaço de empunhar a marreta, os calos nas mãos e na alma, me deixam abatido, fatigado... é fase, eu sei: erguer degraus nos deixa exaustos. Principalmente, quando o mundo lá fora explode em uma insana violência, com cadáveres de crianças atirados em vielas do meu bairro. Hoje eu estou carregando a pedra às costas, e subo a montanha dolorosamente, feito um Sísifo urbano e acabrunhado.

Paz e fraternidade, ainda que tardia...