Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

sábado, julho 23, 2011

TERCEIRO OLHO ( ainda, Os Sentidos: o Sentido)



Hubble
imagem recolhida do Google


Ver não é apenas compilar
pontos desconexos, pixels,
varreduras de imagens por segundo.
Ninguém vê apenas com os olhos.
Esses mesmos olhos com que se está
à mesa da cozinha a cortar cebolas
e a chorar lágrimas sem nexo.
Ver vai além do apenas ver.
Interpreta-se assim que se olha,
se é cebola ou emoção,
o que arde nos olhos.
E o conceito já vem atado à coisa que se vê.
Por isso, acautelai-vos com o visual.

(Bom seria fechar os olhos por minutos
ou passar os dias longe dos televisores.
Há muito o que se ver na própria tela mental.)

Imaginem:
A Poesia é um imenso nascedouro de imagens.
Hubble às avessas.
Ôlho pra dentro.
Muito dentro,
em regiões abissais.


Dentro de mim,
o riso distraído e indene
de uma criança revolvendo a Terra.
A bola colorida e um pátio: o espaço.
Um poço com roldana.
Um olho que me olha no centro imemorial da noite.
A hera.
As eras.
Estrelas, lumes, vagalumes.
Lá no centro de mim,
sou um buraco negro e aquático,
galáxia aprazível.
Esse colo estelar, ubérrimo,
irresistível.

(Voluteio, centrípeto,
pra dentro de Deus?)

Eis que a Poesia alberga esse invisível
fulcro numinoso

:

Mãe!
Sou eu, filho...




Imagem Google aqui

Renasçam, entre o sagrado e o profano, ouvindo Debussy:
(a melodia é longa, mas é tão bela, que merece ser ouvida até a última nota)



Eurico
Reedição de poema para a Série:
Os sentidos (O Sentido)



8 comentários:

Anônimo disse...

sem palavras
sou emoçao.

obrigada "dinovuuuu"

abraço

lula eurico disse...

Margoh, amiga,
não por isso...

Eu também me emociono com Debussy :)

Abraço fra/terno

carmen silvia presotto disse...

Que teu olhar siga nos debruçando os dias a mais poesia sempre.

Beijos, querido Eurico e desejo de bom final de semana.

Carmen.

J Araújo disse...

Parabéns poeta Eurico, é muito bom chegar aqui e deparar com este belo poema que nos faz refletir sobre o olhar do ponto de vista sentimental.

Muitas vezes vemos melhor quando não enxergamos com os olhos, mas sim, enxergamos com o coração.

abraço

Unknown disse...

Eurico!

Meus olhos viam e eu não acreditava.

Sim, você é um gênio em tudo. Claro que é lá dentro, no êxtase do nada, que mais nos enxergamos. às vezes dói, e nessa hora o grito MÃE é divino!

Parabéns!

Bravíssimo!


Beijos

Mirze

Evanir disse...

A esperança e a alegria de viver esta
nos atos de amor que praticamos.
Quero viajar todos os dias semeando
a paz no coração dos amigos (as)ser
apreciada por minha presença.
Quero jogar flores por onde
eu passar.
E em silêncio deixar a palavra
mais bonita.
(Creia em Deus porque viver é fantástico.)
Um beijo na alma e no coração com carinho,,Evanir,

Rejane Martins disse...

Um olho pra dentro, um poço com roldana, uma bola colorida e um pátio: o espaço - por aqui é assim, respira-se o ranger das portas, num encontro de um riso sem dano a desdobrar sensações, um olhar desassossegado e que desassossega, por aqui é assim, por aqui se está longe de um conceito já atado. Este Concerto pra Harpa e Orquestra do Debussy é a própria dança de um olhar humano - ficou lindo.

lula eurico disse...

Rejane,

Sei que o formato é insólito. Às vezes eu mesmo me assusto com as soluções dos meus poemas. O corte brusco do reencontro uterino (rs) me veio durante a viagem interior. Onde mais eu iria encontrar a divindade a não ser na vida. kkk


Abraço fraterno.