DELÍRIO EM AZUL (poema nº 2)
Quando Ela nos alcança, cadavérica e terrível,
De nada adiantam as especulações ontológicas,
A teleologia
ou
a incognoscível redução fenomenológica;
Nada nos salva,
nem mesmo a transubstanciação eucarística.
Ela chega destruindo toda ciência,
toda consciência.
Ela ressoa no cerne mesmo
daquilo que os saciados chamam alma.
Aos poucos Ela invade o núcleo das células,
que se vão devorando umas às outras,
fugindo da inanição.
As sístoles e as diástoles se atropelam.
A Razão fraqueja.
E o Ser começa a delirar na cor azul.
Porém, quando Ela nos alcança,
o sentido profundo da vida se revela,
em imperiosa e urgente concretude,
pois Ela não falseia a realidade.
Ela é a coisa mais pura e verdadeira:
A fome, quando chega, não ilude.
Fonte da imagem: FOME EM ÁFRICA
Para carpir, (ou penitenciar-se, se preferes): Lacrimosa, de Mozart
3 comentários:
Não sentir um direito que lhe pertence,
sentir o resto, isso nunca vai ser digerido.
Lindo, Eurico!
Observe que o abutre não ataca. Aguarda pacientemente a hora para saciar a sua fome. Isto eu também aprecio.
A fome deve ser horrível. Não sinto fome normalmente, mas nunca passei por situações e lugares que por si só já abatem o ser humano.
Triste, e belo!
Beijos
Mirze
Triste e belo, Mirze.
Um libelo.
Mas te prometo e aos teus sentidos algo mais ameno nos próximos dias.
Essa sintonia é muito grave.
E os meus sentidos exigem outras cores...
Abraço fraterno.
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