Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

quarta-feira, julho 20, 2011

SÉRIE: OS SENTIDOS (O SENTIDO) - Nº 1





















Dobrada à René Descartes (poema nº 1)


Um boi fugiu.

Guardo a lembrança de eu-menino,
o tom aflito

dos mugidos (uivos, gritos?)

Dá-me um simpatético arrepio.


Um boi fugiu

dos seus algozes:
A fila, o banho, o abate, o choque.
Um boi fugiu.


Mais tarde,
distraídos (e atrozes),
digeríamos o fato.
Os fatos.








Fonte da imagem:
Abate com Pistola Pneumática



Leia também:
O BOI, em Planeta Lua










Que tal ouvir Karajan, em Tuba Mirum, de Mozart? Dá um arrepio!

10 comentários:

carmen silvia presotto disse...

Hey, te leio e venho para te mandar um beijo pelo dia de hoje, Amigo!!

Carinho

Carmen.

Kelson disse...

Esta poesia faz a gente refletir bastante...a imagem choca. E se a gente soubesse a origem de tudo que consome conservaríamos os mesmos hábitos? E a Farra do Boi? Será que a farra é do boi mesmo?

Tania regina Contreiras disse...

Retrato de um conflito que é meu. Entre o boi e o bife, um lapso, uma culpa...Entre o boi e o bife, o homem e o animal que ainda o habita.
Nossa...é sim pra pensar.
Beijos,

lula eurico disse...

Tania,
Apesar de que ainda consumo um pouco de carne, também fico em conflito diante dessa imagem. E creio que tens razão, amiga: é o animal que em mim habita que sente o arrepio. Instinto de sobrevivência...

Abraço fraterno.

lula eurico disse...

Carmen,
não tenho conseguido comentar no teu blog.
Aliás, em todos os blogs que não usam o pop-up, a janelinha de comentário, eu não consigo comentar.
Desculpem-me, todos.

lula eurico disse...

Kelson,
caro cunhado e amigo,
que bom ter vc por aqui!

Abraço.

Rejane Martins disse...

Esta Dobrada, Eurico - num viva ao instinto animal e ao cogitare humanu - me fez lembrar um dito da minha terra que eu tenho sempre presente:
"só acredito em doma com freio na boca de quem não corcoveia!".
Teu poema, com a trilha sonora, ficou ainda mais fantástico!

Unknown disse...

Eurico!

AI! Foi a primeira coisa que me veio à cabeça. Tenho pena dos animais, mas sei que servem de alimento, quando congelados numa bandeja de isopor.

Mas assim...ao vivo e à cores... AI!

Excelente! Senti milhões de coisas neste sentido 1º.

Beijos, amigo!

Você escreve além das expectativas.

Mirze

lula eurico disse...

Rejane,
a série irá explorar os sentidos, que segundo Rudolf Steiner são 12.
Mas esse sentido do arrepio foi uma novidade que mesmo a mim, que escrevi o texto, me surpreendeu.
Essa cena é real. E eu a vivi no interior de Pernambuco. Faz uns 25 anos, mais ou menos. Cidadezinha de duas ou três ruas, dei de cara com o bezerro fujão, chorando, uivando, sendo arrastado pro abatedouro. Foi de arrepiar!
Só faltava falar, o garrote!

E a poesia me veio no carro, de volta do trabalho. Saiu num jato.
E abre a série sobre os 12 sentidos, que virão em penca, ou um por vez, não sei ainda. rsrs

Abraço.
(não é bom que um autor explique poemas, mas do processo criativo me permito falar...hehehe)

lula eurico disse...

Mirze, amiga,
eu não vegetariano, nem vegano, mas admiro a alimentação deles.
No entanto, ainda não me libertei totalmente do hábito de comer animais.
Um dia consigo.
A causa está clara no poema.

Abraço fra/terno.