SIRIS - E. B. Brito |
"vi dois siris jogando bola,
vi dois siris bola jogar, lá no mar..."
(Gonzagão/Zé Dantas)
Quando o mar arrebenta nos recifes
Do litoral da minha terra
As ondas tentam articular uma palavra.
(percebo isso, nitidamente,
num súbito acréscimo de receptividade)
Sempre...
balbucia a arrebentação.
Caminho por essas praias há muito tempo.
Costumo apalpar os grãos de areia com as pupilas.
Estranho fenômeno.
Sinto o fulgor da presença das coisas.
E isso assusta a minha frágil individualidade.
Estou no fenômeno.
Tocar as coisas com as palavras. Impossível.
Tocar as coisas é fazer filosofia.
Mas sou profundamente lírico.
Fenomenologicamente lírico.
Não há lirismo em epoché.
Minha consciência, irredutível,
abraça-se às coisas, liricamente:
Eu sou o fenômeno.
Os infantes jogam a péla secular,
Chutes de viés cruzam o horizonte.
E eu apreendo algo de musical,
nas variadas combinações dessa opereta de praia.
Danço com eles, volições entre parênteses,
eu-inteiro driblo, chuto e agarro-me à pelota.
Impossível suspender o juízo que faço de mim e das coisas:
Sou o próprio juiz que joga o jogo.
Sou a irrevogável consciência-das-minhas-circunstâncias.
As sensações são esses pequeninos crustáceos marinhos.
Ora afloram, ora escondem-se em mim.
Certas vezes empalideço de emoção, com a arte de um lance .
Mas choro mesmo, ao ver essas crianças tão raquíticas;
Me arreto, quando as ondas arrastam essa bola.
A bola rola e o planeta.
Passam-se as horas.
Agora a tarde cai sobre meus ombros
E sei que estou me despedindo das paisagens daqui.
(Sou o que vejo.)
Sinto-me um preso
Rumo ao degredo.
As ondas, ou algo indefinível,
Tentam iludir-me, ainda,
sussurrando essa palavra.
Sempre...
Do litoral da minha terra
As ondas tentam articular uma palavra.
(percebo isso, nitidamente,
num súbito acréscimo de receptividade)
Sempre...
balbucia a arrebentação.
Caminho por essas praias há muito tempo.
Costumo apalpar os grãos de areia com as pupilas.
Estranho fenômeno.
Sinto o fulgor da presença das coisas.
E isso assusta a minha frágil individualidade.
Estou no fenômeno.
Tocar as coisas com as palavras. Impossível.
Tocar as coisas é fazer filosofia.
Mas sou profundamente lírico.
Fenomenologicamente lírico.
Não há lirismo em epoché.
Minha consciência, irredutível,
abraça-se às coisas, liricamente:
Eu sou o fenômeno.
Os infantes jogam a péla secular,
Chutes de viés cruzam o horizonte.
E eu apreendo algo de musical,
nas variadas combinações dessa opereta de praia.
Danço com eles, volições entre parênteses,
eu-inteiro driblo, chuto e agarro-me à pelota.
Impossível suspender o juízo que faço de mim e das coisas:
Sou o próprio juiz que joga o jogo.
Sou a irrevogável consciência-das-minhas-circunstâncias.
As sensações são esses pequeninos crustáceos marinhos.
Ora afloram, ora escondem-se em mim.
Certas vezes empalideço de emoção, com a arte de um lance .
Mas choro mesmo, ao ver essas crianças tão raquíticas;
Me arreto, quando as ondas arrastam essa bola.
A bola rola e o planeta.
Passam-se as horas.
Agora a tarde cai sobre meus ombros
E sei que estou me despedindo das paisagens daqui.
(Sou o que vejo.)
Sinto-me um preso
Rumo ao degredo.
As ondas, ou algo indefinível,
Tentam iludir-me, ainda,
sussurrando essa palavra.
Sempre...
Fonte da imagem:
AbARCA
Nota do blogueiro:
Sobre o verbête "péla" (bola), acentuado, leiamos o interessante sítio abaixo:
2 comentários:
Que poema lindo!!
Desencadeia rápidos e íntimos embates em momentos críticos em que o homem avalia o homem (sem perder o encanto).
Abraço
Margoh
nesta linha de passe, me cruzo, desvio, afino o fio do craque, salto em orquestra e bicicleta, endosso a pelota ao poeta: ave
abraço
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