Uma Epígrafe
"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]
terça-feira, setembro 14, 2010
MASCAVO
"os antagonismos não resolvidos da realidade retornam às obras de arte como os problemas imanentes de sua forma" (Adorno)
Eu não sou isso.
Esse instante entre/cortado à lâmina de estrovenga.
Essa instável dissolução caiena.
Esse devir usinável.
Essa face de isopor.
Esse retraço
de coisa mercadejada,
Esse nada ou quase nada, embebido em suor e melaço.
E sou quase tudo isso.
Um oco histórico, sem mim.
Um pária, a esboroar-se entre alfenins
Um nada esmagado no bagaço.
(e esse re/corte me faz enxergar mais fundo e além
dessa matéria inerte, em que eu estou sendo,
ou em que me deixo estar...)
Mas sou um outro,
inútil tacho de bronze
em fogo morto;
Sou um outro,
mascavado e espúrio, mas o Outro.
Est’outro
que não esse...
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Fonte da imagem:Auto-retrato
Fonte da epígrafe:Alea: Estudos Neolatinos
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aforismos poéticos,
identidade,
individuação,
lirismo reflexivo
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8 comentários:
eu mesmo sou o outro, aquele de além e aqui
abraço
Deu nó. O tico e o teco estão brigando e não se entendem,rsrsrs...
Meus eus convergem, ou pelo menos assim imagino.
Futuramente espero alcaçar a essência, mas isto muuuuito futuramente, coisa para outras encarnações,rsrsrs...
lindo e lírico como sempre, beijos
rsrsrs vc é ótima, Jeanne.
Mas num carece tantas vidas pra entender isso daí.
Não se explicam poemas, maas pra vc vou abrir uma exceção, com a ressalva de que vou explicar o processo criativo e não a mensagem. Ihhh, pode ser que piorem as coisas...rsrsrs
Mas é simples:
imagine alguém querendo pintar um cartaz e escolhendo as cores que tenham a ver com a mensagem a ser veiculada. Bem, digamos que quer falar do ser humano, mas não de qualquer ser humano, mas de um ser humano nordestino, com sua história, seus mitos, suas crenças, seus costumes. E então o que faz? Escolhe cores e tintas agrestes, terrunhas, telúricas rsrsrs e vai lá e pinta o tal cartaz. E põe lá o título: matuto.
Pronto.
Foi isso o que fiz aqui. Descrevi um ser com as palavras mais próximas de mim. E haja estrovenga, balde, açúcar preto, e outros que tais...
Né simples?
Simples como vc, amiga. Por isso a tua beleza dalma. A tua cristalina sinceridade nos cativa.
Qualquer dia te dedico um poema sobre a percepção extrafísica.
Qualquer dia...
Abraço cordial.
E todos esses eus/outros que és, sem jamais deixar de mostrar a força criativa e construtiva de emoções e conhecimentos com os quais somos invadidos cotidianamente nesse lírico espaço, é porque és, "Est’outro
que não esse"...
Abraço, Eurico!
;)
Grato, Vizinha,
vc sempre generosa aqui do lado, nessa cidade contígua, nessa janela virtual, nesse recanto, nesse canto da boca e da palavra.
Mas apenas seleciono e combino a Valèry, ou dobro e recorto (fold-in/cut-up) a Tristan Tzara. Nada mais nada menos. Só que faço isso com signos verbais, de cuja história participo, nessa encruzilhada de nexos que é a minha vida.
(E isso ainda faz parte da resposta ao lúdico comentário/instigante da amiga Jeanne, acima publicado.)
Ela nem sabe que mexeu com o meu processo criativo, a tal ponto que, em breve, cometerei uma série de collages lítero-anarquíco-dadaistas em sua homenagem, ou seja, em homenagem aos simpáticos "tico e teco" da mesma. Provarei com isso que qualquer pessoa é capaz de poetar. Em breve, nesse espaço de lirismo fenomenológico rsrsrs
Abraço cordial.
Olá Eurico!
Gosto de suas palavras e definições poéticas. Seu eu lírico é outro , rsrs. Beijo!
Depois que vc explicou eu entendi e gostei!
Bjs.
a vida na palavra - parte 2 ...tá bom: parte n+1
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