Não olvideis, no entanto,
desses nichos vocálicos, minúsculos,
que, a um canto, oclusos,
roem o instante...
Eis que eles brotam dos sais,
monossilábicos ais
e alçam, em inesperados tons,
suas asas, brevíssimas, bilabiais.
Pululam, palpáveis sons,
mantras zen, interjeições...
Olhai os insetos do céu...
E não olvideis desse mel,
mimético mel, volátil,
tão metonímico mel.
Volvei as vistas ao léu:
borboleteiam abelhas,
com favos novos, verbais,
zumbidos consonantais,
arbitrárias uruçus,
em aglutinantes colméias
melífluas onomatopéias,
in/significantes zunzuns.
Fonte da imagem:
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNlrlrpro9JGvn3USMdia_JZ7Eyv0h4gk1saWmJ0anFgGfpwa1Fff8xJuT5eMPGKMPuDq2U1jm4UqHK_D1B3gXPwR91WMrtZDUFTj0GfKAZkMUt9g4MaH9lIYOLUvX9df9eXIR4Q/s1600/abelhas-e-favos-f6b46.jpg
12 comentários:
Quanta suavidade, Eurico ! Delicia te ler :) Abrs fraternos
consegues uma bela sinfonia com as palavras,
abraço
Yvy, que bom ter vc aqui.
Abraço fraterno.
Assis,
é disso que se tratam os objetos estéticos que aqui tento fabricar. Objetos verbais, mas que transcendem o literário, enveredando pela musicalidade. Em outras palavras, exploro os fonemas, os estímulos sonoros, antes de buscar o semantema. E que deles escapem sentidos, calcadods no ritmo, na eufonia, na melodia...rsrsrs
Mas tergiverso,
deixemos por aqui esse comentário.
Abraço cordial.
que belo....e que saudades de vir aqui...
beijos com meu carinho,
Bia
Se percebe essa coisa meio música. As aliteracoes, assonancias, e rimas "dancantes" (ais, ais, bilabiais rs).
Isso meio que aumenta o prazer de ler.
Vidal, meu irmãozinho,
bom te ver.
Fica à vontade pra musicar esse daí. rsrsrs
Essa é uma série "bolha de sabão", bonita, mas oca. Pelo menos é essa a intenção. O belo pelo belo. Não há temas. Há morfemas, fonemas e só. Porém, alguma beleza há de ter nisso...rsrsrs
Abraço fraterno.
Lembrei de Caetano Veloso e Waly Salomao:
"Ó abelha rainha, faz de mim
Um instrumento de teu prazer
Sim, e de tua glória
Pois se é noite de completa escuridão
Provo do favo de teu mel
Cavo a direta claridade do céu
E agarro o sol com a mão
É meio-dia, é meia-noite, é toda hora
Lambe olhos, torce cabelos
Feiticeira vamo-nos embora
É meio-dia, é meia-noite
Faz um zum na testa, na janela
Na fresta da telha
Pela escada, pela porta
Pela estrada toda afora
Ânima de vida
O seio da floresta amor empresta
A praia deserta zumbe na orelha: concha do mar
Ó abelha, boca de mel
Carmim, carnuda, vermelha
Ó abelha rainha, faz de mim
Um instrumento de teu prazer
Sim, e de tua glória"
Não há como escapar da intertextualidade, mesmo que inconsciente. Estamos no mesmo território lexical, envolvidos na mesma teia, e zumbindo na mesma colméia.
Mesmo assim, não me comparo ao genial filho da dona Canô. Salve a Bahia!
Minha intenção é a bolha de gás, o poema-bolha, cheio de ar, o poema inutilidade, pelo simples prazer de poetar. rsrsrs
"Na arte pela arte a vida banha-se de felicidade." (Ortega y Gasset)
E eu escapo do utilitarismo que há em tudo, nessa selva consumista e autodestrutiva.
Viva Deus que pequeno sou eu!
Abç.
Eurico a mãe natureza deve sorrir ao teu poemar, uma beijo amigo e carinhoso.
Carmen, poetamiga,
deve sorrir sim, a mãe-natureza, dessa minha tentativa baldada de produzir mel...rsrsrsrs
Aliás, produzir mel com material não-melífero.
Isso é o que dá trocar a mãe, a original e pura, pela madrasta, mesmo que "boadrasta", que é essa segunda natureza (chardiniana) em que fabricamos poemas, utensílios e essa multidão de quinquilharias inúteis e supérfluas, que julgamos "necessárias" para a existência humana... rrsrs
Abç fra/terno
Eurico, um poema-nectar...
Que tenhamos sempre desse mel!
E sabes, o poema é lindo como colmeia, mas há um verso que me deixou extremamente encantada:
"suas asas, brevíssimas, bilabiais."
O que dizer?
Só me lambuzo...
Abraços de asas!
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