Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

segunda-feira, maio 18, 2009

Momento - Augusto Frederico Schmidt




















(imagem do google)


Desejo de não ser nem herói e nem poeta
Desejo de não ser senão feliz e calmo.
Desejo das volúpias castas e sem sombra
Dos fins de jantar nas casas burguesas.

Desejo manso das moringas de água fresca
Das flores eternas nos vasos verdes.
Desejo dos filhos crescendo vivos e surpreendentes
Desejo de vestidos de linho azul da esposa amada.

Oh! não as tentaculares investidas para o alto
E o tédio das cidades sacrificadas.
Desejo de integração no cotidiano.

Desejo de passar em silêncio, sem brilho
E desaparecer em Deus – com pouco sofrimento
E com a ternura dos que a vida não maltratou.


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"Há dias que não sei o que se passa, eu abro o meu Neruda e apago o sol", dizia Vinícius... os mais engajados vão dizer que isso é resignação, autocomiseração, mas, hoje, entendo bem o que sentia o Poetinha, nesses momentos. Senti, por esses dias, algo assim como descreve o Augusto Frederico Schmidt.

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SCHMIDT, Augusto Frederico. Antologia Poética. Seleção de Waldir Ribeiro do Vale. Introdução de Bernardo Gersen. Rio de Janeiro: Leitura, 1962.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_Frederico_Schmidt

Fonte do texto:
http://jamesemanuel.blogspot.com/2008/01/augusto-frederico-schimidt-3.html

Fonte da midi voice:
Charles50tao.com.br






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8 comentários:

Jacinta Dantas disse...

É isso, Eurico. Por vezes, compartilho desse momento Augustiniano de ser. E ver flores sorrindo, e, sorrir com a água, e, ver Deus face a face, e, só economizar no sofrimento.
Beijo

FERNANDINHA & POEMAS disse...

QUERIDO EURICO, MARAVILHOSO SONETO AMIGO... ABRAÇOS DE CARINHO E TERNURA,
FERNANDINHA

Regina Coeli Carvalho disse...

"Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura"

Boa semana procê!
Carinhoso abraço.

Canto da Boca disse...

Um desses dias em que ficamos "camisolentos" pela casa, escutando o silêncio, e transparentes como um papel manteiga, esperando o momento de nos fazermos um belo desenho outra vez....

Regina Coeli Carvalho disse...

Eurico,
Depois que escrevi fiquei na dúvida se coloquei o nome do autor, Manuel Bandeira, caso tenha colocado desconsidere essa postagem.
Obrigada.
Abraços.

Paula Barros disse...

Entendo você, o Augusto Frederico, e tantos outros.

As vezes só queremos que o ar entre e sai do pulmões sem sentí-lo pesar nas costelas, sem oprimir a alma.

abraços com carinho e fica bem.

dácio jaegger disse...

Cotejar desejos é exercício de primeira mão quando voltadas ao Criador. AbraçAmigo

loba disse...

Às vezes os desejos são mesmo estes! Que bom que temos desejos, né? Eu por mim gostaria é de saber coloca-los num poema qualquer. Nem precisaria ser soneto, viu? rs...
Beijo, poeta!