Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

terça-feira, maio 19, 2009

GEOGRAFIA DO CAMPO SOBERANO - Audálio Alves




Venhas, por onde quer que venhas,
seguindo o mugir dos bois,
encontrarás o Nordeste
- inda Nordeste.
Depois
Recife,
Tabocas, Rio Formoso,
Igarassu, Cabedelo,
Sirinhaém, Porto Calvo
- seus ares calvos ainda:
os ventos de cabeleira
são do Nordeste, os de Olinda.
Aí já então preso aos lugares,
por guia tomes os mares
(não o ar que erra).
Logo,
terra verás
além
bastante acima da terra:
um arraial
construção de ar, conexão de alturas
-visão
do ar batido sob a luz mais pura:
Palmares.
Antes vontade e hoje imaginação
agora campo de bois, de incerto fumo e feijão
e outrora
cercos reais madurando
cereais da liberdade.
Venhas.



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Fonte do poema:
http://www.interpoetica.com/audalio_alves.htm

Audálio Alves
(Advogado, jornalista e poeta)
1930-1999
Advogado, jornalista e poeta, nasceu em Pesqueira, a 02/06/1930. Foi diretor de assuntos culturais da Fundação de Arte de Pernambuco (Fundarpe), assessor jurídico do Ministério do Trabalho e diretor do suplemento literário do Jornal do Commercio, Recife.

Membro da Academia Pernambucana de Letras. Vários livros publicados, entre os quais "Caminhos do Silêncio", "Princípio Áspero de Uma Canção Sem Terra - Canto Agrário", "Canto Soberano", "Canto Por Enquanto". Morreu no Recife a 08/04/1999.

Fonte da microbiografia:

http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_1579.html


Fonte da imagem:
www.panoramio.com/photos/original/18527450.jpg

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13 comentários:

Canto da Boca disse...

...E ainda és generoso conosco, trazendo-nos o Audálio!

FERNANDINHA & POEMAS disse...

QUERIDO EURICO, MARAVILHOSO POEMA!!!
PALAVRAS SUBLIMES AMIGO...
ABRAÇOS DE AMIZADE,
FERNANDINHA

Dauri Batisti disse...

Coisa linda de se ler.
Valeu.

Um abraço.

OLHAR CIDADÃO disse...

Eurico

Muito bonito esse post e a homenagem nele contida.

Vem em boa hora, com o Nordeste sofrendo agora com a enchente, e me parece com uma mobilização muito inferior a de quando ocorreu o memo com Santa Catarina.

Um abraço

Anônimo disse...

Que delícia de imagem e palavras!
Combinação perfeita! Pura poesia!!
Saudades do cheiro de mato!!
BEijos

Max Coutinho disse...

Oi Eurico,

Que foto mais linda, aonde é: aí no Recife?

"Porto Calvo/ - seus ares calvos ainda" - uma brilhante diáfora (Calvo/calvos).

Gostei deste poema que transmite bem o amor que o autor sentia pelo Nordeste.

Um abraço

dácio jaegger disse...

Pois é, que o dito sul maravilha a cada dia mais tecnológico, menos campos e florestas se engalfinha com si mesmo na luta por se humanizar, perdeu! Alento ainda nas terras nordestinas, há que se aproveitar enquanto dela o povo não se locupletar. Eurico, um abraçAmigo.

loba disse...

Nordeste é um dos meus sonhos!!
Não conhecia o poeta. Gostei um tanto de sua poesia!
Beijo, querido!

lula eurico disse...

Loba, o Audálio é um poeta forte, de um estro solene, mas combativo. Esteve nas trincheiras dos que combateram a repressão em todas as suas formas, aqui, acolá e alhures.

Abraçamigo.

lula eurico disse...

Max, apesar de ilustrar um poema nordestino, a imagem é do Parque Eólico de Osório, Rio Grande do Sul.

Abraço fraterno.

Sueli Maia (Mai) disse...

Oi, amigo.

Eu viajei bonito, nas palavras que trouxeste do Audálio. Lindo de ler e ver porque é absolutamente imagética esta poesia.

Mesmo se fosse 'nas asas da Pan Air', os campos nordestinos, poderiam ser vistos ao longe.

Lindo, Eurico, lindo de se ler e sentir.
Saudades,

Mai

Dauri Batisti disse...

Passei por aqui novamente. Tenha um bom dia.

lula eurico disse...

Grato, Mai.

Dauri, seja sempre bem vindo. Ando meio de recesso criativo. A roda viva nos arrasta e...

Abraço nos dois.