ESPINHOS E. B. Brito |
1
(Vodu)
De há muito que vem sendo entretecida
essa urdidura, pespontada em vincos sensíveis,
lembranças, gritos remotos, palavras-farpas.
Sim, existem palavras-farpas,
feito alfinetes acutíssimos,
(injunções, diriam os médicos da alma)
que marcam dentro, desde a mais tenra infância;
2
(Sulcos)
De há muito que entrevejo essas ranhuras,
dolorosas dobraduras, na tênue
película em que se (a)gravam
os danos d'alma.
Existir é como a terra sulcada,
a eira,
que (con)sente,
os rasgos do arado,
resolvendo em adubo, os detritos,
curando a aridez do solo.
Dessa terra lavrada desabrocham grãos.
Fruteiras também brotam do monturo.
3
(Contrição)
Claro que já pensei em amarrar rojões nos rabos dos gatos.
em atirar pedras nos santos,
por vezes, pensei até em morrer de tanta tristeza, sem saber por quê.
Não morri.
Mas, trancado em meu quarto, tinha surtos poéticos.
(Naqueles dias aziagos, lembro de que havia uma capela,
onde se ia recitar um incompreensível Ato de Contrição.
Percebia-se alguma poesia no olhar das catequistas.)
Não morri, tenho quase certeza disso.
E estou quase sempre mentalmente sadio.
Mas quando em surto,
cometo poemas inúteis e sem sentido, como este,
que mais parece uma afiada faca japonesa.
Eurico,
(vincos subliminares e metafóricos,
remexidos por leituras em Giambattista Vico)
Fonte da imagem:
AbARCA
5 comentários:
Vim conhecer o blog, parabéns é excelente e que surto poético admirável.
bjs
surtos como este são rasgos, a palavra afia, a lâmina fia
abraço
Poemas com esses, nunca são nem serão inuteis.
sem sentido pode até ser mas, para alguns!!!
Inuteis é que não são nunca!!!!
Pq são belos!!!!!!
Grato, amigos.
A generosidade é a marca desses comentários.
Esse poema é apenas uma confissão pública...hehehe de um eu-lírico.
Abç
Amigo,
mais uma vez passando por aqui para usufruir dessa coleta de frutos bons que vc nos oferece, sua poesia.
Abraço,
Dauri
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