I
Desci a ponte apressado,
perdi o bonde das cinco.
Volto pávido pra casa.
Mas não perdi a esperança.
II
Sei que os gatunos já espreitam,
na Estreita do Rosário,
Os bêbados
Os operários
que jogam com palitinhos.
Aqui se dorme cedinho.
III
Conheci um motorneiro
cujo nome, Tijolinho,
sempre me cai na cabeça.
Meu pai dizia: não desça,
antes de Tejipió.
Primeira vez, eu, no bonde,
andei só.
IV
O bonde aberto do lado.
Eu fora, dependurado,
com o guarda-chuva na mão.
Eu, de volta.
Eu, cansado.
Eu, eus, múltiplo, multiplicado.
Mil rostos,
mil e um pecados.
V
Eu, do Recife,
eu, do umbigo do mundo.
Eu, tão ambíguo, no mundo.
Vrrrummm! no bonde, um giramundos!
VI
Fui consultar u'a vidente.
Queria ver meu passado.
Meus trilhos. A ubiquidade;
Eu, tríbio.
Eu, sem idade.
VII
Num bonde andei.
Mas brincava sobre uma placa flutuante.
Um bonde é, antes, brincante;
f(l)ui, passageiro,
Eu passei...
Viagem poética, criada a partir de uma viagem real,
que fez o meu pai, Elias Eurico de Melo.
Meu velho, 86 aninhos, me contava seus causos d'infância,
Meu velho, 86 aninhos, me contava seus causos d'infância,
naqueles dias frios do inverno de 2010 em que, juntos, cuidávamos
dos nossos corpos (e almas), alquebrados, mas serenos.
Eu convalescia de um câncer, que superei,
ele, de um Parkinson, que não o pouparia.
Fonte da Imagem:
Bonde de Tejipió
http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1112501
Eu convalescia de um câncer, que superei,
ele, de um Parkinson, que não o pouparia.
Fonte da Imagem:
Bonde de Tejipió
http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1112501
Notas do blogueiro:
1- A reedição dessa postagem é em memória
do Sr.Elias Eurico de Melo (31/08/1924 - 17/10/2011),
meu querido paizinho, que, há um ano, nos deixou saudosos.
2- Poema da série Evocações de um Recife Antigo (ago/2010).
Ao fundo, Taiguara - O Velho e o Novo:
Deixa o velho em paz
Com as suas histórias de um tempo bom
Quanto bem lhe faz
Murmurar memórias num mesmo tom
A sua cantiga, revive a vida
Que já se esvai
Uma velha amiga, outra velha intriga
E um dia a mais
Vão nascendo as rugas
Morrendo as fugas a as ilusões
Tateando as pregas
Se deixa entregue às recordações
Em seu dorso farto
Carrega o fardo de caracol
Mas espera atento
Que o céu cinzento lhe traga o sol
Ele sabe o mundo
O saber profundo de quem se vai
O que não faria
Pudesse um dia voltar atrás
Range o velho barco
Lamento amargo do que não fez
E o futuro espelha
Esse mesmo velho que são vocês
4 comentários:
percorri os caminhos nos versos, as trilhas no coração do poeta e toda a memória a espargir desígnios nesta constelação de palavras,
bela homenagem
abraço
Nobre amigo! Que beleza, que delícia é esse Recife sob a sua escrita. Linda homenagem: ao seu pai, a nossa cidade, e a todos que leem seus versos. Grande abraço.
Quase estive presente ao ler cada linha da história. Saudades também me deu do meu pai, que também contava, em versos, histórias reais.
Abraços,
Muito bom mesmo Tio Emanuel Brito!!!bjjss
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