Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

quinta-feira, dezembro 23, 2010

D'US NA CAATINGA (invernada e conação)






















“Tudo o que existe, existe em Deus, e sem Deus nada pode existir.”
(Proposição XV, da Ética de Spinoza,)




Faz três noites que relampeia...
Ribombam trovões na caatinga.


Estou sem mim.
Vaga pela noite o que eu julgava ser.
Olhos nômades, intumescidos de esperança.
Clarões no horizonte.
A noite rasgada por luzes.
Fluxos coruscantes.


Apalpo-me.
Não tenho em que me tocar.
Sou relâmpagos.
Fui.
Sou ainda.
Isso persevera em mim e em mim se ama.
Sou esse arbusto em chamas.


Quando desabar a chuvarada,
jatos de fogo e água, de ar e terra,
Serei manhã.
Serei saúde.
Serei a vontade de ser que já sou.
Encharcado de D'us, que nem Baruch...







Fonte da imagem:
Raios no sertão

8 comentários:

Unknown disse...

tem um poema em que eu falo da alma encantada de trovoadas, o teu poema é filho desse encantamento ateu, Deus paira em gotas e mistérios


abraço

lula eurico disse...

encantamento e trovoadas, epifanias, mas não descrença em Deus, é uma maneira de saber Deus, a maneira espinosana, irmão Assis...

Abraço cordial.

Paula Barros disse...

Que os relâmpagos iluminem o ser. Que os trovões afastem as nuvens negras. E um novo raiar de dia e de ano venha com a força dos ventos bons.

Felicidades e força e saúde e paz e amor.....para vocês.

beijos e abraços.

carmen silvia presotto disse...

Eurico Querido um Natal repleto de amor, amizade, esperança, e que em 2011 sigamos cruzando os versos a caminho de mais luz sempre.

Um beijo amigo e obrigada por existires em minha vida e seguimos!!!

C@uros@ disse...

F E L I Z

N A T A L

Muita paz, harmonia e felicidade urgente para todos as amigas e amigos de todas as horas. Que Jesus seja o nosso exemplo e o nosso guia em todos os momentos de nossas vidas.


FORTE ABRAÇO


C@UROSA

Jens disse...

Bonita e forte imagem criada pelo poema, camarada Eurico. Encontrar Deus no sertão - arrepiante.
Lembrei do cabloco Joelmir, personagem de Bar D. Juan, um livro antigo de Antonio Callado, que buscava a comunhão com Deus nas noites solitárias do sertão.
Paz e tranquilidade hoje e sempre.
Um abraço.

Unknown disse...

Caro Eurico, quando falo de "encantamento ateu" me refiro as deidades da natureza, o paganismo dos sentidos que faz aflorar deuses e Deus. Quando cantamos essas forças misteriosas, julgo eu, ressuscitamos nossos primórdios pagãos, desvestidos, nus diante de tanto desconhecimento à espera das revelações,


forte abraço

lula eurico disse...

Irmão Assis,
as palavras, ah, as palavras...
Tinhas em mente uma leitura profunda e intensa, uma perfeita leitura do que eu tentava dizer...
Isso mesmo.
Uma forma de "aflorar deuses e Deus"... uma exatidão líquida em tua leitura.

Grato.
E um abraço fraterno.