Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

segunda-feira, junho 22, 2009

Syrinx (flauta interior)




























Súbito, um abraço no Vazio
E a sensação
De que a Vida,
ninfa ligeira, que me escapa sempre,
Não faz nenhum sentido.
Apesar da taxonomia de Lineu,
Dos exercícios meta/físicos matinais,
com Alice no jardim;
E das dietas fáceis da auto-ajuda,
A vida sempre escapa, às margens desse rio.

Abraçar-se ao inesperado bambuzal
E adentrar em Pã.
Em pânico,
Sem pai, nem mãe.
Sem o aconchego de um lugar conceitual.
Sem as respostas prontas para as perguntas
Nossas de cada dia.


Abraçar-se ao bambuzal
despido das noções
Daquele mundo exato (e antinatural).

Quer vir comigo?
pergunta o Medo Imenso.

Agora, as mãos geladas
As patas, trêmulas.
Mais animal que racional.
Vertigem em poço fundo.

Mas, resta-me um flautim.

Aos poucos, ir soprando
o ar, nos dutos d'alma do bambu.
Sentir a náusea ir se tornando
em ária. Arfante, o peito nu.
Ouvir, do bambuzal, sua voz de flauta,
fêmea, dulce, sensual.
E haurir, serenamente,
o eros
da reconfortante vida trivial .

.........................Luiz Eurico de Melo Neto


Img flautista
http://aflautadepa.blogspot.com/

2 comentários:

FERNANDINHA & POEMAS disse...

QUERIDO EURICO, MARAVILHOSO E EMOCIONANTE POEMA AMIGO... ABRAÇO-TE COM CARINHO,
FERNANDINHA

Jens disse...

"Vento espalhado na cachoeira, lua na curzam do bambuzal" e ainda por cima o som de um flautim...
Lógico: "Vertigem em poço fundo".

Um abraço.