Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

quarta-feira, novembro 12, 2008

Lirismo reflexivo: Pessoa (poema de 1931)



























Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.

Fernando Pessoa
1931



Img do gato na rua:
Clique de
Tania Estrompa

Fonte:
http://img.olhares.com/data/big/104/1049298.jpg

2 comentários:

Loba disse...

Poeta, poeta!
Estas suas últimas postagens são um mergulho profundo na existência.
Eu sei, refletir é preciso. Mas pro meu relógio, parente deste do Cassiano Ricardo, cada minuto é mais e mais e mais. E é neste mais que mergulho minha sede de vida, viu? rs...
Beijo queridão!
Ah... obrigada outra vez pelas palavras generosas que me fazem tão feliz!

Ester disse...

Pessoa é inigualável! Desconhecia esse poema, faz refletir mesmo!

Me fez lembrar outra de Ferreira Gullar:

O gato é uma maquininha
que a natureza inventou;
tem pêlo, bigode, unhas
e dentro tem um motor.

Mas um motor diferente
desses que tem nos bonecos
porque o motor do gato
não é um motor elétrico.

É um motor afetivo
que bate em seu coração
por isso faz ron-ron
para mostrar gratidão.

No passado se dizia
que esse ron-ron tão doce
era causa de alegria
pra quem sofria de tosse.

Tudo bobagem, despeito,
calúnias contra o bichinho:
esse ron-ron em seu peito
não é doença - é carinho.

Ferreira Gullar
Poema do livro
"Um Gato Chamado Gatinho"



Bjs e obrigada pela visita, sempre bem vinda!