Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

terça-feira, setembro 05, 2006

EU-LÍRICO, o Nº 1 formato blog

capa do zine colagem




Foi em meados de 1994 que comecei a produzir um zine-collage para divulgar meus textos poéticos.
Era um fanzine literário artesanal, que eu divulgava em uma rede alternativa de poetas que trocavam cartas, numa mão de obra que tomava todo o tempo do mundo. Mas era gratificante aquilo! Depois todos foram migrando pra Internet. Eu então parei a produção no 13º volume. Agora, com este blog, começo por retomar os textos do antigo zine bissexto, entremeados pelos comentários do meu compadre Carlinhos do Amparo, e pelos meus textos ficcionais, ensaios e crônicas.
Tenho dito...estou a dizer.




NOTA:
Bem, pessoal, tudo aqui é experiencia nova pra mim. Vou editando como posso e, ao produzir, vou aprendendo. Abaixo transcrevo o Eu-lírico nº 1, de maio de 1994. Nele eu publiquei o poema Peleja, que teve a felicidade de ser agraciado com um honroso 3º lugar em concurso literário na Bienal do Livro de Pernambuco daquele ano.
A cada exemplar o meu compadre Carlinhos do Amparo, poeta olindense, faz um interessante comentário, que vale por si só, pela espirituosidade e a verve de seu autor. Confiram agora:


“EU-LI-RICO”
Ano 1 – Nº. 1 – maio/94





PELEJA (o poema)

A Carlos Pena Filho



Acender uma fogueira
Sobre os destroços da fúria:
Dizer o dom mais terrível
No tom da mais vil ternura.
Por monossílabos vastos
Cantar o avêsso, a feiúra.

Atravessar a existência,
Esse fado, essa caatinga,
Com a Língua ressecada
E o estio dentro da fala.

Domar a Onça suasssuna
Da Vida graciliana,
Inda que o peito lanhado
Pela palavra, cardeiro;
Pela palavra, essa morte.

Aboiar angustiado,
Rumor de vozes queimando:
Viver é ser renitente,
Acender uma fogueira
Sobre os destroços, os destroços,
(...ai, que légua tão tirana...)
sobre os destroços da fúria.


3º Lugar no Salão Pernambucano de Poesia – Bienal do Livro 1994

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PELEJANDO (o comentário)

por Carlinho do Amparo*


Peleja surgiu de um a idéia aparentemente muito simples:
Fazer um poema vazado em um linguajar regional que anunciasse algo de universal.
Além disso havia um mote.
Um mote perfeito: dois versos de Carlos Pena Filho. Os dois versos que abrem e fecham o poema.
E um cantador com um mote, ninguém segura.
Mas, acautelem-se os leitores que verão Peleja como um texto regionalista.
Há mais:
há um metapoema;
ecos de Existencialismo;
uma brincadeira linguística;
um aboio...
há, enfim, um poema que pensa o humano a partir da realidade mais presente ao poeta.
Aí ele encontra as palavras com que fala o real.
Lembro da história do jovem artista que procurou Tolstoi e lhe indagou: Mestre, o que faço para ser universal?
E o Mestre respondeu: Pinta a tua aldeia!
Peleja diz o universal “com o estio dentro da fala e co’a a Língua ressecada”.
O poeta acende uma fogueira sobre os destroços da fúria!

*Carlinhos do Amparo é poeta, boêmio e intelectual.
Advogado dos lúmpens e das meretrizes da cidadela de Olinda,
patrimonio cultural da humanidade.

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