Uma Epígrafe
"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]
quinta-feira, março 26, 2009
Sonata para o Dr. Alzheimer (2º mov.)
Basta a cada dia o seu mal.
Mt 6:34
Desliza a vida e todo o entorno
Sobre movediças dunas.
As coisas todas estão nômades.
Flores de artifício brotam nos jardins abandonados.
Tulipas desconexas
florescem, amarelas e tardias.
São brancos os corredores do hospital.
Não há mais ciclos,
Nem duração.
Apenas essa agenda de encontros desmarcados.
E os relógios de parede já não anunciam as horas.
Vive-se às apalpadelas e não faz escuro.
Nada faz sentido nesses vislumbres da infância.
Decerto há nuvens nos óculos antigos.
Tudo está antigo e nublado.
Um gato sob a cama, fatalista e atemporal,
Não perceberá pesares, solidão, medo, alegrias.
Aqui se pode dormir definitivamente
E sonhar com as eternas ruínas circulares...
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2 comentários:
Um transbordar de emoções, absurdamente lindo.
Vivo esta fase de espanto...
e assombrações...
Abr.fraterno. Yvy
Oi, amigo querido.
Estamos nós aqui em corredores de hospitais , outra vez...
Dizer-te o quê se esta é a prova mais dura de nossas vidas?
Forças, Eurico. isto é o que te posso 'transfindir'...
Fênix é um mito e uma forma de pensar, também.
Entre as coisas do morrer, renascemos...
Fica bem.
Por vezes não podemos fazer muito.
Mas já fizemos tudo o que podíamos fazer.
Carinho sempre,
Mai
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