Ao fundo, Annie Fischer, interpreta:
1º Movimento (Adagio. Allegro)
Não ajunteis tesouros na terra...
Mt 6:19
Toda memória é argêntea.
Subterrânea.
Nela não há oiro.
Inúteis, pois, os tesouros sem mapa...
De que adianta a filha
E essa multidão?
Agora tudo é ilha.
E todo o esforço é vão.
Um fado inesperado.
Sim, uma velha música distante.
E estar exausto.
Toda memória é argêntea.
Caverna silenciosa e erma.
Inúteis, pois, os movimentos.
Não há mais oiro algum.
***************************
2º Movimento (Andante espressivo)
Basta a cada dia o seu mal.
Mt 6:34
Desliza a vida e todo o entorno
Sobre movediças dunas.
As coisas todas estão nômades.
Flores de artifício brotam nos jardins abandonados.
Tulipas desconexas
florescem, amarelas e tardias.
São brancos os corredores do hospital.
Não há mais ciclos,
Nem duração.
Apenas essa agenda de encontros desmarcados.
E os relógios de parede já não anunciam as horas.
Vive-se às apalpadelas e não faz escuro.
Nada faz sentido nesses vislumbres da infância.
Decerto há nuvens nos óculos antigos.
Tudo está antigo e nublado.
Um gato sob a cama, fatalista e atemporal,
Não perceberá pesares, solidão, medo, alegrias.
Aqui se pode dormir definitivamente
E sonhar com as eternas ruínas circulares...
***************************************
Coda (Finale)
Um cometa passou.
A minha vida...
Espiralada noúre.
Breve lida.
Vivê-la, importa, enquanto dure.
Um comboio passou,
sou o cão que late,
indigna-se, insiste,
e não se abate.
O vale fértil passou.
Sou um camelo que resiste.
Minha alma sucumbe à realidade.
Marteladas de Nietzsche:
Viver consiste em amor fati.
****************************
Poema dedicado à grande amiga Dayse,
acometida precocemente dos males da memória...
Eurico
(transcrição de 4 postagens de 2009)
1º Movimento (Adagio. Allegro)
Não ajunteis tesouros na terra...
Mt 6:19
Toda memória é argêntea.
Subterrânea.
Nela não há oiro.
Inúteis, pois, os tesouros sem mapa...
De que adianta a filha
E essa multidão?
Agora tudo é ilha.
E todo o esforço é vão.
Um fado inesperado.
Sim, uma velha música distante.
E estar exausto.
Toda memória é argêntea.
Caverna silenciosa e erma.
Inúteis, pois, os movimentos.
Não há mais oiro algum.
***************************
2º Movimento (Andante espressivo)
Basta a cada dia o seu mal.
Mt 6:34
Desliza a vida e todo o entorno
Sobre movediças dunas.
As coisas todas estão nômades.
Flores de artifício brotam nos jardins abandonados.
Tulipas desconexas
florescem, amarelas e tardias.
São brancos os corredores do hospital.
Não há mais ciclos,
Nem duração.
Apenas essa agenda de encontros desmarcados.
E os relógios de parede já não anunciam as horas.
Vive-se às apalpadelas e não faz escuro.
Nada faz sentido nesses vislumbres da infância.
Decerto há nuvens nos óculos antigos.
Tudo está antigo e nublado.
Um gato sob a cama, fatalista e atemporal,
Não perceberá pesares, solidão, medo, alegrias.
Aqui se pode dormir definitivamente
E sonhar com as eternas ruínas circulares...
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3º Movimento (Vivacissimamente)
Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância.
(João 10:10)
Apesar de tudo resta a Vida,
com tudo o que é insolvente e provisório
Embora, evanescente e imprecisa, a Vida...
Resta, ainda.
De algum modo, que não mais contente,
Há frestas para sorrisos
E o aceno transcendente.
De que adiantam saberes
e toda a inútil lógica humana?
Os gatos são mais felizes.
Brincam indenes sobre as casas,
Mesmo sem logus.
Mesmo sem asas.
Hoje vestirei a melhor roupa.
E celebrarei o ar que ainda respiro.
Tomarei banho de mar.
A água morna e arrepios pelo corpo.
Que apesar de tudo resta a Vida.
A minha vida.
Realidade única e indevassável.
A Vida!
Baterei as palmas e piscarei os olhos.
Lamberei os meus lábios salubres.
Celebrarei o Sol e a unicidade.
Eu sou!
Allegro ma non troppo,
Eu sou!
Trago um júbilo comigo:
Eu sou!
****************************
Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância.
(João 10:10)
Apesar de tudo resta a Vida,
com tudo o que é insolvente e provisório
Embora, evanescente e imprecisa, a Vida...
Resta, ainda.
De algum modo, que não mais contente,
Há frestas para sorrisos
E o aceno transcendente.
De que adiantam saberes
e toda a inútil lógica humana?
Os gatos são mais felizes.
Brincam indenes sobre as casas,
Mesmo sem logus.
Mesmo sem asas.
Hoje vestirei a melhor roupa.
E celebrarei o ar que ainda respiro.
Tomarei banho de mar.
A água morna e arrepios pelo corpo.
Que apesar de tudo resta a Vida.
A minha vida.
Realidade única e indevassável.
A Vida!
Baterei as palmas e piscarei os olhos.
Lamberei os meus lábios salubres.
Celebrarei o Sol e a unicidade.
Eu sou!
Allegro ma non troppo,
Eu sou!
Trago um júbilo comigo:
Eu sou!
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Coda (Finale)
Um cometa passou.
A minha vida...
Espiralada noúre.
Breve lida.
Vivê-la, importa, enquanto dure.
Um comboio passou,
sou o cão que late,
indigna-se, insiste,
e não se abate.
O vale fértil passou.
Sou um camelo que resiste.
Minha alma sucumbe à realidade.
Marteladas de Nietzsche:
Viver consiste em amor fati.
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Poema dedicado à grande amiga Dayse,
acometida precocemente dos males da memória...
Eurico
(transcrição de 4 postagens de 2009)
4 comentários:
Fortíssimo!
E suavemente alentador...!?
O quê fazer diante das vicissitudes
da Vida?
um abraço
Eurico!
Não consegui ouvir a música. Tentarei mais tarde;
Perfeito! Amei o "CODE"!
Beijos
Mirze
os três movimentos da sonata e uma coda para espargir os abismos da memória: os graus da consciência/o saber-se/o despertencimento
abraço
o homem a memória e o que de ambos remanesce...
nenhum vale é e-ternamente fértil.
abraço!
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