Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

domingo, setembro 18, 2011

O ARQUIVISTA





















O arquivista cofia os bigodes
na incerteza se pode,
na certeza que não pode
forjar aquilo que acode
ao seu instinto de ordem.
E sente na alma, fria,
a estranha melancolia
do anseio da simetria
que faz do caos harmonia.

O arquivista avalia
e seus bigodes cofia:
será a ordem doentia
e a métrica antipoesia?

Em ordem, Olavo escandia
e, pasmem, estrelas ouvia
naquela monotonia
ritmada, mas vazia,
mais parnaso que poesia.

E o arquivista debalde
procura a normalidade
que em seu cérebro havia;
como o herói de Cervantes,
surtado, avista gigantes
entre as estantes esguias...
(Que bela patologia!)



Fonte da imagem:
http://storage.mais.uol.com.br/357613.jpg?ver=1

10 comentários:

Rejane Martins disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Paula Barros disse...

Todo "louco" tem um muito de poesia.
E nas estantes vazias ele prenchia de sonetos, crônicas, poesia e fantasias....


beijo

lula eurico disse...

Rejane, minha generosa amiga-escrita,
eu agradeço por tuas palavras,
frutas da árvore frondosa que é o teu coração.

Força na luta aí em Floripa!

Abraçamigo e fraterno.

zhubenedicty disse...

Eurico, saudades, mande notícias, abs.

lula eurico disse...

Paulinha,
não pude estar com vc e a Mai, naquele sábado. Calhou de haver um Congresso no Centro de Convenções e o Arquivista recebeu convite irrecusável e gratuito...hehehe
Não pude resistir.

Abraçamigo e fraterno.

Rejane Martins disse...

...pois, Eurico, tu não tens noção do prazer que é ler uma nova poesia tua! Comparado aquele livro novo, almejado por anos, comparado aqueles registros antigos, revistos e cuidadosamente guardados,
comparado aquele cheiro de livraria que nos invade as narinas no alívio da asfixia. Eu venho, apenas, a.g.r.a.d.e.c.e.r por todas estas sensibilidades, por estas estantes esguias que tu promoves.
Sinta-se abraçado, nesta manhã de domingo.

Unknown disse...

LINDO, Eurico!

Enfim, aqui a monotonia do arquivista, ganha rimas e glórias.
É um herói. e você um grande poeta!

Beijos

Mirze

Dauri Batisti disse...

É tão interessante este teu jeito de escrever. Tens a filão da cultura e da sensibilidade. Eu nunca saberia fazer assim, nem com muito treino, pois que treino não basta, é preciso ter um saber sensível de muitos caminhos e muitos livros, e muitos pensamentos, e muitos carnavais.

carmen silvia presotto disse...

O arquivista ao guardar o poema revigora o novo verso..

Beijos meu amigo, boa semana.

Carmen.

cirandeira disse...

Eurico, essa mamneira de reordenar
rimas e simetrias beirando as estrelas, tem ocupado demais o arquivista, e já estou sentindo muita falta de um tempo em que ele
aparecia em meu quintal pra tomar um cafezinho! :)

beijos