Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

sábado, setembro 24, 2011

CICLOS

























Tudo fenece no pátio de manobras.

O zinco ferruginoso dos autos abandonados
denuncia um mundo perecível;
Deu em nada o fundo eterno dos gregos
e o ser espinozano ainda persevera em ser.

Mas o orvalho
molha o asfalto
e escorre,
escuro e impune,
pela linha d’água.

Ainda resiste a physis,
em circ’los,
em ciclos.

Todos os raios giram sobre o eixo vazio.

Ísis ressurge,
montando sua bicicleta bela e azul.



Fonte da imagem:
Moça e bicicleta

5 comentários:

Dauri Batisti disse...

Vamos dizendo poemas pelo sabor de dizer, não mais pelo que se diz. Já apontava R. Barthes as afinidades e ligações entre saber e sabor. Vamos saboreando esses 'esses' e seus vizinhos 'cês' e 'zês' de Ísis ressurge montando sua bicicleta bela e azul. Do nada dizer surge a sensação de que propomos outros mundos.

Joelma B. disse...

silencio encantada...tem coisa melhor que o silêncio do êxtase?

beijinho com admiração, Eurico!

Penélope disse...

Sim, muito bem dito que tudo fenece no pátio de manobras.
Há de se fecundar novos sonhos em campos férteis e sem máscaras.
Adorei o poema e a cor da bicicleta de Ìsis é perfeita - AZUL da cor do UNIVERSO.
Abraços

Rejane Martins disse...

Teu poema? Curva plana em concha espiralada na margem líquida.

lula eurico disse...

Sim.
Nada dizer, amigos,
nada pensar, amigas.
Coisas em cinemascope.
Apenas movem-se.

Uns, apressados, dizem disso:
É primavera.