Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

quarta-feira, abril 13, 2011

Syrinx (flauta interior)














Súbito, um abraço
no Vazio

e a sensação
de que a Vida,
me escapa sempre,
e não faz nenhum sentido.

Apesar da taxonomia de Lineu,
dos exercícios (meta)físicos matinais,
com Alice no jardim;
e das dietas fáceis da auto-ajuda,
a Vida sempre escapa,
às margens desse rio.

Abraçar-se ao inesperado bambuzal
e adentrar em Pã.
Em pânico,
sem pai, nem mãe.
Sem o aconchego de um lugar conceitual.
Sem as respostas prontas para as perguntas
nossas de cada dia.

Abraçar-se, enfim, ao bambuzal
despido das noções
daquele mundo exato (e antinatural).

Quer vir comigo?
pergunta o Medo Imenso.

Agora, as mãos geladas.
As patas, trêmulas.
Mais animal que racional.
Vertigem em poço fundo.

Mas..., resta-me um flautim
:
Aos poucos, ir soprando
o ar, nos dutos d'alma de bambu.
Sentir a náusea ir se tornando
em ária. Arfante, o peito nu.
Ouvir, do bambuzal, sua voz de flauta,
fêmea, dulce, sensual.
E haurir, serenamente,
o Eros
dessa reconfortante vida trivial .
.........................

Eurico,
em autoterapia de ar puro, contra a anóxia desses dias.


Img flautista
http://aflautadepa.blogspot.com/









4 comentários:

Rejane Martins disse...

Tuas postagens, Eurico, têm vida!
Elas falam por si, por mi, por dó, por lá e por sol! ...muito sol.

Jens disse...

Poema sofisticado, camarada Eurico. Seja no universo dos seres mitológicos ou no mundo dos homens, o medo e a exigência respostas nos desafiam. Menos mal que há sempre o som de uma flauta fêmea e doce para serenar as aflições do poeta.
***
No mais, paz na terra aos homens de boa vontade.

Um abraço.

Zélia Guardiano disse...

Eurico amigo
Uma vertigem sem fim: essa a impressão que me causaram seus encantadores versos.
Pude ouvir o farfalhar do bambuzal onde me abrigo, sempre que a alma pede paz...
Abraço.

Unknown disse...

SENSACIONAL, Eurico!

Sempre gostei de flautas E essa, é especial. Digamos uma flauta "EU"
"flauta eurótica no meio do bambuzal, que aos poucos solta o ar, mas já arfante.

Uma beleza.

Onde se pode fazer uma autoterapia de ar puro contra a anóxia dos dias?

É bastante recomendável nesse final dos tempos.

Parabéns, mestre!

Beijos

Mirze