Dos muitos livros que herdei de meu avô, um marcou-me a infância e a vida toda. Dele é o interessante diálogo que transcrevo, razão de um de meus mais arraigados vícios, a pesquisa etimológica:
"– E a senhora, que é? Perguntou-lhe.
– Sou a palavra Ogano.
– Ogano? O que quer dizer isso?
– Nem queira saber, menina! Sou uma palavra que já perdeu até a memória da vida passada. Apenas me lembro que vim do latim Hoc Anno, que significa Este Ano. Entrei nesta cidade quando só havia uns começos de rua; os homens desse tempo usavam-me para dizer Este Ano. Depois fui sendo esquecida, e hoje ninguém se lembra de mim. A senhora Bofé é mais feliz; os escrevedores de romances históricos ainda a chamam de longe em longe. Mas a mim ninguém, absolutamente ninguém, me chama. Já sou mais que Arcaísmo; sou simplesmente uma palavra morta... "
..........................................................................................................................................in Emília no País da Gramática, Monteiro Lobato
ODE ETIMOLÓGICA
O arrebol unge de lume o albor de agora,
em um dilúculo crescente,
com ledos rádios iluminescentes.
Eterna antemanhã,
em que a Palavra, alvinitente,
é sempre a Aurora.
Por isso o Sol, renato, faz o dia
e, mesmo astro longevo,
anuncia
a novidade, emb'hora...
Não há palavra antiga,
em verve viva.
A flama é nova,
a cada vez que o fogo faz faúlha.
A fácies desses étimos rebrilha...
num prisma iridescente, evém da hulha;
E exsurge a voz d'outr'hora
em voz de hac hora.
****************
Eurico,
com a cabeça enfiada em um dicionário etimológico...rsrsrs
Fonte da imagem:
Biblioteca de Coimbra
Biblioteca de Coimbra |
Dos muitos livros que herdei de meu avô, um marcou-me a infância e a vida toda. Dele é o interessante diálogo que transcrevo, razão de um de meus mais arraigados vícios, a pesquisa etimológica:
"– E a senhora, que é? Perguntou-lhe.
– Sou a palavra Ogano.
– Ogano? O que quer dizer isso?
– Nem queira saber, menina! Sou uma palavra que já perdeu até a memória da vida passada. Apenas me lembro que vim do latim Hoc Anno, que significa Este Ano. Entrei nesta cidade quando só havia uns começos de rua; os homens desse tempo usavam-me para dizer Este Ano. Depois fui sendo esquecida, e hoje ninguém se lembra de mim. A senhora Bofé é mais feliz; os escrevedores de romances históricos ainda a chamam de longe em longe. Mas a mim ninguém, absolutamente ninguém, me chama. Já sou mais que Arcaísmo; sou simplesmente uma palavra morta... "
..........................................................................................................................................in Emília no País da Gramática, Monteiro Lobato
ODE ETIMOLÓGICA
O arrebol unge de lume o albor de agora,
em um dilúculo crescente,
com ledos rádios iluminescentes.
Eterna antemanhã,
em que a Palavra, alvinitente,
é sempre a Aurora.
Por isso o Sol, renato, faz o dia
e, mesmo astro longevo,
anuncia
a novidade, emb'hora...
Não há palavra antiga,
em verve viva.
A flama é nova,
a cada vez que o fogo faz faúlha.
A fácies desses étimos rebrilha...
num prisma iridescente, evém da hulha;
E exsurge a voz d'outr'hora
em voz de hac hora.
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Eurico,
com a cabeça enfiada em um dicionário etimológico...rsrsrs
Fonte da imagem:
Biblioteca de Coimbra
5 comentários:
Mais palavras, mais jogos,mais sentidos... teu melhor brinquedo! Amei! abs.
Mais palavras, mais jogos,mais sentidos... teu melhor brinquedo! Amei! abs.
Lindas derivações, belíssima ode Eurico. Palavra sempre aurora... Arrebol.
Monteiro Lobato e nossa infância feliz. Beijo
Eurico!
Falando sério!!! Adoro isto. Palavras arcaicas já não mais usadas , adaptadas de outro idioma me fazem delirar.
Minha coleção de Machado de Assis é em português arcaico, além de outros verbetes familiares que D'outr'hora era comum eu usar. Hac hora, já é tão difícil se expressar.
No meu post da mentitra, rolou o maior bate boca. Meu Deus! Há pessoas que não tem meio termo.
AMEI ESTA ODE!
Farei alhures uma Ode anátema!
Beijos
Mirze
debalde remancho entre vocábulos, réstia endrômina me resta, júbilo de versos
abraço
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