Conversão de São Paulo - Caravaggio |
Se o Bom Deus existir
Que me perdoe a incerteza.
Que me perdoe o olhar epidérmico sobre as coisas.
Mesmo sobre aquelas impregnadas de amplidão.
Perdoe-me, Bom Deus,
Não consigo a audição do ultrafânico.
Mal escuto o arrulhar dos arroios
E essas reverberações de seixos lançados n’água.
Tenho de admitir que tateio, apenas tateio,
Entre as alusões da exegese
E as ilusões dos conceitos.
O que serei, então?
Uma elisão, talvez.
Tirante o que me fizeram ser,
Suspeito que sou nada.
Mas, dá-me a impressão de que existes, Bom Deus,
Quando me sinto escondido nas grutas;
Quando estremeço diante da morte,
Essa predadora absurda e voraz.
Nessas horas sobrevoam-me pterodátilos.
De algum modo os percebo.
(Quase que palpo suas garras sinistras)
Que me perdoe a incerteza.
Que me perdoe o olhar epidérmico sobre as coisas.
Mesmo sobre aquelas impregnadas de amplidão.
Perdoe-me, Bom Deus,
Não consigo a audição do ultrafânico.
Mal escuto o arrulhar dos arroios
E essas reverberações de seixos lançados n’água.
Tenho de admitir que tateio, apenas tateio,
Entre as alusões da exegese
E as ilusões dos conceitos.
O que serei, então?
Uma elisão, talvez.
Tirante o que me fizeram ser,
Suspeito que sou nada.
Mas, dá-me a impressão de que existes, Bom Deus,
Quando me sinto escondido nas grutas;
Quando estremeço diante da morte,
Essa predadora absurda e voraz.
Nessas horas sobrevoam-me pterodátilos.
De algum modo os percebo.
(Quase que palpo suas garras sinistras)
É com essa visão que os vejo,
Que te busco, Senhor.
É através desse olho cravado no centro de mim,
(O olho disso que chamo de imaginário),
Que me escapa essa furtiva lágrima,
jamais revelada aos meus contemporâneos.
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Eurico
(sou nada, mas tenho em mim
todos os sonhos do mundo... Fernando Pessoa)
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11 comentários:
Nossa, tirante o que te fizeram ser, você é um grande poeta! Fiz seguidas leituras dele, viajei...Obra de Poeta, mesmo.
Abraços,
eu que ando pastoreando rosa numa manada, fico de soslaio entre as possíveis margens desse rio,
abraço
Lindo. Que nossos olhos imaginários nunca durmam.
Lindo. Que nossos olhos imaginários nunca durmam.
Eurico!
Que rico poema em elementos! Fiquei imaginando se acreditasses em Deus, o saltério seria belíssimo.
Aplausos!
Mirze
Grato e enternecido pelos elogios, que reputo à bondade de todos e todas.
Mas, Mirze, amiga, eu creio no E/terno.
Aqui fala apenas um "eu-lírico", que me permite duvidar...rsrsrs
E a possibilidade de escolher a dúvida é algo que só engrandece o Criador.
Abraço a todos.
Ah, essa é uma reedição das litanias, pois pretendo refazer o caminho da Páscoa do ano passado. Foi um momento dificilimo, que superei, e que agradeço ao E/terno por ainda estar por aqui, trelando...rsrsrs
Mas o que não há é pouca valia nesta ladainha!
Coisa boa são as verdades compartilhadas, mesmo que não acordadas.
...todos à altura da vida possível, como diz Clarice.
Como escolher palavras para elogiar um - entre os poucos que conheço - artífice delas. Brinca, mistura, deleita, emociona. Vida longa a seus e aos nossos olhos.
Eurico! Sempre especial em tudo o que escreves. Leio e releio e há uma amplidão nestes versos e eu quero decifrá-la. Achei muito interessante o que disse: "refazer o caminho da Páscoa do ano passado". Outra páscoa, outro tempo, nova vida. Beijo
Eurico, com teus versos, percorro o etéreo e as incertezas de minha certeza... percorro os porões de meu imaginário, reviso a criança que encontro e sigo a tua lágrima furtiva para desvendar mundos além de mim a outros... que belo poema, intenso!!
Beijos, boa semana.
Carmen.
Dúvidas humanas que a sensibilidade fragiliza e faz procurar forças na essência da nossa existência. Como sempre, perspicaz!! Bom fim de semana! Beijus,
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