Uma Epígrafe
"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]
domingo, setembro 12, 2010
Canção do Amor Menor
a música:
um melodioso barítono
modula graves gorgeios,
numa voz viscosa, ao fundo,
aveludada e espêssa,
feito mel grosso de engenho,
faz contraponto a um trombone...
Nat King Cole?
Armstrong?
Jazz/blues/bolero...
Não, não:
isso é um samba-canção.
Jamelão?
Sim, oiço a voz do Jamelão...
o espelho:
a musa sinuosa e nua,
feito uma enseada, uma baía
de lúbricas reentrâncias,
tão mulher e tão criança...
um gosto de vinho na Língua, na alma
mestiça, menina de grandes lábios,
a Língua, salgada e doce, veneno...
faz-me mais rijo,
qual mouro,
sangue no olho, na pélvis
intumescida, lança em riste,
e prazeroso alarido,
ao invadir a Ibéria.
o clímax:
mas ouve-se um mar bramindo...
e ouve-se um fado.
Amália?
Dulce?
Mariza?
ouvem-se violões,
harpas, solfejos... suspiros.
Meu Deus!
E esse mar bramindo?
Post coitum animal triste?
um sono leve e essa música...
um melodioso trombone,
mergulhos num mar de orgone...
Fonte da imagem
http://luminescencias.blogspot.com/f437010_2.jpg
**********************************************
Assinar:
Postar comentários (Atom)
10 comentários:
Adianto-me em teu favor, compadre:
a canção é menor, posto que é uma canção em tom menor;
e é menor porque para o amor maior (ágape ou fileo)se faria um hino e não uma simples canção;
e ainda menor pq Eros é tido como vulgar, sensual, mesmo que equivocadamente, sendo ele, Eros, a onímoda conexão entre os seres vivos.
menor ainda, pq é um poema mais reichiano (sexual, orgônico) do que erótico rsrsrs
E menor porque foi cometido por um poeta-menor, caro compadre Carlinhos. kkk
Abraço fraterno.
Me tocou com um tom de sensualidade, um tom maior.
Gostei demais!
beijo
Menino, Eurico, isso é um escândalo de tão lindo que é!
Essa mistura de culturas, de sabores e de sentires, essa fricção camoniana de roçares de línguas, da ancestralidade, dos sons e tons da vida; no fado que vem de lá, na bossa que vai de cá e ultrapassam mares e montanhas e etnias.
Soberbo!
Abração!
Ave Maria. Quanta generosidade, amiga.
Obrigado.
Obrigado, mesmo.
Caro Eurico,
Achei-o 'de novo' no blog da Jacinta!
Tudo está mudado por aqui e mais bonito. As palavras com a mesma beleza que sempre me encantou,
Bom ler-te!
Abraços poéticos!
Bondade tua, Ester.
Mas agradeço e fico feliz por te ver por aqui, amiga.
Fui ao teu novo blogue e está belíssimo.
Abraço fraterno.
"A música perfura o céu." - já dizia Charles Baudelaire - mas aqui ela transpassa o mar!
Eurico, parece um encontro de amor em acordes entre terras e gentes; esse gênese que acontece quando a música universal é o verbo e o gorjeio dos pássaros o sopro, fragmentos miscigenados da música do mundo.
Ouvi a voz "feito mel grosso de engenho", e saí para dançar no canavial do teu poema!
Fiquei doce com sotaque mouro, luso, indígena, africano...
Coisa mais linda.
o que eu vou comentar?
Tudo que eu falar vai ser pouco.
Bjs meu amigo querido.
Poeta, querido - maior!
Você é genial! Quanta habilidade em dedilhar palavras - que versos que foram!
Beijo
Postar um comentário