“Brotará como raiz da terra sedenta;
não há n’Ele bom parecer, nem formosura;
desprezado e o último dos homens;
varão de dores, experimentado em quebrantos”.
...................................................(Isaías, 53:2-3)
E se em vez de um fraco ser, senil e esclerótico,
no limiar entre lunático e neurótico,
fosse um Elias, a ressurgir nos trópicos?
Seria apenas isso que se diz: um beato sertanejo, um místico ?
ou um Dom Quixote do sertão, um épico?
Um infeliz Quasímodo matuto, cômico e simiesco?
Ou um Judas redivivo, em purgatório, escorraçado e dantesco?
Mas, quando o contemplava, estendido nessa foto euclydeana,
Lembrou-me um santo, macerado e só:
um Cristo gótico,
Que o Estado homicida trouxe a óbito,
mas que ressurgirá dentro do mito.
Está escrito.
De Dom Sebastião já oiço o grito...
***
(a foto que inspirou o poema foi feita in loco, por Euclydes da Cunha;
o cadáver é do beato Antonio Conselheiro)
Eurico
2008
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Para não perder a oportunidade de falar de amor fraternal,
nessa triste data em que, há exatos 100 anos, sepultamos o escritor Euclydes da Cunha, ele que sonhava com a fraternidade universal, através das idéias do Positivismo, leiamos um fragmento que colhi no google:
Amor, ordem, progresso
"(...)As duas palavras de nossa bandeira, ‘ordem’ e ‘progresso’, são de inspiração positivista. Mas, à semelhança do lema dos inconfidentes, ainda presente nas bandeiras de Minas Gerais e do Acre, não são uma citação fiel ao original.
Com efeito, Augusto Comte resumiu sua doutrina de modo diferente na primeira edição de seu Catecismo positivista: ‘O Amor por princípio, a Ordem por base e o Progresso por fim’. As três palavras, fundamentos de seu sistema filosófico, foram escritas com iniciais maiúsculas.
Mais tarde, o autor deu nova redação ao lema, que ficou assim: ‘O Amor por princípio, e a Ordem por base; o Progresso por fim’.
Hoje lembramos que a omissão do amor no lema inscrito na Bandeira Nacional é sintoma de desordem e atraso. Quem leu Os sertões, de Euclydes da Cunha, sabe que os republicanos não o excluíram apenas da bandeira. A violência segue vitoriosa. Em Canudos alcançou seu apogeu.(...)"
Fonte do texto:
Deonísio da Silva
copyright Jornal do Brasil, 2/08/04
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Pode ser algo de pouca monta, mas o Euclydes, assinava com "y", como se lê na imagem abaixo, e, creio, não se deve mudar o nome desse genial escritor:
Fonte da assinatura:
http://www.releituras.com/edacunha_bio.asp
5 comentários:
Eurico!
Bonita homenagem a Euclydes da Cunha. Boa lembrança.
Palavras na bandeira nacional. Por aqui, muitas vezes, perguntam-me o significado desses termos. Falo então em sonhos: ... se houvesse ordem... Se houvesse progresso... Falo então de amor, de desordem e de caos.
Abraço, com carinho
Eu sinceramente não compreendo qual seria a ameaça da palavra e do amor. Que raio de revolução tão temida que somente à bala se abateria um discurso abatido e derramado em sangue.
Loucura é o que escapa ao poder e ao controle. E há coisas que não aceitam a imposição de controle. A palavra, a arte, o amor não aceitam controle. O poder e o controle escapam porque a arte, a palavra, o amor, são livres no ar...
E o poder também escapa.
ai, pela VONTADE DE PODER, ele se impõe. E vem pela força e causa mortes e isto também é loucura.
E a razão que tenta se sobrepor e negar o que não cabe na razão - a emoção - nega que algo lhe escape e nega-se a sentir e eis que por não conhece-la, negando-se a conhecê-la, não cnsegue dominá-la quando a emoção chega e isto - a emoção - escapa à razão. Isto também é loucura.
Um homem que amava e que tinha na palavra seu poder. E não se controla o outro porque o nosso poder se circunscreve a nós. Este é o nosso governo, nosso eixo razão e emoção. Sobre os demais, o que existe é, apenas a vontade de poder e ai tudo escapa...
E isto é loucura, também.
Amigo, neste texto falas de Euclides da Cunha em canudos e falas da loucura dos homens, das guerras insanas da vontade de poder. E tudo estava fora de lugar, a morte, o des_tino, tudo...
Belíssimo!!!
Abraço da amiga d'infância,
O sonhador Euclydes, que tanto se decepcionou, com a República, da qual foi ativista, quando descobriu o outro Brasil, este, do Nordeste, que aqui subsiste e o do Norte, das fronteiras amazônicas. A postagem não disse tudo o que eu pretendia. Mas, a alusão ao Amor, que poderia estar no nosso lema, foi também uma das decepções do Euclydes.
Pena, que um equívoco machista, acho eu, o levou à morte, não permitindo a conclusão de "Um Paraíso Perdido", obra que iria ser tão grandiosa quanto "Os Sertões", tratando dos litígios na região do Acre.
Lembro-me que li algo escrito pelo nosso Brennand, cujo título é "Diálogos como o Paraíso Perdido", um excelente ensaio, em que, com certeza, ele alude ao livro não publicado do grande Euclydes da Cunha.
Abraço fra/terno
Um Cristo Gótico num beato - um Euclydes da Cunha e um Brasil cego e memoroso.
Rejane,
creio que foi o Sthendal, de O Vermelho e o Negro, quem disse ter apenas 25 leitores. Creio que ele brincava...
Mas eu devo ter muito poucos. E o prazer de quem escreve é ser lido. Como nada tenho publicado, sou um inédito há 4 décadas, prezo cada leitor meu.
Mas você tem sido especialmente esperada. Vc que se embrenha em meus escritos antigos e me provoca, me instiga ao trabalho.
Grato.
Grato por ter voltado.
Mas, venha quando puder.
A casa é tua.
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