Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

domingo, abril 14, 2013

KINO-GLAZ ÁRIDO (ou, meu cine-olho lírico)


















a Dziga Vertov



Pra beber água?
Imita o gado.
É coisa simples:
Basta colar a boca na beira do barreiro
E sorver de vez o líquido quente, assim;
Com os dentes prender
os grãos de areia e
deixar descer pela goela a água tépida
a decantar-se em argila na traquéia.

Se como ratos?
Lagartixas?
Gafanhotos, feito São João Batista?

Por esse sol que me alumia, já comi, sim,
faz tempo...
e, sem ser profeta..

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E essa máquina que filma minha neta,
Assim franzina
(sai, menina!)
brincando nessa terra ressecada,
(sai, Dolores!)
zanzando ainda, comigo pelo mundo, Deus é pai!
Grave um recado pros homens que governam essa terra...
Ah, nojentos!
Insetos no solado da alpercata!
Diga a eles que de fome se morre,
Mas que de fome se mata!
Que as gentes não têm sangue de barata!


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O Eu-lírico mergulha no semi-árido.
(fugindo da zona de conforto;
em que se discutem as aberrações apocalípticas de certo pastor)


Fonte da imagem:
Fatos e Fotos da Caatinga



2 comentários:

Paula Barros disse...

Entrar na zona do semi-árido, é realmente sair da zona de conforto.
E o Eu-lírico vai trazer a dor, a fome, o descaso, a coragem dos que lá vivem, com o olhar de quem ver a verdade e escreve com poesia.
abraço

Unknown disse...

por ser tão árido
a palavra arde
na saliência da saliva




abraço