Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

quarta-feira, abril 10, 2013

A VÁRZEA DE JOAQUIM CARDOZO





Soneto somente
(Joaquim Cardozo)

Nasci na várzea do Capibaribe
De terra escura, de macio turvo,
De luz dourada no horizonte curvo
E onde, a água doce, o massapé proíbe


Sua presença para mim se exibe
No seu ar sereno que inda hoje absorvo,
E nas noites com negridão de corvo,
Antes que ao porto do céu arribe


A lua assim só tenho essa planície...
Pois tudo quanto fiz foi superfície
De inúteis coisas vãs, humanamente.


De glórias e de alturas e de universos
Não tenho o que dizer nestes meus versos:
- Nessa várzea nasci, nasci somente.




Perfil/Bibliografia
Poeta, engenheiro, Joaquim Maria Moreira Cardozo nasceu no Recife, a 26 de janeiro de 1897, filho de um modesto guarda-livros. Na juventude participou das noitadas boemias recifenses, com figuras como o poeta Ascenso Ferreira e outros. Em 1934, foi um dos primeiros engenheiros calculistas da estrada Rio-Petrópolis.
Em 1939, após um giro pela Europa, volta para o Recife; entra em atrito com o então interventor federal em Pernambuco, Agamenon Magalhães, e muda-se para o Rio de Janeiro, onde passa integrar o grupo formado pelos intelectuais Manuel Bandeiras, Pedro Nava, Augusto Meyer, Lúcio Costa e outros.
Durante muitos anos, viveu entre as duas cidades: Rio e Recife. Entrou na literatura por influência de um irmão, que era poeta parnasiano. Publicou, em 1914, charges no Diário de Pernambuco. Seu primeiro poema modernista foi publicado pela imprensa em 1934.
O primeiro livro ("Poemas") foi editado em 1947, quando o poeta completava 50 anos de idade. Depois, vieram os outros livros: "Pequena Antologia Pernambucana" (1948); "Prelúdio e Elegia de Uma Despedida" (1952); "Signo Estrelado" (1960); "O Coronel Macambira" (1963) ; "Trivium" (1964); "Coletânea de Teatro Moderno" (O Capataz de Salema, Antônio Conselheiro e Marechal Boi de Carros, 1965); "De uma Noite de Festa" (1971); "Poesias Completas" (1971); "Os Anjos e os Demônios de Deus" (1973); "O Interior da Matéria" (1976).
Como engenheiro, integrou a equipe de Oscar Niemeyer na construção de Brasília, tendo feito os cálculos das estruturas dos palácios do Planalto e Alvorada e do prédio co Congresso Nacional. Morreu no Recife, a 04 de novembro de 1978. Publicações póstumas: "Um Livro Aceso e Nove Canções Sombrias", Editora Civilização Brasileira/Fundarpe, 1981; "Poemas Selecionados" (1997, organizado por César Leal).
Alguns poemas

Fonte do texto.:
PE-AZ - Joaquim Cardozo


Fonte das imagens:
 Revista Au - Arquitetura
 Carlos Bayma

Um comentário:

Unknown disse...

soneto somente: diria semente
porque deu de florir parentes
entre terras, palavras, gentes



abração