Soneto
somente
(Joaquim Cardozo)
Nasci
na várzea do Capibaribe
De terra escura, de macio turvo,
De luz dourada no horizonte curvo
E onde, a água doce, o massapé proíbe
Sua presença para mim se exibe
No seu ar sereno que inda hoje absorvo,
E nas noites com negridão de corvo,
Antes que ao porto do céu arribe
A lua assim só tenho essa planície...
Pois tudo quanto fiz foi superfície
De inúteis coisas vãs, humanamente.
De glórias e de alturas e de universos
Não tenho o que dizer nestes meus versos:
- Nessa várzea nasci, nasci somente.
De terra escura, de macio turvo,
De luz dourada no horizonte curvo
E onde, a água doce, o massapé proíbe
Sua presença para mim se exibe
No seu ar sereno que inda hoje absorvo,
E nas noites com negridão de corvo,
Antes que ao porto do céu arribe
A lua assim só tenho essa planície...
Pois tudo quanto fiz foi superfície
De inúteis coisas vãs, humanamente.
De glórias e de alturas e de universos
Não tenho o que dizer nestes meus versos:
- Nessa várzea nasci, nasci somente.
Perfil/Bibliografia
Poeta,
engenheiro, Joaquim Maria Moreira Cardozo nasceu no Recife, a 26 de
janeiro de 1897, filho de um modesto guarda-livros. Na juventude
participou das noitadas boemias recifenses, com figuras como o poeta
Ascenso Ferreira e outros. Em 1934, foi um dos primeiros engenheiros
calculistas da estrada Rio-Petrópolis.
Em
1939, após um giro pela Europa, volta para o Recife; entra em atrito
com o então interventor federal em Pernambuco, Agamenon Magalhães,
e muda-se para o Rio de Janeiro, onde passa integrar o grupo formado
pelos intelectuais Manuel Bandeiras, Pedro Nava, Augusto Meyer, Lúcio
Costa e outros.
Durante muitos anos, viveu entre as duas cidades: Rio e Recife. Entrou na literatura por influência de um irmão, que era poeta parnasiano. Publicou, em 1914, charges no Diário de Pernambuco. Seu primeiro poema modernista foi publicado pela imprensa em 1934.
Durante muitos anos, viveu entre as duas cidades: Rio e Recife. Entrou na literatura por influência de um irmão, que era poeta parnasiano. Publicou, em 1914, charges no Diário de Pernambuco. Seu primeiro poema modernista foi publicado pela imprensa em 1934.
O
primeiro livro ("Poemas") foi editado em 1947, quando o
poeta completava 50 anos de idade. Depois, vieram os outros livros:
"Pequena Antologia Pernambucana" (1948); "Prelúdio e
Elegia de Uma Despedida" (1952); "Signo Estrelado"
(1960); "O Coronel Macambira" (1963) ; "Trivium"
(1964); "Coletânea de Teatro Moderno" (O Capataz de
Salema, Antônio Conselheiro e Marechal Boi de Carros, 1965); "De
uma Noite de Festa" (1971); "Poesias Completas"
(1971); "Os Anjos e os Demônios de Deus" (1973); "O
Interior da Matéria" (1976).
Como
engenheiro, integrou a equipe de Oscar Niemeyer na construção de
Brasília, tendo feito os cálculos das estruturas dos palácios do
Planalto e Alvorada e do prédio co Congresso Nacional. Morreu no
Recife, a 04 de novembro de 1978. Publicações póstumas: "Um
Livro Aceso e Nove Canções Sombrias", Editora Civilização
Brasileira/Fundarpe, 1981; "Poemas Selecionados" (1997,
organizado por César Leal).
Um comentário:
soneto somente: diria semente
porque deu de florir parentes
entre terras, palavras, gentes
abração
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