Quando Ela nos alcança, cadavérica e terrível,
De nada adiantam as especulações ontológicas,
A teleologia
ou
a incognoscível redução fenomenológica;
Nada nos salva,
nem mesmo a transubstanciação eucarística.
Ela chega destruindo toda ciência,
toda consciência.
Ela ressoa no cerne mesmo
daquilo que os saciados chamam alma.
Aos poucos Ela invade o núcleo das células,
que se vão devorando umas às outras,
fugindo da inanição.
As sístoles e as diástoles se atropelam.
A Razão fraqueja.
E o Ser começa a delirar na cor azul.
Porém, quando Ela nos alcança,
o sentido profundo da vida se revela,
em imperiosa e urgente concretude,
pois Ela não falseia a realidade.
Ela é a coisa mais pura e verdadeira:
A Fome, quando chega, não ilude.
Fonte da imagem: FOME EM ÁFRICA
Para carpir, (ou penitenciar-se, se preferes): Lacrimosa, de Mozart
ou Chico Buarque - Brejo da Cruz:
5 comentários:
aiii doeu!
quando ela chega indevassável com suas garras de agonia, nada há que se alcance a alforria: a fome azul consome até o céu
abraço
É, Eurico!
Existe a fome dos que nada tem para comer, e a outra fome dos que tudo tem e não podem saciar o organismo.
Lindo!
Beijos, POETA!
Mirze
Nossa! Já conhecia a imagem ganhadoras de um grande prêmio, entretanto seus escritos foram mais chocantes....
Muita paz!
Excelente, Eurico. Bem forte mesmo.
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