Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

sexta-feira, março 09, 2012

JAZZ EM KALDERASH

Imagem Google




















Os povos ágrafos instalam-se na sala
e criam os novos tons da nova fala.
Não mais verbetes, mas, balbucios em torvelinho
pois todo o léxico se esvaiu sobre um desvio...
No vão,
um velho-
mundo desfilia-se.
Nasce a contra/dicção;
Instaura-se uma nova i-lógica.
Cada sentido,
todo o sentido, percebe-se por música,
síncope, calafrio.
Exato agora é o tufão.

Os zíngaros sopram pífaros
e os romanis em circos
inventam novo chão
de lona,
provisório, movediço
e cada passo é falso
é mais um precipício, um início, um indício.

A aurora invade a tela.
É a primavera!
:
beduininhos, crianças gipsy, infantas dançarinas lusas, pivetes roms, childrens sioux, apaches, manuches, romanichéis, curumins tapuias, fulniôs, calons, ciganinhos judeus, negrinhos bantus, bororos, bambinas zíngaras, neo-moicanos, pastorinhas celtas, niñas bailarinas de Córdoba, de Granada, filhos de candangos, caipirinhas das Gerais, matutinhos paus-de-arara, os nordestinos... os meninos palestinos, todos dançando em círculos. É a primavera!

Eterno-ritornelo
eis o renovo,
o drão contra o dragão
o que se insurge e faz
da morta-natureza, a viva,
a que se salva, essa que jazz
e muda e se con/trai,
e vibra em bela língua,
candente, rediviva, aqui, ali, alhures,
essa língua que vlax, que não-vlax
que vive onde se esvai...



Nota do blogueiro:
(reeditado enquanto uivo com Allen Ginsberg)rsrsrs



Spanish Guitar - Flamenco - Al di Meola, Paco de Lucia, John McLaughlin - Jazz Latin Instrumental:



3 comentários:

Misturação - Ana Karla disse...

Olá Eurico.
Passando para me atualizar, ver as novidades do seu blog.
A música deste é especialíssima.
Bom final de semana.
Ana Karla

Unknown disse...

QUE COISA MAIS LINDA, EURICO!

Sempre quis saber desse torvelinho de novas línguas que surgem. Aqui no Rio, na baixada, há uma linguagem própria num entoar musical que desconheço e não consigo imitar.

Absorvi o poema como quem comunga com toda a humanidade. Mas ficou uma questão, será que os intelectuais de carteirinha, se unirão e abrirão as poetas para esse "drão"?

Bárbaro!

Beijos

Mirze

lula eurico disse...

Grato, Mirze.
Bondade tua!

Mas qto aos intelectuais e suas carteirinhas, creio que devem abrir bem os olhos e os ouvidos para o que acontece nas esquinas vivas do mundo.
Ninguém segura a língua e a mentalidade que elas anunciam.
A última flor do Lácio venceu o latim das legiões romanas e está reflorescendo todo dia, em várias partes do planeta.
Basta estar atento para ver, ouvir, sentir... rsrsrs

Abraçamigo.