Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

sábado, abril 17, 2010

Em tempos de crise, releio Pessoa



















QUINTA
D. SEBASTIÃO, REI DE PORTUGAL


Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;

Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.
Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.

Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?


Fernando Pessoa
in Mensagem



fonte do txt:
http://www.insite.com.br/art/pessoa/mensage1.html

fonte da img:

Cadáver de Antonio Conselheiro
(em memória dos soterrados em São Sebastião do Rio de Janeiro)

10 comentários:

Sueli Maia (Mai) disse...

Sempre bom reler...E como vem a calhar...
Poder e Loucura.
beijos, Eurico

Jens disse...

Pois é, Eurico, em tempos sombrios, a palavra dos mestres pode ser um facho de luz. De minha parte, estou acompanhado de Drummond.

Um abraço.

Dauri Batisti disse...

Ja aconselha Italo Calvino a releitura dos clássicos.

Abraço

Jacinta Dantas disse...

Também eu me consolo nas palavras de Pessoa na minha postagem anterior. O grande poeta tem sempre uma palavra.
Que bom vir aqui agora.
Grande abraço e bom final de semana.

lula eurico disse...

A loucura messiânica implícita nos poemas de Mensagem... eu chamaria de esperança crística; essa que, apesar de tudo, tinham os adeptos do Conselheiro. Deserdados de tudo, tinham esperança, mesmo fanática, era uma esperança. Tudo ruia em derredor da monarquia e levas de ex-escravos zanzavam pelos sertões... A Igreja e o Estado não lhes traziam mais resposta e a fome lhes roia o corpo e a mente. A esperança lhes acenava no discurso visionário do Conselheiro. Eles não eram cadáveres adiados, posto que morriam de esperança...
Essa é a minha leitura, em meio à crise que vai solapando as arcaicas estruturas do mundo...
Um mundo que carece de p(r)o(f)etas, amiga, como dizia o pensador Roger Garaudy...

Paula Barros disse...

Uma boa saída para a crise.

abraço

jac rizzo disse...

Gostei do p(r)o(f)etas.
Mas com certeza, precisamos
muito mais de poetas!
E amigo, somos sim, cadáveres adiados,
desde que nascemos. Entrar em contato com Pessoa é, quase sempre, mergulhar num mar profundo, de águas turbulentas e agitadas.
E é nesse alvoroço interior, que ele mostra todo seu amor por tudo e por todos.
É o seu jeito de ser. Sua contradição...
Em tempo de crise, procuramos respostas.
Mas não há respostas.
Só o eterno confrontar da nossa dor.

Abraço, amigo Lírico!

lula eurico disse...

Jac, seja bem-vinda!
Mas como dói pensar assim...
Eu, apesar de todas as vicissitudes, tenho uma Esperança...
Lá no íntimo, guardo uma singela Esperança... rs

jac rizzo disse...

Eurico, se você me permite outro
comentário, gostaria de dizer que
é essa esperança que nos mantém o brilho no olhar e a atenção nessa viagem estranha.

Nossa aflição é existencial e, por isso, permanente. Mas o mistério desse 'existir', que nos parece tantas vezes sem sentido, é que é
fascinante.

Começo a gostar desse lugar...o seu blog...

lula eurico disse...

Jac, amiga, vc é generosa com meu humilde espaço. Tenho sorte de conhecer aqui, pessoas como vc. Se não fosse a blogosfera eu teria os meus textos jogados em uma gaveta qualquer...
Aqui tenho com quem dialogar. E olhe que esse aí acima são merecedores de uma visita. Mai, Dauri, Jens, Jacinta e Paula Barros são gente fina e inteligente. Se puder, visite-os.
São todos bons para uma prosa...
Ah, tenho de te revelar que o meu compadre Carlinhos é o meu amigo invisível. Qdo morei em Olinda criei esse pseudônimo, um "quase heterônimo". Mas o Sítio tá meio abandonado. Lá é o meu espaço para prosa, como o Cultura Solidária é o lugar em que "interfiro na pólis", ou seja, apresento idéias, como as do ecossocialismo.

Tomara que façamos uma bela amizade virtual. Pelo que li no teu blogue, tua poesia é pura arte literária.

Abraçamigo e fra/terno.