Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

sábado, outubro 21, 2006

Minhas quixotices


ou Meditação Quixotesca n.º 1



Cá do meu cantinho de escrevinhador, vou excretando, isso mesmo, ex-cre-tan-do, esses inúteis miasmas literários (ia dizer, filosóficos) sobre vários temas.
Ora me debruço sobre a impressão que tive essa semana, quando visitei a UFRPE, em tratativas sobre uma possível exposição de poemas do meu livro, ainda inédito, Ser tão profundo, no Memorial daquela universidade.
Bem, sou arquivista, essa é a minha função pública atual. Já fiz várias outras coisas, é bem verdade. Mas é com os olhos do arquivista que me posiciono aqui, ao perceber que, em todas as instituições de ensino, existe sempre, ou quase sempre, um belo prédio para suas bibliotecas, enquanto há um certo descaso, aliado ao total desconhecimento da comunidade de alunos e docentes, para com os setores que abrigam a documentação primária: os Arquivos.

Me ocorre então a idéia de que há certa atitude parricida, ou matricida, nesse descaso para com os arquivos. Isso advém da idéia de que a maioria dos livros são documentos secundários que nasceram de alguma forma de uma documentação arquivística. Ou seja, de certo modo são filhos, crias, rebentos da documentação primária. Recorro aqui aos exemplos dos livros de história, direito, etc. Mesmo os livros de ciências exatas devem ter, creio eu, origem em alguma experiência que foi reduzida a documento escrito, onde se estribam e fundamentam. Então, sem querer remeter a Freud ou Lacan, deixo essa minha indagação: por que se matam os arquivos? Por que se costuma chamar a documentação arquivada de arquivo-morto? Seria a matança edipiana dos ancestrais? (risos)

Sempre tenho a sensação quixotesca de estar arremetendo contra moinhos de vento, como o fidalgo de la Mancha, ou de estar clamando no deserto, como São João Batista.
Mas é preciso alertar aos mais jovens, aos estudantes da UFRPE, no caso em questão, aqueles que frequentam seu Memorial, da importância de iniciarmos uma tomada de posição, uma luta mesmo, pela valorização da história da própria universidade, sucateada em algum lugar incerto e não sabido do campus, em algum arquivo moribundo e fétido, quem sabe numa papelada jogada na umidade de algum porão escondido.
Onde estão os documentos que registram a história da UFRPE?
Essa é a questão que deixo à comunidade de usuários do Memorial dessa importante universidade, e, em especial, aos seus estudantes de História.


Eurico – outubro - 2006
Aos Amigos da UFRPE

P. S. :
Que tal fundarmos uma Associação dos Amigos do Memorial?

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