Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

segunda-feira, novembro 28, 2011

AVES HERMÉTICAS (da leitura dos motes e das coisas)



Essas palavras apenas vozeiam,
distraídos bandos sintáticos,
por pura obediência
às leis do ritmo e da contigüidade.
Nada pretendem dizer além do vôo.
Não fazem metáfora, nem mistério.
Vozeiam, simplesmente.

Mas eu as persigo
como um gavião faminto
persegue a sua presa
para renovar a (minha) vida...

Inútil,
esse (meu) desesperado afã de compreensão:
Herméticos, (as coisas, os motes),
milhanos, num vórtice,
devoram-me...



Fonte da imagem:
Aves atacam predador


Sounds of Nature - Forest Piano:

6 comentários:

Unknown disse...

Que voo de pensamento!

Lindo, Eurico!

"O êxito está em ter êxito".

E q que atualmente é êxito?

Difícil, não é?

Beijos

Mirze

Unknown disse...

Belíssimo!

Um dos meus desejos é ver um predador sendo atacado.

Imagem e poema de tirar o fôlego!

Beijos

Mirze

Unknown disse...

Eurico!

Desculpe incomodar, mas "herméticas vem de Hermes"

Dr Google não quis me dizer.

Beijos

Mirze

Rejane Martins disse...

Palavras vozeiam, clamam pios, sensibilizam, bradam pradarias celestes, pairam.
Nada pretendem dizer e nada dizem, apenas agigantam-se em beleza.

lula eurico disse...

Mirze, querida amiga,
a Palavra atravessa a história e vai camaleonicamente se adaptando aos tempos. Umas até se insurgem contra seu sentido original. Mas a resposta é sim e não. Se falamos do Hermes - Mercúrio, que aos gregos aparecia com asinhas nos pés e daí serm uma espécie de carteiro a jato, hehehe, não, pois essa idéia se opõe ao que é secreto, fechado, sentido a que nos induz o eu-enunciador-do-poema; mas se nos referimos ao Hermes Trismegisto, nome mais usado pelos alquimistas, deus dos códigos escritos, pode ser...
E digo, pode ser, pois um poema que se quer poema, ou seja, um artefato verbal, uma "máquina de gerar interpretações" (Eco), um poema, eu dizia, deve alargar o limite do "sentido", ou, dos sentidos, sejam físicos, etimológicos, oníricos, etc.
Enfim...

Só tentei responder pq é pra vc, amiga. Pq sei que exploras meus poemas com olhos curiosos, olhos mirzeanos, eu diria...
Em verdade, não deveria um poeta explicar as coisas de um poema. O poema é, ele mesmo, responsável pelo que diz. rsrsrs Mas essa regra é para os grandes poetas. Eu como sou um pequenino aprendiz de poeta, tentei explicar.

Abç fra/terno.

Unknown disse...

essas palavras se alçam em ímpetos de elevação, são nuvens de excelsa raiz



abraço